Entrevista: Capicua fala de seu novo disco, “Um Gelado Antes do Fim do Mundo”, lutas, preocupações e vivências

"Desde que comecei a fazer música as coisas não só não melhoraram como estão especialmente em cima da mesa pelo recrudescimento de reacionários que querem retroceder conquistas", diz Capicua

Mai 12, 2025 - 05:12
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Entrevista: Capicua fala de seu novo disco, “Um Gelado Antes do Fim do Mundo”, lutas, preocupações e vivências

entrevista por Pedro Salgado, especial de Lisboa

Um disco novo de Capicua é sempre um momento importante no cenário musical português e um motivo mais do que suficiente para uma conversa com a artista, que decorreu via celular a partir da cidade do Porto. “Um Gelado Antes do Fim do Mundo” (2025) sucede ao álbum “Madrepérola” (2020), que era um trabalho soalheiro e marcado pela maternidade de Ana Matos Fernandes (Capicua). Até ao momento de edificar o novo disco, a rapper portuense fez ainda um segundo álbum do projeto de música para Crianças “Mão Verde” (2022) com os músicos Pedro Geraldes, Francisca Cortesão e António Serginho, escreveu um disco para a fadista Aldina Duarte (“Metade-Metade”, de 2024) e assinou uma versão de Sérgio Godinho (“Que Força É Essa Amiga”). No novo trabalho, Capicua aborda questões atuais e pertinentes como as alterações climáticas, o crescimento da extrema-direita, o impacto das redes sociais na saúde mental das pessoas ou a descaracterização das cidades por via do fluxo turístico. Embora o álbum tenha um cunho político e social bastante vincado, propõe igualmente uma pausa no meio do cenário caótico presente e cultiva também a esperança nas possibilidades futuras da humanidade.

O single “Making Teenage Ana Proud” é um dos momentos de grande combatividade do disco, no qual a rapper promete continuar a “cuspir fogo” até ser “velha e feiticeira como Rita Lee”. Para Capicua, a faixa reflete sua irreverência, suas lutas de sempre e o ensinamento da artista brasileira: “Esta música é um lema de vida no sentido de honrar a adolescente que fui e me trouxe até aqui. Estou a falar do seu inconformismo, da sua insubmissão, das suas causas e interesses como o hip-hop, feminismo e ecologia. É uma canção que também se volta para a frente e para o envelhecimento. O sentido é manter esse espírito insubmisso que Rita Lee conservou e a lição que ela deu ao dizer que é preciso envelhecer como uma feiticeira usando o tempo a nosso favor e não lutando contra ele. Acredito bastante nisso. Por isso, a música traduz o lema da adolescente orgulhosa e também procura fazer do tempo um aliado e, desejavelmente, envelhecer como Rita Lee”.

Um Gelado Antes do Fim do Mundo”, lançado a 21 de março, contou com a produção de Luís Montenegro e alterna músicas mais aguerridas (“Brava”, “Chiaroscuro”) com faixas relaxantes como “Morbidez” ou “Apartamento”, sem esquecer momentos em que Capicua estabelece ligações inteligentes em face de fenômenos emergentes patentes em “Souvenir” e “Danúbio”. Há igualmente um aprofundamento sonoro no trabalho, flertando com diversos estilos musicais, que é intercalado por interlúdios poéticos e uma aposta na palavra dita. A rapper justifica esse enfoque por razões criativas, mas não só. “O conceito deste disco está muito ligado à força poética das palavras que eu queria honrar e também resulta da vontade de transitar entre registros vocais para diversificar as possibilidades da minha poesia em música, Por isso, vem muito dessa escolha criativa e conceitual, mas igualmente da constatação de que no meu trabalho eu já declamava poemas em espetáculos e sessões de declamação. No projeto musical para crianças “Mão Verde” cantarolei e na versão de “Que Força É Essa Amiga” (de Sérgio Godinho) também o fiz, mas isso não era comum nos meus álbuns. Então, pensei que se calhar deveria resgatar essas versões de mim e outras oportunidades de registo vocal para diversificar os caminhos possíveis que eu queria explorar num disco novo”, explica.

Sobre os convidados do álbum, o cantor e compositor angolano Toty Sa’med, a fadista Gisela João (que já tinha participado no álbum “Sereia Louca”, de 2014) e o grupo feminino Sopa de Pedra, Capicua destaca o valor dos artistas e a forma de consumar as músicas pelas direções que elas lhe sugerem e pedem: “É sempre a canção que me indica qual é a voz que se enquadra melhor na faixa e é a razão certa para colaborar com alguém. No caso da Gisela João, voltou a fazer sentido que ela colaborasse neste disco, porque o refrão que escrevi para “Danúbio” precisava daquela voz grave dela e que parece vir das entranhas da terra. A música “Souvenir” necessitava da força do coletivo das Sopa de Pedra, um grupo de mulheres que são minhas conterrâneas. A canção fala da cidade e da sua memória, mas possui ao mesmo tempo uma dimensão fantasmagórica e eu queria algo que fosse simultaneamente um coro de fantasmas e de manifestação. Relativamente ao Toty Sa’med, quando escrevi o refrão de “Ao Acaso” aquilo soou na minha cabeça com a voz dele. Senti que só o Toty ia consumar o que eu tinha pensado. Trata-se da urgência artística de materializar uma visão e nestas três colaborações a minha visão cumpriu-se sempre e superou-se. Eles são músicos supertalentosos e trouxeram bastante mais do que eu tinha imaginado. Estou muito grata a todos por terem participado”.

Capicua apresentou o seu novo trabalho em dois shows em março. O primeiro no Teatro Tivoli BBVA, em Lisboa, e o segundo na Casa da Música, no Porto. No concerto lisboeta, a rapper mostrou uma energia inesgotável e eficácia nas rimas, estabelecendo momentos especiais de partilha com o público. Um dos segmentos memoráveis do espetáculo veio na sequência da dançável “Madrepérola” e do punk panfletário “Brava”, que interpretou com combatividade e megafone na mão para delírio da assistência. A artista sublinha o caráter único do show e a magnifica adesão das pessoas: “Esse concerto foi muito específico, porque realizou-se na véspera do lançamento do disco e a maioria da audiência estava a ouvir as novas músicas pela primeira vez. O público estava bastante atento e a escutar tudo como a querer logo absorver as canções. E, obviamente, quando cheguei à ‘Madrepérola’ pensei: ‘Esta é conhecida e vou tentar galvanizar as pessoas porque é uma música que tem o poder de pôr a assistência a dançar’. Quando entro com ‘Brava’, que era totalmente desconhecida, tive de manter o nível de energia alto por se tratar de uma faixa mais punk, feminista e Riot Grrrl. A reação do público foi mesmo incrível e agora tenho percebido pelo feedback das pessoas que é das músicas favoritas do álbum. Fico muito feliz porque o exercício da ‘Brava’ era fazer uma canção que fosse spoken word, mas aguerrida como se fosse um comício em forma de canção punk”.

É conhecido o gosto da artista portuense pela música brasileira e o álbum “Madrepérola” (2020) foi um dos trabalhos em que apostou mais no cruzamento do oceano, incluindo uma música com Emicida, Rael e Rincon Sapiência (“Mátria”), uma faixa com Karol Conká (“Madrepérola”) e outra canção com Mallu Magalhães (“Planetário). Sobre a atualidade, a rapper mantém o interesse em novas parcerias e menciona algumas referências: “Há imensas pessoas que me inspiram na música brasileira e com quem gostaria muito de trabalhar. Estive a ver um concerto dos Gilsons num dos festivais em que participei no verão passado e gostei bastante. Mas, existem vários artistas que têm feito um trabalho incrível e com os quais me agradaria fazer uma parceria, um desses nomes é a Céu de quem sou muito fã”.

Ao longo da sua carreira, Capicua tem sido uma incansável defensora dos direitos das mulheres e faixas como “Maria Capaz” ou mais recentemente “Que Força É Essa Amiga” são apenas algumas das provas desse desígnio. Quando a questiono até onde pretende levar o seu feminismo como artista, Capicua destaca a longevidade com que tem abraçado a causa e as ameaças a essas conquistas que a motivam a continuar a sua luta. “É um tema que me mobiliza desde o princípio da adolescência. A música que faço transparece as minhas preocupações, causas, vivências e lutas. Portanto, é tudo bastante intuitivo e natural. Mas, desejavelmente, gostava de não ter de falar destes assuntos, num mundo ideal onde as questões de gênero não estivessem na ordem do dia. Desde que comecei a fazer música as coisas não só não melhoraram como estão especialmente em cima da mesa pelo recrudescimento de forças reacionárias que querem fazer retroceder muitas das conquistas que demoraram décadas a restabelecer. Não só nos falta conquistar imenso, como o que conquistamos está em risco. Por isso, como diz o Jorge Palma: ‘Enquanto houver estrada para andar a gente vai continuar’. Sempre que for uma questão que me preocupe e mobilize do ponto de vista cívico, e como ser humano consciente da realidade em redor, continuarei a falar desses assuntos e de tópicos que me têm marcado como as questões climáticas, a liberdade e a democracia”, conclui.

Da cidade do Porto para o Brasil, Capicua conversou com o Scream & Yell. Confira:

“Um Gelado Antes do Fim do Mundo” é o seu primeiro álbum de originais desde “Madrepérola” (2020), que era um disco mais ligado à maternidade. Nele, você aborda temas que lhe são gratos como os direitos das mulheres, a ecologia e os malefícios das redes sociais, mas também versa sobre o amor, a liberdade e os extremismos políticos. Quais foram os objetivos musicais e temáticos que tinha em mente e que concretizou neste trabalho?
Este trabalho fala sobre o nosso tempo e aborda os grandes desafios que temos em mãos e nas suas temáticas transparece um pouco o espírito da época. Mas, ao mesmo tempo, faz esse exercício de resgatar um olhar poético e de encantamento em relação ao mundo, quase que propondo um intervalo no meio do caos. É uma espécie de pausa nesta sensação de fim do mundo para exercer a contemplação, limpar as lentes com que olhamos o mundo e renovar os votos com a esperança. Nesse sentido, é um disco que tem uma dimensão política e social bastante óbvia, mas também pretende cultivar a esperança nas possibilidades do futuro e de utopias novas. Em relação ao álbum anterior, é um trabalho bastante diferente, porque o “Madrepérola” (2020) foi escrito, gravado e lançado durante uma gravidez e um pós-parto. Era um disco mais solar e foi criado a partir de uma tentativa de criar uma coisa que eu não tinha tanta facilidade, que é aquilo que os brasileiros fazem muito bem, de trabalhar o jeitinho alegre de ser triste. Passava por pegar em temas sérios e abordá-los pelo lado irônico, incluindo uma base instrumental mais dançável, de uma forma menos séria e ainda assim com conteúdo crítico e engajado nas questões sociais e políticas. No meu novo álbum, o desígnio é outro e está muito mais ligado à força poética da palavra, com muitas declamações, palavras ditas e poemas que fazem a ligação entre as canções e são uma espécie de espinha dorsal do disco. Tentei viajar um bocadinho dentro do registro do rap, da palavra dita e da palavra cantada e, por esse motivo, esteticamente já é diferente. Do ponto de vista temático, o álbum tem um espírito crítico e fala muito sobre os desafios do nosso tempo. Mas, como é muito centrado na força poética, e no resgate do olhar poético sobre a realidade, desenvolve um exercício de sublimação e de utilizar a palavra como uma forma de fazer pensar e cultivar a esperança. É um trabalho simultaneamente crítico e voltado para a construção do futuro.

Porque deu ao álbum o título de “Um Gelado Antes do Fim do Mundo”?
É uma frase que andava a pairar há bastante tempo. Aliás, já a tinha sugerido para uma exposição de ilustração que aconteceu na Ó! Galeria, no Porto, há dois ou três anos. Eles pediram-me um mote para a exposição e eu dei essa frase, porque sinto que estamos num momento em que há uma sensação de fim do mundo e em que temos a oportunidade de fazer uma pausa no meio do caos. Quase como parássemos esta voragem ansiosa em que vivemos não para comermos um gelado no sentido literal, mas para nos permitirmos um momento de contemplação e de desfrute, como estar sentado num jardim, na praia ou na beira do passeio a olhar em redor exercendo o prazer de contemplar, simplesmente. Eu resolvi pegar nessa frase e escolhê-la para o título deste disco porque senti que o álbum tem um grande guarda-chuva temático, que está ligado ao exercício da poesia e da força poética das palavras, e esse título era muito mais fiel a tudo o que o trabalho contém do que pegar simplesmente no título de uma canção e transformá-lo numa etiqueta.

“Souvenir” é uma marcha lenta que narra “os fantasmas da cidade sem memória” e “Danúbio” cruza o rap e o fado apontando que “Não há quem não sinta um cheiro a anos 30”. O que procurou transmitir com estas faixas?
A faixa “Souvenir” aborda a descaracterização das nossas cidades e a minha cidade em particular (Porto), mas também de muitas cidades portuguesas a partir da pressão do turismo e da transformação das cidades numa espécie de parque temático ou cenário para turistas e não uma cidade vivida. Isto acontece devido ao aumento do preço da habitação, da grande especulação imobiliária e da substituição das lojas de comércio tradicional e histórico por grandes cadeias. Por isso, a cidade vai-se esvaziando de relações, pessoas, memórias e rotinas passando a ser só um espaço de fruição turística. A música “Danúbio” fala sobre o crescimento da extrema-direita e parte de uma notícia de jornal que eu li há dois ou três meses atrás em que houve uma grande seca no centro da Europa, por causa das alterações climáticas, e as águas do rio Danúbio baixaram tanto que vieram à tona as carcaças dos navios nazis, propositadamente afundados durante a Segunda Guerra Mundial, para tornar o rio inavegável, e as carcaças não podem ser retiradas porque estão cheias de explosivos. Eu achei que era a metáfora perfeita para o que estamos a viver, porque a partir de um tempo de escassez, crises, conflitos e alterações climáticas os velhos fantasmas vêm à tona com uma ameaça eminente, mantendo a pólvora e a dinamite e prontos a cumprir a ordem a qualquer momento. Sinto que estamos a viver a fase do recrudescimento da extrema-direita, há uma sensação de que a história se repete e um cheiro a anos 30 no ar. A canção fala sobre isso e também alude à sensação de que estamos a ver as coisas a acontecer e damo-las como inevitáveis em vez de reagirmos a tempo de as evitar.

“Um Gelado Antes do Fim do Mundo” apresenta também uma toada relaxante, melódica e envolvente em algumas faixas, como “Morbidez” ou “Apartamento”. Qual foi o caminho que levou a esta tendência do seu trabalho?
Passou por mudar o processo criativo. Neste álbum eu trabalhei mais com o Luís Montenegro (produtor do disco e músico que acompanha Capicua nos shows há bastante tempo), mas com quem nunca tinha colaborado na parte da composição dos discos de forma tão profunda. Ele foi fundamental, porque além de dominar a linguagem da música eletrônica, com que estou habituada a trabalhar, domina também outros instrumentos, a parte da composição a partir da guitarra ou do piano, o design de som e todo um conjunto de ferramentas que me permitiram mudar o processo criativo. Era algo que eu queria para fluir entre o registro da voz cantada, falada e rappada e construir as canções a partir das minhas ideias melódicas e dos meus poemas, pegar num ‘beat’ e desconstruí-lo e ter mais instrumentos orgânicos. Portanto, o Luís permitiu que esse caminho de experimentação mais lúdico, intuitivo, musical e orgânico se desenvolvesse, possibilitando que eu exercitasse a minha voz em registros diferentes e alcançasse outros resultados musicais. Por isso, flertei com diversos estilos de música, cadências, sonoridades e recursos sonoros que não são tão habituais no meu trabalho anterior. No sentido em que esse discos foram mais fiéis ao método de construção de um álbum de hip-hop ou no que é tradicional nesse segmento para criar um tema que parta de um instrumental feito com loops e samples, etc.

Como avalia o atual momento do rap feminino português? Quem se destaca?
Acho que vivemos um momento de aparecimento de miúdas (garotas) muito interessantes. A minha preocupação é se vai ser possível uma profissionalização dessas artistas. Eu espero que isso aconteça, porque o que tem sucedido nas últimas décadas é que alguns desses valores acabam por não conseguir estabelecer carreiras mais longas, porque não se chegam a profissionalizar. Nesse sentido, tenho esperança que as coisas mudem e que haja a possibilidade de solidificação de carreiras. Estamos mesmo a precisar de mais mulheres a fazer música a longo prazo e no segmento do rap também. Quanto a destaques, lembro que recentemente saiu o disco da Chong Kwong (“Dinastia”) que é muito fixe (legal), uma das nossas melhores rappers é a Eva RapDiva (nome artístico de Eva Cruzeiro), que é candidata a deputada pelo Partido Socialista nas próximas eleições legislativas, a Nenny está a fazer uma carreira superinteressante (acabou de participar no “Coisas Naturais”, o último disco da Marina Sena, que é uma grande estrela da música brasileira), bem como a Cíntia e a Máry M. Existem muitas artistas a aparecer com as suas primeiras canções e cito ainda a Blaya que vem do rap, mas já passou pelos Buraka Som Sistema e apresentou agora um disco mais acústico. Temos também bons valores como a Mynda Guevara, entre outras, que fazem rap em Portugal, mas em crioulo. Há imensas coisas interessantes, não me lembro de todas e não vale a pena estar aqui a elencar. No fundo, dão sinais de que a nossa música tem uma grande vitalidade e o rap em particular tem mais espaço para as mulheres. É preciso consolidar estes valores a longo prazo para que não seja só uma leva que depois desaparece e não cria oportunidades de trabalho e profissionalização.

Gostaria de deixar uma mensagem para os leitores do Scream & Yell?
Eu gostaria de convidar toda a gente a ouvir o meu disco novo, “Um Gelado Antes do Fim do Mundo”, e solicitar aos promotores de festivais do Brasil para que convidem cada vez mais bandas e artistas portugueses para atuar, porque felizmente temos tido um acréscimo de festivais brasileiros cá em Portugal como o Coala e o MIMO com muitos músicos brasileiros em cartaz. Seria bastante positivo se o contrário também acontecesse, ou seja, festivais portugueses a realizarem-se no Brasil, com artistas portugueses, mas também festivais brasileiros que apostassem em trazer a nova música de Portugal para os palcos brasileiros. Seria uma troca superinteressante e da mesma forma que os portugueses recebem muito bem a música do Brasil tenho a certeza de que se os brasileiros tivessem mais contato com a música que se faz aqui, mais parcerias e público existiriam dos dois lados do oceano Atlântico.

– Pedro Salgado (siga @woorman) é jornalista, reside em Lisboa e colabora com o Scream & Yell desde 2010 contando novidades da música de Portugal. Veja outras entrevistas de Pedro Salgado aqui. A foto que abre o texto é de André Tentugal