Mitsu? Talvez o melhor japonês de Lisboa
O espaço é pequeno e está perfeito assim, ou não tivesse um balcão com 14 lugares onde vamos acompanhando o “bailado” do chef entre facas e peixes, mais duas mesas com dois lugares apenas. Intimista, portanto.


M.ª João Vieira Pinto
Abriu há poucas semanas, em Lisboa, aquele que – arrisco dizer – poderá muito bem ser já o melhor japonês da capital. Japonês, dos puros. Esqueça os rolos com frutas e queijo creme. Nada disso. O que se serve no Mitsu é frescura, é sabor, é sofisticação, pratos refinados e de intensa sensibilidade.
O Mitsu, como digo, abriu há pouco mais de três semanas. Mas não se pense, por isso, que o que por ali se faz é de amadores. Pelo contrário.
O espaço é pequeno e está perfeito assim, ou não tivesse um balcão com 14 lugares onde vamos acompanhando o “bailado” do chef entre facas e peixes, mais duas mesas com dois lugares apenas. Intimista, portanto.
Depois, vem o chef: Shinya Koike. Não conhece? Então não se esqueça de fixar o nome. Shin tem 68 anos, e diz que desde os 17 começou a trabalhar técnicas e aprender com o melhor: o pai. Natural de Tóquio, onde desenvolveu e apurou o gosto, durante quase três décadas definiu conceitos e serviu pequenas “pérolas” por São Paulo onde teve o seu Aizomê e pelo Rio de Janeiro. Agora, por Portugal, diz-se feliz com a qualidade e frescura do peixe e isso percebe-se bem na, lá está, felicidade com que apresenta os seus pratos. Mas já lá vamos.
O nome “MITSU” ( み つ )? Em japonês evoca os significados de “sabor” e “doçura”, o que representa bem a alma do espaço, numa fusão entre tradição, elegância e criatividade gastronómica.
Quanto ao conceito, esse inspira-se no Omakase, que em japonês significa “deixar nas mãos do chef”. E é precisamente o melhor do mundo que por ali se pode ter. Chegar, sentar e seguir viagem ao ritmo de sabores dos ingredientes frescos que Shin trabalha numa mestria de técnicas refinadas que tornam o momento, garanto, de memória.
Deixar nas mãos do chef é ser feliz, mas também pode significar que não haja duas refeições iguais. Por isso, aquilo que nos fez literalmente felizes não será necessariamente o que o fará a si. Mas nada tema, que o caminho é seguro e de delícia.
Entrámos com suavidade e frescura num primeiro momento feito ao sabor de amêijoa com ligeiro toque de mostarda. Seguimos para uma entrada que nos conquistou para o resto da jornada ou não viesse logo com o belo do ouriço que serviria de acelerador de sabor a um belo tártaro de atum toro. Não diga nada, porque entrámos de cabeça em mar profundo.
Pausa para um futomaki especial com toro, vieira, camarão, ikura e uni. E os irrepreensíveis sashimi, entre atuns, sarrajão ou vieira, com corte delicado e sabor profundo! É tão só isto… sabor profundo!
Claro que num Omakase há niguiris, e foram alguns, e, claro, comidos à mão como manda a regra mais purista: pegar à mão e colocar a parte do peixe para baixo, na língua, recebendo sem mais tardar toda a sua explosão. Houve robalo e pargo, carapau e atum. E houve surpresas e riso. Sim, que por ali, o sorriso é coisa que também fica do princípio ao fim. Aliás, o próprio Shin sorri e muito. E pergunta uma e outra vez “estava bom?”. Claro que estava, tudo. Difícil é conseguir explicar-lhe, a ele, como tudo era tão intensamente bom! Como o Wagyu com foie gras braseado. Sim, também há!
Para fecho, e toque de mestre, uma sopa de miso vermelho com berbigão. De aconchego total.
Ah, pelo meio houve ainda um ou outro mimo, mas o melhor é não lhe contar tudo porque só indo lá e sentando-se ao balcão do Mitsu, vendo o chef trabalhar e servir e sorrir, e deixar-se ir com ele, é que perceberá tudo aquilo que aqui tentei contar.
As reservas são altamente recomendadas, dada a capacidade limitada e o carácter exclusivo da experiência.
Fica na Rua Martens Ferrão 9 M, em Lisboa, e vale só a pena.