Mariangela Hungria é a primeira brasileira a ganhar o 'Nobel da agricultura'

Foco das pesquisas dela é o aumento da produção e a qualidade de alimentos por meio da substituição de fertilizantes químicos por microrganismos

Mai 14, 2025 - 18:42
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Mariangela Hungria é a primeira brasileira a ganhar o 'Nobel da agricultura'

A cientista brasileira Mariangela Hungria ganhou o Prêmio Mundial de Alimentação (World Food Prize), também conhecido como “Nobel da agricultura". A pesquisadora da Embrapa Soja foi reconhecida pela trajetória de mais de 40 anos dedicados ao desenvolvimento de tecnologias em microbiologia do solo, que vem permitindo aos produtores rurais a obtenção de altos rendimentos com menores custos e mitigação de impactos ambientais.

O foco das pesquisas de Mariangela tem sido o aumento da produção e a qualidade de alimentos por meio da substituição total ou parcial de fertilizantes químicos por microrganismos portadores de propriedades como fixação biológica de nitrogênio, síntese de fitormônios e solubilização de fosfatos e rochas potássicas. 

Mariangela é a primeira mulher brasileira a ganhar o Prêmio Mundial de Alimentação. Em 2006, o ex-ministro da Agricultura, Alysson Paolinelli e o agrônomo Edson Lobato dividiram o prêmio com o colega estadunidense A. Colin McClung, pelo trabalho de desenvolvimento da agricultura na região do Cerrado. E em 2011, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi premiado pelo trabalho com a erradicação da fome no Brasil.

“Estou imensamente feliz, ainda não consigo acreditar, é uma grande honra, um reconhecimento mundial. Acredito que minha principal contribuição para mitigar a fome no mundo tenha sido minha persistência de que a produção de alimentos é essencial, mas deve ser feita com sustentabilidade. Foi uma vida dedicada à busca por altos rendimentos, mas via uso de biológicos, substituindo parcial ou totalmente os fertilizantes químicos. Com essa premiação, existe também o reconhecimento do empenho da pesquisa brasileira rumo a uma agricultura cada vez mais sustentável, favorecendo nossa imagem no exterior", explica Mariangela Hungria.

“Hoje, percebo uma crescente demanda global por maior produção e qualidade de alimentos, mas com sustentabilidade — reduzindo a poluição do solo e da água e diminuindo as emissões de gases de efeito estufa. Minha abordagem busca 'produzir mais com menos' — menos insumos, menos água, menos terra, menos esforço humano e menor impacto ambiental, sempre rumo a uma agricultura regenerativa", acrescenta a brasileira.

A cientista brasileira Mariangela Hungria, pesquisadora da Embrapa Soja, é a laureada da edição de 2025 do Prêmio Mundial de Alimentação
Mariangela Hungria é pesquisadora da Embrapa Soja(foto: Divulgação/Embrapa)

Em 2021, a equipe da pesquisadora lançou uma tecnologia que permite a redução de 25% na fertilização nitrogenada de cobertura em milho por meio da inoculação da bactéria Azospirillum brasiliense.

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A presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, celebrou a conquista a premiação de Mariangela. “Considero esta uma homenagem dupla — e profundamente significativa. Primeiro, à nossa colega pesquisadora, uma mulher que dedicou sua trajetória à ciência, acreditando no poder dos microrganismos para transformar a agricultura em uma atividade mais produtiva, competitiva e sustentável. Segundo, à nossa empresa, que em seus 52 anos sempre investiu e acreditou nesses ideais. Como primeira mulher a presidir esta instituição, sinto-me especialmente tocada por esta homenagem, que valoriza não apenas a excelência científica nacional, mas também o protagonismo feminino na construção de um país mais inovador e justo”, afirma. 

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Quem é Mariangela Hungria

Mariangela Hungria tem graduação em Engenharia Agronômica, mestrado em Solos e Nutrição de Plantas, doutorado em Ciência do Solo e pós-doutorado em três universidades: Cornell University, University of California-Davis e Universidade de Sevilla. Ela é pesquisadora da Embrapa desde 1982, inicialmente na Embrapa Agrobiologia e, desde 1991, na Embrapa Soja.

A cientista é comendadora da Ordem Nacional do Mérito Científico e membro titular da Academia Brasileira de Ciências, da Academia Brasileira de Ciência Agronômica e da Academia Mundial de Ciências. É professora e orientadora da pós-graduação em Microbiologia e em Biotecnologia na Universidade Estadual de Londrina. Mariangela atua também na Sociedade Brasileira de Ciência do Solo e na Sociedade Brasileira de Microbiologia.

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