Deixa fluir, Designer

O que “Get Back” dos Beatles me ensinou sobre design e incertezas no processo criativo.Assisti há uns dias o documentário Get Back dos Beatles no Disney+, e no final fiquei pensando em como tudo aquilo se conecta com o que faço no meu dia a dia como designer. Deixa eu explicar.­Criatividade humana em tempo realO documentário mostra um lado dos Beatles que a gente não tem costume de ver: cru, sem filtro, humano mesmo. Ele leva a gente direto pro processo criativo deles, como se a gente estivesse ali naquele estúdio em janeiro de 1969. E você vê as músicas surgindo meio que do nada, só com eles sentindo, experimentando e reagindo uns aos outros.É bagunçado, é emocional, é um verdadeiro caos … E é extremamente criativo também.­Incertezas, conflitos e mudanças de rotaDurante aquelas sessões, eles trabalharam em músicas que depois iam estar nos álbuns Abbey Road e Let It Be. E também dá pra ver que as coisas não fluem perfeitamente.O George, por exemplo, quase saiu da banda depois de discutir com o Paul. Isso atrasou as coisas — eles perderam dias de gravação com isso. Os planos mudavam o tempo todo. O tão icônico show no telhado sequer existia até uma semana antes de ser feito.É nesse nível de incerteza e caos que o processo deles acontecia.Os Beatles, Billy Preston e Yoko Ono em uma das sessões de Get Back. (fonte)­UX na prática nem sempre é como nos livrosIsso tudo me fez pensar em como é trabalhar com design, especialmente com UX. A gente vê muito essa ideia de processo bem definido: métodos passo a passo e frameworks tipo o Double Diamond, estudos de caso todos bonitinhos… Mas na prática, raramente é assim.Pelo menos no meu caso, eu nunca usei o Double Diamond do jeito que é falado por aí.Design não é uma receita de bolo que você segue os passos e pronto.É muito mais parecido com o que acontece em Get Back — um processo não linear, com imprevistos e em constante mudança.­Intuição e persistência, mesmo no caosO Rick Rubin fala disso no livro O Ato Criativo; sobre como muitos artistas começam sentindo a música, tocando o que vem na cabeça, e só depois vão lapidando aquilo. Isso é a nossa intuição agindo e pra mim, design funciona desse mesmo jeito.Criatividade não é sobre seguir uma estrutura rígida. É sobre se conectar, com energia, intuição, experiência, e transformar o que tá na sua cabeça em algo real. Às vezes isso é rápido. Às vezes demora. Mas só acontece se a gente continuar praticando, voltando naquilo dia após dia, mesmo sem saber exatamente onde vai dar.E foi isso o que mais me marcou assistindo Get Back. Mesmo com toda a incerteza, conflitos e desvios — eles continuaram lá. Continuaram tocando. Continuaram testando. E no fim, tudo se encaixou.Livro “O Ato Criativo — Uma forma de ser” por Rick Rubin — Arquivo pessoal­Design como um processo vivoNão existe fórmula mágica pra criatividade. Seja compondo uma música ou desenhando uma experiência de usuário, a gente precisa ter espaço pra explorar, pra errar, pra olhar de outros jeitos. Ser flexível e aberto às mudanças muitas vezes leva a resultados muito melhores do que seguir um método engessado.E sinceramente? Em vários projetos que participei, eu me senti perdido. Duvidei de mim. Não sabia exatamente o que fazer a seguir. Mas a criatividade — encarar o desconhecido — foi o que mais me ajudou a continuar.Então talvez o mais importante não seja entregar telas perfeitas ou projetos impecáveis. Talvez o mais importante seja praticar. Continuar tentando, dia após dia. Porque é assim que a gente forma as conexões certas no nosso cérebro que a gente ganha confiança e aprende a criar com mais facilidade e leveza.Get Back não é só sobre um show no telhado. É sobre o processo que levou até lá. Sobre a bagunça, as mudanças, o crescimento. E eu acho que é assim que a gente, como designers, deveria encarar o nosso trabalho também.O que importa é o processo.O último show dos Beatles, em Janeiro de 1969, no telhado da Abbey Road Studios. (fonte)ReferênciasDocumentário The Beatles: Get Back — dirigido por Peter Jackson, disponível no Disney+Abbey Road — Álbum dos Beatles de 1969, inclui faixas como Come Together, Here Comes the Sun e SomethingLet It Be — Último álbum lançado pelos Beatles (1970), com faixas como Let It Be, Get Back e Across the UniverseRick Rubin — Produtor musical, conhecido por trabalhar com diversos artistas e autor do livro O Ato Criativo: Uma forma de ser (original: The Creative Act: A Way of Being).Double Diamond — Modelo de processo de design do British Design Council — Representa etapas de divergência e convergência no designDeixa fluir, Designer was originally published in UX Collective

Mai 14, 2025 - 19:08
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Deixa fluir, Designer

O que “Get Back” dos Beatles me ensinou sobre design e incertezas no processo criativo.

A capa do artigo mostra os quatro Beatles em ordem: John Lennon no canto superior esquerdo, Paul McCartney no canto superior direito, Ringo Starr no canto inferior esquerdo e George Harrison no canto inferior direito. A imagem de todos é formada por círculos verdes e acima está escrita a frase “deixe fluir, designer” uma referência ao título do álbum “Let It Be” da banda.

Assisti há uns dias o documentário Get Back dos Beatles no Disney+, e no final fiquei pensando em como tudo aquilo se conecta com o que faço no meu dia a dia como designer. Deixa eu explicar.

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Criatividade humana em tempo real

O documentário mostra um lado dos Beatles que a gente não tem costume de ver: cru, sem filtro, humano mesmo. Ele leva a gente direto pro processo criativo deles, como se a gente estivesse ali naquele estúdio em janeiro de 1969. E você vê as músicas surgindo meio que do nada, só com eles sentindo, experimentando e reagindo uns aos outros.

É bagunçado, é emocional, é um verdadeiro caos … E é extremamente criativo também.

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Incertezas, conflitos e mudanças de rota

Durante aquelas sessões, eles trabalharam em músicas que depois iam estar nos álbuns Abbey Road e Let It Be. E também dá pra ver que as coisas não fluem perfeitamente.

O George, por exemplo, quase saiu da banda depois de discutir com o Paul. Isso atrasou as coisas — eles perderam dias de gravação com isso. Os planos mudavam o tempo todo. O tão icônico show no telhado sequer existia até uma semana antes de ser feito.

É nesse nível de incerteza e caos que o processo deles acontecia.

A imagem mostra uma sessão de gravação dos Beatles, do documentário Get Back. Na imagem podemos ver, à esquerda Billy Preston no Piano, ao seu lado, Paul McCartney no baixo e atrás deles, por de trás de duas tábuas brancas, Ringo Starr. No chão verde escuro do estúdio existem vários papéis e à direita da imagem estão George Harrison, em pé, ao seu lado John Lennon com uma camisa verde e sentado e ao lado dele, Yoko Ono, sentada com pernas cruzadas e uma roupa branca.
Os Beatles, Billy Preston e Yoko Ono em uma das sessões de Get Back. (fonte)

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UX na prática nem sempre é como nos livros

Isso tudo me fez pensar em como é trabalhar com design, especialmente com UX. A gente vê muito essa ideia de processo bem definido: métodos passo a passo e frameworks tipo o Double Diamond, estudos de caso todos bonitinhos… Mas na prática, raramente é assim.

Pelo menos no meu caso, eu nunca usei o Double Diamond do jeito que é falado por aí.

Design não é uma receita de bolo que você segue os passos e pronto.

É muito mais parecido com o que acontece em Get Back — um processo não linear, com imprevistos e em constante mudança.

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Intuição e persistência, mesmo no caos

O Rick Rubin fala disso no livro O Ato Criativo; sobre como muitos artistas começam sentindo a música, tocando o que vem na cabeça, e só depois vão lapidando aquilo. Isso é a nossa intuição agindo e pra mim, design funciona desse mesmo jeito.

Criatividade não é sobre seguir uma estrutura rígida. É sobre se conectar, com energia, intuição, experiência, e transformar o que tá na sua cabeça em algo real. Às vezes isso é rápido. Às vezes demora. Mas só acontece se a gente continuar praticando, voltando naquilo dia após dia, mesmo sem saber exatamente onde vai dar.

E foi isso o que mais me marcou assistindo Get Back. Mesmo com toda a incerteza, conflitos e desvios — eles continuaram lá. Continuaram tocando. Continuaram testando. E no fim, tudo se encaixou.

A imagem mostra o livro “O Ato Criativo” de Rick Rubin, que consiste em uma capa cinza com um círculo vazado no meio e um outro círculo preenchido no meio, ambos pretos, no canto direito superior o título completo do livro: “o ato criativo: uma forma de ser” e ao lado uma garrafa d’água. O restante da imagem mostra o tronco de uma árvore e uma praça no fundo.
Livro “O Ato Criativo — Uma forma de ser” por Rick Rubin — Arquivo pessoal

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Design como um processo vivo

Não existe fórmula mágica pra criatividade. Seja compondo uma música ou desenhando uma experiência de usuário, a gente precisa ter espaço pra explorar, pra errar, pra olhar de outros jeitos. Ser flexível e aberto às mudanças muitas vezes leva a resultados muito melhores do que seguir um método engessado.

E sinceramente? Em vários projetos que participei, eu me senti perdido. Duvidei de mim. Não sabia exatamente o que fazer a seguir. Mas a criatividade — encarar o desconhecido — foi o que mais me ajudou a continuar.

Então talvez o mais importante não seja entregar telas perfeitas ou projetos impecáveis. Talvez o mais importante seja praticar. Continuar tentando, dia após dia. Porque é assim que a gente forma as conexões certas no nosso cérebro que a gente ganha confiança e aprende a criar com mais facilidade e leveza.

Get Back não é só sobre um show no telhado. É sobre o processo que levou até lá. Sobre a bagunça, as mudanças, o crescimento. E eu acho que é assim que a gente, como designers, deveria encarar o nosso trabalho também.

O que importa é o processo.

A imagem mostra uma vista de cima de um telhado, com os quatro integrantes da banda “The Beatles”. No canto inferior direito está Ringo com uma jaqueta vermelha e tocando bateria. Na sua frente, com um terno preto está Paul McCartney e, ao seu lado, com uma jaqueta de pele está John Lennon tocando guitarra. Por último, com uma jaqueta preta e calça verde, está George Harrison, também tocando guitarra. Atrás de George estão membros da equipe.
O último show dos Beatles, em Janeiro de 1969, no telhado da Abbey Road Studios. (fonte)

Referências

  • Documentário The Beatles: Get Back — dirigido por Peter Jackson, disponível no Disney+
  • Abbey Road — Álbum dos Beatles de 1969, inclui faixas como Come Together, Here Comes the Sun e Something
  • Let It Be — Último álbum lançado pelos Beatles (1970), com faixas como Let It Be, Get Back e Across the Universe
  • Rick Rubin — Produtor musical, conhecido por trabalhar com diversos artistas e autor do livro O Ato Criativo: Uma forma de ser (original: The Creative Act: A Way of Being).
  • Double Diamond — Modelo de processo de design do British Design Council — Representa etapas de divergência e convergência no design

Deixa fluir, Designer was originally published in UX Collective