Criadores apostam na inteligência artificial para escalar conteúdos mas marcas mantêm cautela
Criadores de conteúdos digitais demonstram cada vez mais confiança na sua utilização para produzir conteúdos dirigidos ao público com base em inteligência artificial.


À medida que a inteligência artificial generativa evolui, os criadores de conteúdos digitais demonstram cada vez mais confiança na sua utilização para produzir conteúdos dirigidos ao público. Um inquérito da Kontent.AI, realizado em março, revelou que 74% dos profissionais de conteúdo utilizam ferramentas de IA semanalmente, sendo que 39% recorrem a elas diariamente. Esta tendência está agora a ganhar força em plataformas como o YouTube e o Spotify, como revela o site “Digiday”.
Podcasts gerados por IA
A FlightStory, empresa de media e investimentos responsável por podcasts como “o Diário de um CEO”, está a testar sete programas gerados por IA, incluindo a série de entrevistas 100 CEOs. Estes podcasts são totalmente guionados, produzidos e editados por inteligência artificial, com a voz clonada de Steven Bartlett, embora baseados em conceitos desenvolvidos por ele e pela sua equipa.
Segundo Christiana Brenton, CRO da FlightStory, a empresa está ainda a explorar animações geradas por IA para a componente visual da série, com lançamento previsto nas próximas semanas. Todo o processo é supervisionado por humanos para garantir autenticidade junto do público.
Georgie Holt, CEO da empresa, explicou que estão a implementar uma estratégia de 60 dias para aumentar a utilização da IA.
YouTubers também aderem
Bennett “Money Mind” Santora é um dos criadores no YouTube que está a combinar ferramentas como ElevenLabs (clonagem de voz), HeyGen (avatares em vídeo) e Poppy AI (guiões) para produzir vídeos inteiramente com IA. Santora já alimentou o Poppy AI com centenas de roteiros seus, treinando o modelo para replicar o seu estilo.
O objetivo do criador é aumentar drasticamente a sua produção, captar mais tráfego de pesquisa e gerar mais receitas.
Transparência e ética na criação com IA
Apesar da adoção crescente, a transparência continua a ser uma preocupação. Um estudo da IZEA de 2023 mostrou que 86% dos consumidores acreditam que os criadores devem revelar quando usam IA. Allison Harbin, especialista em IA responsável na CBIZ, afirma: “A questão da ética e da IA é obviamente muito multifacetada; Do ponto de vista ético, eu diria que divulgar é a coisa certa a fazer.”
Harbin antecipa que os fãs saberão distinguir melhor entre conteúdos humanos e gerados por IA, defendendo: “O conteúdo gerado por humanos provavelmente vencerá sempre, por causa das informações e pelo fato de que um grande modelo de linguagem é basicamente um papagaio; é apenas um papagaio de informações nas quais foi treinado, com base na solicitação que se está a fornecer. Portanto, acho que existem limites criativos reais para a qualidade do conteúdo gerado por IA.”
Publicidade e receios de qualidade
Do lado das marcas, o uso de IA levanta reservas. Jeremy Whitt, diretor executivo da agência Hanson Dodge, explicou à “Digiday” que os seus clientes consideram o conteúdo gerado por IA como de qualidade inferior, incluindo cláusulas contratuais para evitar este tipo de produção por parte dos criadores.
“Eles querem ter certeza de que a pessoa que contrataram é quem realmente cria o conteúdo,” afirmou Whitt.