Bancarização: 34% dos brasileiros se consideram excluídos financeiramente
Startupi Bancarização: 34% dos brasileiros se consideram excluídos financeiramente Nos últimos anos – pré, durante e pós-pandemia de COVID-19, as fintechs têm desempenhado um papel crucial na bancarização de brasileiros das classes C, D e E, ampliando o acesso a produtos e serviços financeiros para populações antes excluídas do sistema. Segundo levantamento do Mercado Pago em parceria com o IBPAD, 66% dos brasileiros já [...] O post Bancarização: 34% dos brasileiros se consideram excluídos financeiramente aparece primeiro em Startupi e foi escrito por Cecília Ferraz

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Bancarização: 34% dos brasileiros se consideram excluídos financeiramente
Nos últimos anos – pré, durante e pós-pandemia de COVID-19, as fintechs têm desempenhado um papel crucial na bancarização de brasileiros das classes C, D e E, ampliando o acesso a produtos e serviços financeiros para populações antes excluídas do sistema. Segundo levantamento do Mercado Pago em parceria com o IBPAD, 66% dos brasileiros já se consideram incluídos financeiramente, e 78% possuem conta em alguma instituição.
Mais do que abrir contas digitais, essas startups têm ajudado a reestruturar o relacionamento entre consumidores e instituições financeiras, criando soluções que falam diretamente com públicos historicamente marginalizados. De acordo com dados do estudo Inclusão Financeira no Brasil 2022, a maior parte dos recém bancarizados são mulheres das classes C, D e E, e usam bancos digitais como banco principal (49%).
Fintechs e bancos digitais influenciaram no número de contas e cartões de crédito por pessoa
O avanço digital também se reflete no comportamento do consumidor: hoje, os brasileiros têm em média 3,1 contas bancárias e 2,8 cartões de crédito. Boa parte dessa diversificação está ligada à ascensão dos bancos digitais, reconhecidos por sua facilidade de uso, gratuidade de contas e acesso desburocratizado a cartões. Dados mostram que a maior parte dos recém-bancarizados — 62% mulheres e 67% das classes CDE — usa bancos digitais como instituição principal (49%).
“Estima-se que entre 50 e 60 milhões de brasileiros foram incluídos no sistema financeiro por causa do Pix, e praticamente 90% da população economicamente ativa já usa o sistema regularmente”, afirma Diego Perez, CEO e presidente da ABFintechs. Durante a Fintech Week em Londres, Perez relatou que o modelo brasileiro foi exaltado mundialmente. “Fui lá para apresentar e, na verdade, virei um ouvinte, porque os britânicos já tinham tudo mapeado e mostraram que o Brasil é benchmark mundial nessa área.”
Os números citados por Perez impressionam, mas, até agosto de 2021, pouco menos de um ano após o lançamento do Pix, cerca de 40 milhões de brasileiros que nunca haviam feito um DOC ou TED já tinham realizado pelo menos uma transação usando a nova tecnologia. O impacto foi ainda mais expressivo nas classes D e E, onde 50% dos usuários do Pix nunca haviam feito qualquer transação digital antes.
PIX e Open Finance fazem parte da transformação tecnológica do setor
Embora o Pix tenha sido o catalisador inicial, o Open Finance promete aprofundar ainda mais essa transformação. Perez destaca que a pandemia acelerou o processo, mas que o movimento era inevitável. “Esse crescimento aconteceria de qualquer forma, porque já estava previsto dentro de uma agenda robusta do Banco Central e do governo federal. O que mudou foi a velocidade.”
Segundo ele, a lógica das fintechs, que são ágeis, digitais e com foco absoluto na experiência do usuário, cria um contraste com os bancos tradicionais. “As fintechs têm a vantagem de já terem nascido num ambiente livre de sistemas legados, e conseguem fazer adaptações muito rápidas. Isso faz com que elas consigam criar produtos muito rápido e testar a viabilidade de maneira muito eficiente”, explica.
Pessoas marginalizadas ainda enfrentam desafios no acesso ao crédito
Apesar do avanço, ainda existem grandes gargalos na relação entre os bancos e o público – embora o acesso global a contas tenha crescido nos últimos 15 anos, com um aumento de 50% na parcela mundial de adultos com uma conta, o uso dos bancos para melhora na qualidade de vida, com soluções como poupança, pagamentos ou seguros, não cresceu de forma correspondente.
Nesse cenário o crédito ainda é um empecilho importante, especialmente para pequenos empreendedores. Cerca de 30% tentaram acessar empréstimos no último ano, mas encontraram barreiras, optando muitas vezes por modalidades voltadas à pessoa física, como empréstimos pessoais, rotativo do cartão e cheque especial. A dificuldade é ainda maior para mulheres, que têm mais obstáculos tanto para obter crédito quanto para acessar melhores condições.
Fintechs já olham para as dores de pequenos empreendedores
Um dos exemplos de fintech que tenta quebrar essas barreiras é a Cloq, criada por Rafaela Cavalcanti. A startup foca no público de baixa renda, oferecendo “nanocrédito” com valores entre R$ 100 e R$ 500, muitas vezes o único acesso disponível para quem está fora do radar do sistema tradicional.
A startup surgiu da experiência pessoal e familiar da fundadora, que via a família recorrer a empréstimos com agiotas na comunidade, para manter sua loja funcionando. “Eu cresci achando que a agiota era a coisa mais normal do mundo”, conta Cavalcanti. A executiva só percebeu as práticas abusivas desse tipo de empréstimo quando a mãe a visitou na Holanda, onde Rafaela morava na época, e relatou ter pego um valor emprestado com juros altos: “Ela falou que tinha pego um valor, e iria pagar juros de 15% pelos 10 dias que ela ficaria na viagem”.
No início, a fintech liberava crédito sem filtros rígidos, o que resultou em uma inadimplência alta. “Tivemos uma inadimplência de 40% no Alpha Test, mas o que queríamos era aprender como diferenciar um bom pagador de um mau pagador.”
Esse aprendizado deu origem a um sistema de score alternativo, baseado em dados como a antiguidade do e-mail, telefone e até o comportamento de uso do app. “Não existe um fator isolado que determina se a pessoa é um bom pagador. É o conjunto de sinais que cria esse perfil”, explica Rafaela. Hoje, a inadimplência gira em torno de 9%, um índice considerado saudável no segmento de microcrédito.
Setor ainda enfrenta desafios na acessibilidade da bancarização
Os dados revelam que o cenário de inclusão está longe de ser apenas uma questão de abrir contas bancárias. Segundo o levantamento do Mercado Pago, 34% dos brasileiros ainda se sentem excluídos financeiramente, sendo que 73% dessas respostas estão diretamente ligadas à dificuldade de acessar crédito.
Enquanto 58% dos brasileiros acreditam que investimentos em bancos digitais oferecem retornos superiores aos dos bancos tradicionais, e 62% confiam que os resgates são mais rápidos nesses novos players, a poupança ainda reina absoluta como aplicação mais conhecida (90%) e utilizada (45%).
O movimento das fintechs, impulsionado por soluções como o Pix e o Open Finance, mostra que a inclusão financeira é um processo contínuo e multifacetado.
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