Studio Ghibli e Action Figures: o golpe de marketing (de mestre) do ChatGPT para conquistar mais utilizadores

Opinião de Bruno Batista, Head of Marketing & Sales da LTPlabs.

Abr 21, 2025 - 21:38
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Studio Ghibli e Action Figures: o golpe de marketing (de mestre) do ChatGPT para conquistar mais utilizadores

Por Bruno Batista, Head of Marketing & Sales da LTPlabs

No final de março, os feeds das redes sociais foram inundados por animes gerados por Inteligência Artificial Generativa (IA-Gen) — produz conteúdos humanizados — replicando em fotografias reais de cada utilizador o traço delicado do prestigiado Studio Ghibli. Logo a seguir, surgiram as caixas Action Figures, em que cada pessoa é retratada com a roupa e com alguns objetos que a definem.

Em comum, há um nome: o Image Generation, a mais recente ferramenta do ChatGPT-4o — o robô de conversação alimentado por IA-Gen, da americana OpenAI — que ‘fabrica’ todo o tipo de imagens personalizadas em poucos cliques.

Mas este não é um caso isolado. É apenas um entre inúmeros exemplos do potencial crescente da Inteligência Artificial, a qual já está a transformar consideravelmente a maneira como criamos, comunicamos, pensamos, agimos e nos expressamos.

Mais do que uma mera tendência estética, esta viralização do icónico filtro do estúdio de animação japonês e das Action Figures abre espaço para algo mais estrutural e significativo: o primeiro contacto de milhares e milhares de pessoas em todo o mundo com o poder da IA-Gen. E isso merece atenção.

Quando a tecnologia se torna emocionalmente apelativa

Ao longo da última década, foram variadíssimas as situações em que a tecnologia saltou dos bastidores para o centro da vida quotidiana, graças à sua capacidade de proporcionar experiências simples, tocantes, comoventes e envolventes.

Por exemplo, o Pokémon GO levou a realidade aumentada às ruas. O TikTok revolucionou a produção de vídeo. Os filtros do Instagram e do Snapchat ensinaram-nos, sem manuais, como manipular fotos em tempo real com uma facilidade quase mágica.

Agora, com o ChatGPT-4o — e outras plataformas que permitem gerar texto, imagem, som e vídeo — a IA-Gen está a viver o seu ponto de viragem, sobretudo a nível cultural. O estilo Ghibli desperta um gatilho emocional, pois o detalhe artesanal e o toque de nostalgia remetem para a infância e para a fantasia. Já as Action Figures são um resumo divertido de cada um. E quem não gosta de se ver ao espelho numa versão cool?

Contudo, o mais relevante não está na imagem em si: está no processo. O ato de criar — com apenas a escrita de uma frase e em alguns segundos — algo visual, original e que desperta sentimentos é para imensos utilizadores o primeiro tête-à-tête com o verdadeiro poder da Inteligência Artificial Generativa.

Filtro Studio Ghibli e Action Figures: um ponto de partida para a literacia em IA

E é precisamente neste ‘início de namoro’ que o boom das fotos ‘à la Ghibli’ e ‘à la Action Figures’ ganha maior dimensão. Ao invés de abordagens técnicas, forçadas ou abstratas, a IA-Gen está a ser descoberta de forma prática, direta e divertida. Pessoas sem formação e sem conhecimentos na área estão a produzir conteúdos que antes exigiam competências especializadas.

E, mais do que isso, estão a fazê-lo por iniciativa própria e com autonomia, vontade e prazer. Portanto, este contacto inicial pode ser uma excelente alavanca para o desenvolvimento de uma literacia digital mais robusta e sustentada.

Isto porque, quando se vê com os seus próprios olhos que a tecnologia é capaz de transformar instruções básicas em soluções complexas, muitos começam a questionar: “E se eu pudesse usar isto no meu trabalho? E na minha vida pessoal? E nos meus projetos?”

É este tipo de entusiasmo — orgânico, empírico e coletivo — que pode tornar-se no motor para um maior e melhor entendimento sobre o que é a Inteligência Artificial Generativa, como funciona e como pode ser utilizada com mais propriedade.

Criação acessível e experimentação facilitada

A democratização da IA-Gen traz novas oportunidades para todos. Criadores de conteúdos ganham diferentes meios para explorar ideias. Educadores podem dinamizar aprendizagens mais visuais e integradas. Pequenas marcas conseguem produzir materiais com qualidade profissional. Cidadãos em geral têm porta aberta para um ‘laboratório’ onde podem testar e ser autores sem limites.

Esta simplicidade a nível de usabilidade abre um infindável leque de possibilidades para quem, até esta altura do campeonato, poderia sentir-se afastado do universo digital. E essa é, sem dúvida, a grande mais-valia da Inteligência Artificial Generativa: ser de todos.

O que os casos Ghibli e Action Figures nos revelam é, no fundo, que o futuro da IA-Gen não será apenas técnico ou corporativo — será cultural, emocional e criativo. E, por isso, a maneira como nos relacionamos com estas ferramentas pela primeira vez pode fazer toda a diferença.

O papel de todos neste novo ciclo tecnológico

Perante este cenário, torna-se inevitável levantar a questão: estamos preparados para usar esta tecnologia de forma responsável, sensata e crítica? Na minha opinião, não. Todavia, o caminho faz-se pela experimentação e pelo refinamento contínuo.

Tal como um bom cozinheiro não acerta de imediato na receita perfeita, também o user de IA-Gen precisa de tentar várias combinações e melhorar com a prática. É numa constante interação entre humano e máquina e entre intenção e resultado que se constroem competências reais e consistentes.

Em suma, as imagens Ghibli e as Action Figures geradas por Inteligência Artificial Generativa são mais do que uma trend passageira. São o reflexo de uma mudança de paradigma: trata-se do momento em que a Inteligência Artificial começa a ser percecionada como uma aliada inovadora e surpreendentemente próxima.

Este fenómeno demonstra ainda que não é preciso um manual para começar — basta ter curiosidade. E isso, por si só, pode ser o início de algo muito maior e universal: uma sociedade mais preparada para entender, aproveitar e aplicar a IA-Gen com consciência e propósito.