Os cem anos da Fendi: celebrando seu centenário, a grife resgata as raízes

Tudo pelo olhar de uma menina que, aos seis anos, se encantou com o trabalho da mãe e das tias: Silvia Venturini Fendi

Abr 21, 2025 - 21:34
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Os cem anos da Fendi: celebrando seu centenário, a grife resgata as raízes

Encontrei um pequeno álbum de fotografias no meu quarto de hotel em Milão durante a semana de moda. Já sabia que se tratava do convite para o desfile da Fendi, mas, antes de conferir data e local, me demorei observando-o. Era uma peça feita de couro e costurada à mão, com pespontos que remetiam à Selleria, trabalho artesanal assinatura da casa.

Dentro, trazia imagens em preto e branco que evocavam o glamour de épocas passadas. O que mais me chamou a atenção foi a garotinha que aparecia no primeiro retrato. Aos seis anos, ela já demonstrava atitude, mas não apenas isso.

Seu desempenho diante da câmera revelava um encantamento genuíno pela moda. Era Silvia Venturini Fendi, hoje diretora criativa das coleções masculinas e de acessórios da grife. Ou seja, a anfitriã da noite que celebrava o primeiro centenário da etiqueta fundada por seus avós.

A trajetória da Fendi foge do padrão tradicional de uma casa centenária de moda — não é uma maison parisiense. Tampouco foi fundada por um costureiro, pupilo de Madame Vionnet, Robert Piguet ou Lucien Lelong.

Sua origem é romana e, antes de conquistar as passarelas com vestuário, foram as bolsas que a tornaram conhecida. Adele Casagrande Fendi e seu marido, Edoardo, decidiram criar a marca em 1925.

Ela, uma mulher visionária, compreendeu que o primeiro passo era aperfeiçoar seus conhecimentos na Toscana, região reconhecida pela produção de artigos de couro.

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Foi nesse período que Adele aprendeu com mestres a técnica da Selleria — caracterizada pela confecção manual da peça, incluindo as costuras, feitas com fio encerado em tamanho regular ou macro. Os pespontos, incorporados em coleções recentes, resgatam a estética das primeiras bolsas. À época, esses detalhes já eram considerados sinônimo de exclusividade e qualidade. 

Com o tempo, a primeira butique passou a vender estolas de pele, que se transformaram em casacos, enquanto outros itens começaram a compor o guarda-roupa da mulher romana e, claro, das cinco filhas do casal: Paola, Anna, Franca, Carla e Alda — as “Fendi Sisters”.

A paixão pelo negócio levou o quinteto a ingressar no ateliê, trazendo uma nova energia para uma geração de consumidores ávidos por mudanças. A soma de seus olhares foi fundamental para revolucionar a moda, que, no final dos anos 1940 e 1950 — período pós-Segunda Guerra Mundial —, buscava resgatar a feminilidade com uma dose de exuberância e modernidade.

Essa sensibilidade atraiu estrelas do cinema, como Sophia Loren e Elizabeth Taylor, que passaram a frequentar o ateliê. Até diretores de cinema, como Federico Fellini, recorreram à Fendi: no filme Noites de Cabíria (1957), algumas peças fizeram parte do figurino.

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Assim, o talento das irmãs transformou a Fendi em um nome global. Em 1965, convidaram Karl Lagerfeld, então em Paris, para colaborar com a casa. A parceria, que duraria 54 anos — até o falecimento do estilista, em 2019 —, foi um marco na moda italiana, estabelecendo um embate com a crise da alta-costura francesa.

Tudo o que você precisa saber sobre a Fendi, grife francesa centenária
Tudo o que você precisa saber sobre a Fendi, grife francesa centenáriaLuana Alves/Reprodução

Antes mesmo de nomes como Gianni Versace e Giorgio Armani consolidarem o Made in Italy no cenário internacional, era a Fendi que exportava a sofisticação e ousadia da Cidade Eterna.

Em 1977, a marca entrou no prêt-à-porter e, mais tarde, expandiu-se para os segmentos de óculos, relógios e couture. Acompanhando de perto esse movimento, estava a menina do retrato. Silvia se manteve presente ao lado da mãe, das tias e de Karl. Ela cresceu respirando cada partícula do que é a grife. Por isso, coube a ela assinar a celebração dos cem anos da marca.

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Assim que os convidados entravam, se deparavam com uma porta de abertura dupla em proporções monumentais. Algumas páginas à frente no álbum, uma imagem do ateliê: essa mesma porta, ladeada por divãs e carpetes.

De fato, o desfile era uma extensão de suas memórias, pois foi nesse ambiente que Silvia passou a infância, observando mulheres que a inspiravam criando e se divertindo.

No fim, quando se pensa em Fendi, é essa a sensação que prevalece, antes mesmo de associá-la a um nome da moda ou a um objeto de luxo: diversão. 

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