Como a arquitetura bioclimática responde às mudanças climáticas
Especialista explica algumas das principais estratégias utilizadas por arquitetos e urbanistas para minimizar os efeitos das altas temperaturas.

O ano de 2024 foi o mais quente já registrado globalmente, com uma temperatura média de 15,1°C, isso é 1,6 graus acima dos níveis pré-industriais, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM).
No Brasil, a média anual atingiu 25,02 °C, o maior valor desde o início dos registros em 1961, conforme dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) em janeiro de 2025. Com ondas de calor e temperaturas cada vez mais extremas, soluções arquitetônicas desempenham importante papel para garantir conforto térmico e reduzir a demanda por refrigeração artificial. A arquitetura bioclimática e práticas sustentáveis deixam de ser tendência para se consolidarem como necessidade.
Fernanda Buga, arquiteta e coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário de Jaguariúna (UniFAJ), reforça a importância de uma abordagem integrada. “Investir em projetos de qualidade e na atuação do arquiteto e urbanista é essencial. O conforto térmico e a eficiência energética não se resumem ao uso de materiais térmicos: exige um equilíbrio entre conhecimento técnico, repertório e criatividade para reduzir os impactos causados pelo aquecimento global”.
Confira algumas das principais estratégias utilizadas pela arquitetura para mitigar os efeitos do calor:
1. Isolamento térmico eficiente

O isolamento térmico reduz a transferência de calor entre o ambiente externo e interno, garantindo maior conforto e menor consumo energético. Materiais como lã de rocha, poliestireno expandido (EPS) e celulose são amplamente utilizados.
No entanto, Fernanda ressalta que nem todos esses materiais são sustentáveis: “A terra, por exemplo, é um excelente isolante térmico e pode ser usada em técnicas como taipa de pilão e adobe, mas ainda enfrenta resistência do mercado devido à baixa produtividade e à falta de mão de obra qualificada.
Os tijolos de barro (furados e maciços) também possuem bom desempenho térmico, retardando a transferência do calor, o que deixa as edificações mais frescas durante o dia”.
2. Ventilação natural e sombreamento

A ventilação cruzada, combinada ao uso de brise-soleils (quebra-sóis), janelas estrategicamente posicionadas e marquises, promove a circulação do ar e reduz a dependência de sistemas artificiais de climatização. “Criar janelas ou portas amplas com anteparos que barrem a entrada do calor do sol mas permitam a ventilação são estratégias são fundamentais para garantir conforto térmico sem elevar o consumo de energia”, observa a arquiteta.
3. Telhados verdes e jardins verticais

Além de amenizar a absorção de calor pelos edifícios, essas soluções contribuem para a qualidade do ar e o conforto acústico. No entanto, a arquiteta alerta: “A manutenção é um ponto crítico. Um jardim vertical seco pode se tornar um risco de incêndio, e o sobrepeso na estrutura precisa ser cuidadosamente calculado”.
4. Materiais refletivos

Pinturas e revestimentos em cores claras ajudam a reduzir a absorção de calor em superfícies externas. Essa técnica simples, mas eficaz, pode reduzir significativamente a temperatura interna das edificações. Recomenda-se a pintura dos telhados com tintas claras apropriadas ao material.
5. Sombreamento natural

A integração de elementos como árvores, marquises e treliças no paisagismo urbano e arquitetônico cria áreas sombreadas que reduzem a incidência direta do sol sobre as edificações, proporcionando microclimas mais agradáveis e melhorando a qualidade de vida nas cidades.
6. Arquitetura bioclimática

Projetos que consideram o clima local na orientação do edifício e na disposição de aberturas otimizam o uso de iluminação e ventilação naturais. “Essas práticas promovem eficiência energética, melhoram o conforto dos ocupantes e reduzem a pegada ambiental”, afirma a especialista.
Ao integrar técnicas adequadas e materiais eficientes, arquitetos e urbanistas não apenas minimizam os efeitos do calor, mas também promovem bem-estar. “A aplicação dessas soluções, aliando seriedade e criatividade, é fundamental para construirmos cidades mais resilientes e habitáveis”, conclui Fernanda.