Semana é marcada por recuperações globais com a ‘trégua’ entre China e EUA; no Brasil, risco fiscal volta a rondar – veja destaques

O clima dos mercados globais nesta sexta-feira (16) mantém a estabilidade em dia de agenda esvaziada. O post Semana é marcada por recuperações globais com a ‘trégua’ entre China e EUA; no Brasil, risco fiscal volta a rondar – veja destaques apareceu primeiro em Empiricus.

Mai 16, 2025 - 15:32
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Semana é marcada por recuperações globais com a ‘trégua’ entre China e EUA; no Brasil, risco fiscal volta a rondar – veja destaques

A sexta-feira (16) até que não começou mal no cenário internacional. As bolsas europeias avançam nesta manhã, encerrando com ânimo uma semana marcada pelo alívio gerado pelo acordo comercial entre EUA e China. O clima global de crescimento ganhou algum fôlego — embora, como de costume, isso tenha trazido consigo uma reação nos yields americanos, que voltaram a subir. Ainda assim, os futuros em Nova York operam em alta, ao menos por ora, em um dia de agenda esvaziada.

O impulso vem, em parte, de dados decepcionantes: as vendas no varejo ficaram aquém das expectativas, e o índice de preços ao produtor (PPI) recuou de forma inesperada — combinação que reforça a leitura de que o Federal Reserve poderá, sim, cortar os juros ainda neste ano. Apesar do tom cauteloso da autoridade monetária no curto prazo, a tese de afrouxamento segue viva, sustentada pela ausência de sinais concretos de que as tarifas da era Trump, hoje domesticadas, estejam contaminando os preços.

Na Ásia, o desempenho foi misto. O destaque negativo veio do Japão, cujo PIB contraiu no primeiro trimestre, jogando água fria no apetite por risco na região. Mesmo assim, o ambiente de curto prazo ainda favorece ativos globais. A agenda do dia inclui o índice de sentimento do consumidor nos EUA, mais uma leva de resultados corporativos — tanto lá fora quanto por aqui —, além de falas de dirigentes de bancos centrais estrangeiros. Entre as commodities, o petróleo amanhece em tom neutro, tentando se estabilizar após os recuos recentes. As quedas desta semana refletem, em boa parte, uma realização natural após os ganhos impulsionados pela trégua entre Washington e Pequim. O humor do mercado segue sensível aos sinais de alteração na narrativa global — seja no front diplomático, seja nas expectativas de crescimento.

Por aqui, o pano de fundo é outro. Mesmo com o bom humor externo, o velho conhecido risco fiscal volta a rondar. Investidores acompanham, com crescente apreensão, os próximos passos do governo diante da mais recente deterioração nos índices de popularidade. O temor é que, pressionado pelas urnas, o Executivo recorra ao atalho de sempre: políticas expansionistas mal calibradas. E, como já aprendemos, é justamente quando Brasília tenta “resolver” que os problemas costumam piorar.

· 00:54 — A curva é fechada e o governo parece querer acelerar

No Brasil, o dia traz alguma repercussão pontual de resultados corporativos — com destaque para alguns frigoríficos e, sobretudo, para o Banco do Brasil (BBAS3). Em meio a uma agenda macroeconômica mais esvaziada, os holofotes voltam a se concentrar no risco fiscal. Ontem, o Ibovespa até se deu ao luxo de se descolar do câmbio e cravar mais um recorde de fechamento, superando, pela primeira vez, a marca dos 139 mil pontos. Mas o pano de fundo segue desconfortável: estamos cada vez mais expostos à volatilidade provocada por sinais de um irresponsável expansionismo fiscal eleitoreiro reincidente, num governo que já empurrou os juros reais longos para acima de 7% — um patamar insustentável a longo prazo, que fique bem claro.

E por que, afinal, ainda não houve um rompimento mais agressivo dos fundamentos? Porque há uma eleição no meio do caminho. Pode escrever aí que, a depender do resultado, o ajuste em 2027 precisará ser duríssimo. O governo sabe disso — e teme o custo político de mais uma rodada de desgaste, agora alimentada pelo escândalo no INSS, justamente no momento em que os indicadores vinham ensaiando alguma recuperação, após a forte queda registrada entre o fim de 2024 e o início de 2025.

Diante do risco de perda de popularidade, o governo já começa a desenhar um novo pacote de bondades: isenção total da conta de luz para quase 60 milhões de pessoas inscritas no Cadastro Único (o que, naturalmente, será repassado aos demais consumidores, com impacto estimado de 1,5% nas contas de energia); novo Vale Gás; linhas de crédito para microempreendedores com garantia via Pix recorrente; e financiamento subsidiado para compra de motocicletas por entregadores de aplicativo. Como se não bastasse, há ainda rumores sobre um novo reajuste no Bolsa Família. O dólar, como era de se esperar, já voltou a flertar com os R$ 5,70.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tentou conter o ruído. Mas a essa altura, o estrago já estava feito. Além disso, não está claro se ele ainda goza de força política suficiente para evitar esse tipo de iniciativa. Excluído da recente comitiva presidencial à China e cercado por especulações sobre uma possível saída do ministério no início de 2026 para disputar algum cargo eletivo, Haddad parece cada vez mais isolado. E o que vem depois — se vier — pode ser ainda mais preocupante, principalmente se Lula decidir, de fato, buscar a reeleição com a mesma lógica distributivista a qualquer custo.

O roteiro não é inédito: várias das medidas agora anunciadas têm aroma — e riscos — semelhantes ao do primeiro mandato de Dilma Rousseff. A diferença é que parte da bomba fiscal sendo montada agora pode estourar ainda nas mãos do próprio governo que a armou, tornando a estratégia um tiro no próprio pé. O mercado segue apostando em uma mudança do pêndulo político em 2026. Mas até lá, a trajetória tende a ser tudo, menos linear. E a insistência em acelerar com os juros reais batendo perto de 15% torna esse caminho ainda mais tortuoso — quando não perigosamente instável.

· 01:41 — Os próximos passos

Nos Estados Unidos, uma sequência de dados econômicos de importância moderada passou praticamente em branco pelos radares de Wall Street — o otimismo já instalado se mostrou resistente até mesmo às surpresas do dia. Os preços ao produtor, medidos pelo índice PPI, recuaram de forma inesperada em abril, enquanto as vendas no varejo vieram ligeiramente abaixo das projeções. Ainda assim, após uma abertura em queda, o S&P 500 virou para o positivo e encerrou o dia com alta de 0,4%. Apesar da recuperação, o tom do mercado foi levemente avesso ao risco: setores defensivos, como saúde e utilidades, superaram os papéis de crescimento — especialmente as ações de tecnologia, que ficaram para trás após semanas de protagonismo. Nada dramático, mas uma pausa que revela algum grau de cautela seletiva.

O dado econômico mais relevante do dia, porém, não veio de Washington, mas de Bentonville. O Walmart, maior varejista dos EUA, reportou um trimestre robusto, com lucros sólidos e manutenção da perspectiva para o restante do ano. O problema — e ele sempre aparece — foi o alerta embutido: a empresa afirmou que as políticas tarifárias do governo Trump devem forçar aumentos de preços nas lojas. Em outras palavras, a inflação pode estar quieta agora, mas não saiu de cena — apenas mudou de estratégia. É exatamente por isso que o Federal Reserve mantém seu discurso parcimonioso. O banco central quer observar, com mais dados em mãos, o impacto real da nova rodada de protecionismo sobre os preços antes de mexer nos juros.

Junho e julho devem ser os meses-chave para essa análise. Até lá, a política monetária seguirá no modo “esperar para ver”. Enquanto isso, o mercado acompanhará hoje com atenção a leitura da pesquisa de sentimento do consumidor de maio — um termômetro relevante não apenas para entender a disposição de compra das famílias, mas também para captar os primeiros sinais de contaminação do humor econômico.

· 02:35 — Uma semana diferenciada

Após um início de mandato turbulento e um pouco improvisado, Donald Trump acaba de colher o que talvez tenha sido a semana mais bem-sucedida de sua política externa no segundo mandato — uma sequência raríssima, quase inédita, de avanços diplomáticos, acordos e recuos estratégicos. Para um governo mais habituado ao caos do que à construção, o contraste foi gritante. E, convenhamos, inesperado.

Começou com um cessar-fogo no Mar Vermelho envolvendo os rebeldes Houthis, costurado por Omã e com o endosso do Irã, enquanto negociações nucleares com o país seguem em andamento. Em seguida, uma trégua entre Índia e Paquistão — dois rivais nucleares históricos. Como se não bastasse, o último refém americano em Gaza foi libertado após uma negociação direta dos EUA com o Hamas, contornando completamente Israel. A cereja no bolo veio com a viagem ao Golfo: investimentos bilionários, acordos de defesa, o anúncio da possível suspensão das sanções à Síria e um “presente” generoso do Catar (um novo Air Force One temporário).

A exceção notável nessa onda continua sendo o conflito entre Rússia e Ucrânia. A esperada reunião bilateral entre Putin e Zelensky nem chegou a acontecer, e o impasse permanece. Ainda assim, há um progresso sutil: Trump resistiu à tentação de selar um acordo com Moscou sem cessar-fogo real. Isso, por si só, já é uma vitória. E, no momento, americanos, europeus e ucranianos parecem mais alinhados — o que, considerando o histórico recente, já conta como um avanço relevante.

Mas talvez o ponto mais revelador tenha sido a guinada na estratégia frente à China. Após retórica agressiva e tentativa de desacoplamento econômico, o governo Trump finalmente admitiu — ainda que sem dizer abertamente — que o custo econômico havia se tornado politicamente inviável. Não se trata, exatamente, de uma vitória diplomática. É, antes, um recuo. Mas, dadas as circunstâncias, um recuo digno de aplauso. Dito isso, permanece a dúvida essencial: estaríamos diante de um ponto de inflexão rumo ao pragmatismo ou apenas de uma breve trégua antes da próxima crise? Os últimos dias trouxeram um respiro, sem dúvida, mas o contexto exige cautela.

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· 03:22 — Voltou a chamar atenção

As engrenagens finalmente voltaram a girar para as ações ligadas ao ecossistema de data centers voltados à inteligência artificial — um universo que inclui desde fabricantes de chips até empresas de infraestrutura em nuvem e, curiosamente, companhias de energia elétrica, que surfam na explosão de demanda por eletricidade desses colossos computacionais. A maioria desses papéis já se aproxima dos níveis registrados em 19 de fevereiro, quando o S&P 500 marcou sua máxima histórica.

A pergunta óbvia é: o que está por trás dessa retomada tão vigorosa? Em primeiro lugar, as intenções de investimento de capital das gigantes da tecnologia — os chamados hiperscalers — continuam crescendo e sendo empurradas para a direita no gráfico, ou seja, com planos cada vez mais robustos e de mais longo prazo. E agora, com o medo de uma recessão diminuindo sensivelmente após o arrefecimento das tensões tarifárias, o apetite por investimento voltou a encontrar terreno fértil.

Vale lembrar que muitas dessas empresas estavam — deliberadamente — sacrificando o crescimento do fluxo de caixa livre para embarcar nessa nova corrida do ouro digital, um movimento difícil de justificar num ambiente de contração econômica. A trégua tarifária deu o respiro necessário para que a narrativa voltasse a ser uma história de crescimento — e não de cautela. O acesso a mercados estrangeiros, por sua vez, parece ter melhorado, o que reforça o pano de fundo para expansão global.

Mesmo que as tarifas tenham sido, até aqui, o fator macroeconômico mais decisivo na formação dos preços em 2025, a força renovada do setor de IA revela algo mais estrutural: uma convicção crescente de que o ciclo de investimentos em infraestrutura de dados não é só real, mas vital. E quando esse setor se move, o mercado escuta — afinal, desde 2023, boa parte dos ganhos foi puxada por inteligência artificial.

Em suma, a intensidade do rali recente não é apenas impressionante — é também reveladora. Ela expõe não só a resiliência do tema da IA como motor de crescimento, mas também a capacidade do mercado de fazer as pazes com o risco quando os ventos geopolíticos dão uma trégua. Ainda que o setor já tenha entregado muito, ele ainda dita o ritmo da narrativa — e, por enquanto, continua comandando o show.

· 04:16 — Mas nem tudo são flores

A popularização da inteligência artificial está longe de ser um fenômeno sem custos — e talvez o setor educacional seja onde os riscos mais sutis começam a se tornar visíveis. A adoção da IA em sala de aula cresce em ritmo acelerado, mas o modelo de ensino parece estar, inadvertidamente, escorregando para um teatro de interações entre chatbots, onde professores e alunos usam as mesmas ferramentas para cumprir suas respectivas funções. O receio é claro: estamos ensinando alunos a depender da IA antes de ensiná-los a pensar criticamente sobre ela.

Nos Estados Unidos, por exemplo, a adoção da tecnologia pelos estudantes foi praticamente instantânea. Em janeiro de 2023, apenas dois meses após o lançamento do ChatGPT, quase 90% dos universitários já o utilizavam para realizar tarefas acadêmicas, segundo dados da própria OpenAI. Os educadores, por sua vez, resistiram um pouco mais. Mas isso está mudando: a proporção de professores universitários que se declaram usuários frequentes de IA generativa quase dobrou em relação ao ano anterior, quando apenas 18% afirmavam usá-la com regularidade.

Ou seja, todos estão usando — mas muitos ainda não sabem exatamente como ou com que limites. A dissonância entre uso disseminado e desconforto ético é visível. Ainda há um número significativo de educadores que acredita que a integração indiscriminada da IA fere os princípios de integridade acadêmica. E, francamente, não é difícil concordar. A questão aqui não é combater a tecnologia, mas reconhecer que sua aplicação — sem critério e sem freios — pode corroer os alicerces do ensino.

Integrar inteligência artificial ao ambiente educacional é, sim, inevitável. Mas fazer isso com responsabilidade é outra história. Neste momento, caminhamos em uma corda bamba: é necessário preparar os alunos para um mundo onde a IA será parte do cotidiano, mas isso não pode ocorrer às custas de sua formação cognitiva. Usar IA como ferramenta é uma coisa; usá-la como substituto da experiência educacional é outra bem mais perigosa. No ritmo atual, corremos o risco de formar uma geração de profissionais altamente adaptados ao uso de interfaces, mas com raciocínio superficial, pouco domínio conceitual e uma dependência estrutural da máquina. Em nome da eficiência, podemos estar criando um apagão intelectual silencioso. Vale ficar atento.

· 05:07 — Agitação alemã

Nos últimos meses, a tese do chamado “MEGA” — Make Europe Great Again — deixou de ser apenas uma provocação retórica inspirada no slogan de Trump e começou a ganhar contornos mais concretos no mercado financeiro. A valorização expressiva do euro, alimentada pela perda de credibilidade do dólar como reserva global, reacendeu o apetite por ativos europeus.

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