Com eleições, centro-direita pode ampliar o poder em Portugal

Pesquisas mostram vantagem para a Aliança Democrática, mas o partido não deve obter maioria; pleito é realizado neste domingo (18.mai)

Mai 18, 2025 - 12:30
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Com eleições, centro-direita pode ampliar o poder em Portugal

Portugal vai às urnas neste domingo (18.mai.2025) para escolher um novo Parlamento, pouco mais de 1 ano depois das últimas eleições legislativas. A expectativa é de que a coligação de centro-direita AD (Aliança Democrática), liderada pelo primeiro-ministro Luís Montenegro, amplie sua presença na Assembleia da República.

A Aliança Democrática, composta pelo PSD (Partido Social Democrata) e pelo CDS-PP (Centro Democrático Social – Partido Popular), lidera as intenções de voto com 33%. É seguido pelo PS (Partido Socialista, centro-esquerda), de Pedro Nuno Santos, com 26% e o Chega, partido de direita, anti-imigração, liderado por André Ventura, com 17%, segundo o agregador de pesquisa do Politico na 3ª feira (13.mai).

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Mesmo com o favoritismo nas pesquisas, a AD continua aquém dos 42% necessários para conquistar uma maioria absoluta no Parlamento. O cenário atual se assemelha ao das eleições também antecipadas de março de 2024, quando a coligação saiu vitoriosa –tinha 30% das intenções de votos, mas teve de assumir um governo de minoria.

Naquela ocasião, com 99% das urnas apuradas, a AD conquistou 79 cadeiras na Assembleia da República, contra 77 do PS. O Chega, que consolidou sua posição como 3ª força política do país, elegeu 48 deputados.

A eleição de 2025 deve manter o padrão de fragmentação. A pesquisa indica que, com o crescimento de apenas 3%, a AD continuará sem maioria e precisará negociar para viabilizar a governabilidade. Além disso, Montenegro já declarou que não pretende formar uma coalizão com o Chega, o que restringe ainda mais suas opções para um governo forte.

O Partido Socialista, que liderou o país durante todo o governo do ex-primeiro-ministro António Costa (2015-2024), apresentou queda de desempenho. Recuou de 29% em março de 2024 para 27% nas intenções de voto em maio de 2025, o que reforça a dificuldade da legenda em retomar o protagonismo político.

O atual cenário português reflete uma tendência observada em outros países da União Europeia, onde partidos de centro-direita e direita têm ampliado sua influência. Neste domingo (18.mai), além de Portugal, Romênia e Polônia também realizam eleições, com expectativas semelhantes de avanço da direita.

Da América Latina à Europa e Oceania, esses partidos mostram tendência de crescimento, impulsionados por incertezas econômicas e questões de imigração.

SISTEMA POLÍTICO

Diferentemente do Brasil, Portugal vive sob um regime semipresidencialista, no qual o primeiro-ministro é o chefe do Executivo e o presidente é o chefe de Estado.

O premiê português é nomeado pelo presidente depois de consulta aos partidos da Assembleia. O chefe de Estado, tradicionalmente, nomeia o líder da legenda ou coligação que alcançou a maioria nas eleições legislativas. No pleito, são 230 deputados eleitos para um mandato de 4 anos.

Os eleitores a partir de 18 anos votam em partidos ou coligações, não em um candidato. O voto não é obrigatório no país.

PRINCIPAIS CANDIDATOS

  • Luís Montenegro (Aliança Democrática, centro-direita)

Advogado, 51 anos, elegeu-se deputado pela 1ª vez em 2002 e permaneceu na Assembleia até 2018. Liderou a bancada do PSD entre 2011 e 2017, durante o governo de Pedro Passos Coelho (2011-2015), período marcado por forte austeridade fiscal. Depois de deixar o Parlamento, fez pós-graduação em direito e cursos sobre gestão e liderança antes de retornar à política.

Em 2020, candidatou-se à liderança do PSD e 20 de março de 2024 o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, o nomeou como o novo primeiro-ministro do país. Um ano depois, o Parlamento português rejeitou sua moção de confiança. Foram 142 votos a favor e 88 contra pela derrubada do premiê.

Montenegro é acusado de conflito de interesses envolvendo uma empresa da família, a Spinumviva. A companhia foi fundada por ele, que repassou o controle para a mulher, Carla Montenegro, e os filhos. A oposição acusa o político de continuar se beneficiando financeiramente com o empreendimento.

  • Pedro Nuno Santos (Partido Socialista, centro-esquerda)

Economista, 48 anos, foi secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares de 2015 a 2019. Em seguida, atuou como ministro das Infraestruturas e da Habitação, de 2019 a 2022, nos governos de António Costa e foi o principal responsável pela aliança do PS, Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português.

No governo, Nuno Santos se envolveu na recapitalização da TAP (Transportes Aéreos Portugueses), maior empresa aérea de Portugal, durante pandemia de covid. Em dezembro de 2022, no entanto, saiu do ministério por um caso de indenização de 500 mil euros da TAP.

Em 2023, assumiu a liderança do Partido Socialista com a saída de António Costa. Defende uma agenda progressista, com foco em políticas públicas para habitação, salario mínimo, transporte e fortalecimento do Estado social.

Apesar de Nuno Santos ser considerado carismático, os problemas que envolvem o PS por causa do governo de António Costa afastam diversos eleitores.

  • André Ventura (Chega, direita)

Jurista, ex-professor universitário e ex-comentarista esportivo, de 42 anos, fundou o partido Chega em 2019 depois de sair do PSD de Luís Montenegro. Ventura se mostrou desiludido com a liderança e as decisões da sigla.

Em 2020 elegeu-se deputado da Assembleia da República Portuguesa pelo distrito de Lisboa, foi o único candidato eleito pelo Chega. Ventura ganhou visibilidade de forma rápida pelos discursos contra a corrupção e “anti-sistema” em Portugal.

O partido, pela inspiração nos discursos políticos e pensamentos de Marine Le Pen, da França, e outros líderes de direita, adotou uma ideia anti-imigração e reforço a valores patrióticos. Ventura também investiu nas redes sociais, com vídeos e propagandas que expõem ideias da sigla.

Atualmente ocupa o cargo de conselheiro de Estado. Ventura é considerado uma das figuras mais controversas do cenário político português pelo tom combativo em debates e contra a esquerda.

O político, por exemplo, já disse que vetaria a entrada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Portugal caso se tornasse primeiro-ministro.

Próximos passos

Os portugueses vão escolher entre dar continuidade à atual coligação de centro-direita, que tenta consolidar seu poder, ou buscar uma nova direção com a oposição de centro-esquerda. Questões como economia, habitação, imigração, serviços públicos e a relação com a UE estão no centro do debate eleitoral.

Depois do pleito, o presidente Marcelo Rebelo de Sousa iniciará conversas com os partidos com representação parlamentar. O novo primeiro-ministro será indicado nas semanas seguintes. Caso não haja maioria clara, o processo de formação de governo pode se estender, exigindo negociações e possíveis acordos de coalizão.


Esta reportagem foi produzida pela estagiária de jornalismo Nathallie Lopes sob supervisão da editora-assistente Aline Marcolino.