10 Considerações sobre Pactos, publicado pela Darkside ou cuidado com o que desejas...

Organizado por Marcia Heloisa e publicado pela Darkside (Macabra), Pactos é uma antologia de grandes contos que adentram à seara do demônio e seus acordos, contos esses publicados por grandes autores do gênero na literatura norte-americana; neste pos confira as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:1 - Antes de mais nada, preciso dizer que há algum tempo queria ler algo publicado pela Darkside, por isso certa expectativa e, de fato, enquanto produto gráfico temos um trabalho de excelência no design. Mas não só isso, nesse caso, pelo menos, Pactos traz uma interessante e envolvente seleção de contos cujos elos que unificam a publicação são as narrativas de algum modo envolvendo pactos com o Diabo e o fato de serem publicações por grandes autores norte-americanos, esses dois fatores trazendo certa unidade à obra. Aliás, não sei vocês, mas não só o fato de gostarmos do gênero conto, mas que ótima experiência a de ler narrativas do princípio do gênero cujas características por vezes parecem perdidas nos contos contemporâneos. É inegável que há diferenças, e muitas, entre o que se chama de conto hoje e um belo e de fato ótimo conto. A leitura do volume lembrou-me do quanto é gostoso contos - dos terror, então, se se fala;2 - Dos seis contos reunidos a obra abre com O jovem Goodman Brown, de Nathaniel Hawthorne. Um conto fáustico por natureza e que leva para irmandade de Satã todo um vilarejo. Marcado pela formação religiosa nos Estados Unidos, o conto em suas breves páginas é capaz de desnudar certas hipocrisias e contradições humanas. Observação que para além da percepção das artimanhas do Demo torna o jovem Brown alguém isolado e alheio do restante da sociedade, de modo que termina seus dias amaldiçoado pela solidão;3 - Agora pense um conto com ares daqueles bons e velhos westerns com criaturas mitológicas em suas posturas e uma trama diabólica? É o que vemos em O Diabo e Daniel Webster, de Stephen Benet, que não apenas adentra ao tecido fáustico entre aquelas narrativas de logro, mas que entrega-nos um dos embates mais firmes entre um homem e o Diabo, o que, obviavente leva à fama Daniel Webster. Além disso, uma espécie de mitologia fundadora regional;4 - Já Mark Twain entrega-nos uma narrativa tipicamente norte-americana e com uma pegada que leva ao conto de suspense os ares de Ficção Científica e sob a lógica do capitalismo radical daquela gente capaz de tornar o próprio Coisa-Ruim um importante ativo da Bolsa de Valores. Uma das perspectivas mais distintas do volume;5 - Obvimente um dos mais inquietantes e misteriosos contos do volume é trazido pelo mestre Edgar Allan Poe com seu O Diabo no Campanário. Um conto que trata da quebra da zona de conforto de gente habituada ao ir e vir tranquilo do tempo. Aliás, parece-nos um conto muito mais sobre a natureza misteriosa do tempo e seus segredos que sobre o demônio, de toda forma não é justamente o Capeta o grande responsável por desalojar-nos no tempo e do tempo?6 - Washington Irving foi o camarada que escreveu A lenda do cavaleiro sem-cabeça, e o seu conto no livro, O Diabo e Tom Walker, bem nos lembra sua atmosfera sombria marcada pela névoa soturna. Um conto que curiosamente, em contraste com os Cristãos do século XXI, credita ao Demo a agiotagem e a vida de bonanza financeira, uma das veias mais populares e circulantes das estórias sobre pactos;7 - O volume encerra com mais um conto de logro, Como vencer o Diabo, de Harriet Beecher Stowe. No conto, a partir de velhas histórias e rumores, o narrador em primeira pessoa usa da simplicidade das gentes comuns para alertar que em boa medida, para vencer o Diabo basta não dar-lhe assunto. Mesmo parecendo simples, por trás dessa lógica está o pensamento de que somos nós, nossas ambições a grande morada do Capeta;8 - Para além dos contos citados no decorrer desta resenha, o volume traz uma introdução por Marcia Heloisa e um posfácio de Pedro Pone em que trata de "O Demônio e seus ensinamentos". Nesse breve artigo, mais que sobre o Diabo - ainda que também -, temos uma análise dos contos que integram o volume. Tanto a apresentação quanto o posfácio são bons textos para uma discussão da temática;9 - Talvez por isso, ainda que "fofinha", a parte mais dispensável da publicação seja a vasta exposição (em preto e branco) de pôsteres de filmes com a temática do Diabo. Mas como gostamos de listas, essa é uma sessão com dicas valiosas para cinéfilos fãs do gênero;10 - Enfim, Pactos é ótima leitura - e excelente produção editorial - que nos possibilita a leitura da narrativas que justificam a excelência dos contos enquanto formas de narrar. Vida longa - e eterna - aos contos, pois só quem lê um bom conto sabe do prazer que é. E estes nos levam a um terreno adorado, o fantástico universo dos Pactos e dos encontros imediatos em primeiro grau com esta criatura tão popular, sim, o Demo. :: + na Amazon :: 

Mai 1, 2025 - 20:40
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10 Considerações sobre Pactos, publicado pela Darkside ou cuidado com o que desejas...

Organizado por Marcia Heloisa e publicado pela Darkside (Macabra), Pactos é uma antologia de grandes contos que adentram à seara do demônio e seus acordos, contos esses publicados por grandes autores do gênero na literatura norte-americana; neste pos confira as 10 considerações de Douglas Eralldo sobre o livro, confira:


1 - Antes de mais nada, preciso dizer que há algum tempo queria ler algo publicado pela Darkside, por isso certa expectativa e, de fato, enquanto produto gráfico temos um trabalho de excelência no design. Mas não só isso, nesse caso, pelo menos, Pactos traz uma interessante e envolvente seleção de contos cujos elos que unificam a publicação são as narrativas de algum modo envolvendo pactos com o Diabo e o fato de serem publicações por grandes autores norte-americanos, esses dois fatores trazendo certa unidade à obra. Aliás, não sei vocês, mas não só o fato de gostarmos do gênero conto, mas que ótima experiência a de ler narrativas do princípio do gênero cujas características por vezes parecem perdidas nos contos contemporâneos. É inegável que há diferenças, e muitas, entre o que se chama de conto hoje e um belo e de fato ótimo conto. A leitura do volume lembrou-me do quanto é gostoso contos - dos terror, então, se se fala;

2 - Dos seis contos reunidos a obra abre com O jovem Goodman Brown, de Nathaniel Hawthorne. Um conto fáustico por natureza e que leva para irmandade de Satã todo um vilarejo. Marcado pela formação religiosa nos Estados Unidos, o conto em suas breves páginas é capaz de desnudar certas hipocrisias e contradições humanas. Observação que para além da percepção das artimanhas do Demo torna o jovem Brown alguém isolado e alheio do restante da sociedade, de modo que termina seus dias amaldiçoado pela solidão;

3 - Agora pense um conto com ares daqueles bons e velhos westerns com criaturas mitológicas em suas posturas e uma trama diabólica? É o que vemos em O Diabo e Daniel Webster, de Stephen Benet, que não apenas adentra ao tecido fáustico entre aquelas narrativas de logro, mas que entrega-nos um dos embates mais firmes entre um homem e o Diabo, o que, obviavente leva à fama Daniel Webster. Além disso, uma espécie de mitologia fundadora regional;

4 - Já Mark Twain entrega-nos uma narrativa tipicamente norte-americana e com uma pegada que leva ao conto de suspense os ares de Ficção Científica e sob a lógica do capitalismo radical daquela gente capaz de tornar o próprio Coisa-Ruim um importante ativo da Bolsa de Valores. Uma das perspectivas mais distintas do volume;

5 - Obvimente um dos mais inquietantes e misteriosos contos do volume é trazido pelo mestre Edgar Allan Poe com seu O Diabo no Campanário. Um conto que trata da quebra da zona de conforto de gente habituada ao ir e vir tranquilo do tempo. Aliás, parece-nos um conto muito mais sobre a natureza misteriosa do tempo e seus segredos que sobre o demônio, de toda forma não é justamente o Capeta o grande responsável por desalojar-nos no tempo e do tempo?


6 - Washington Irving foi o camarada que escreveu A lenda do cavaleiro sem-cabeça, e o seu conto no livro, O Diabo e Tom Walker, bem nos lembra sua atmosfera sombria marcada pela névoa soturna. Um conto que curiosamente, em contraste com os Cristãos do século XXI, credita ao Demo a agiotagem e a vida de bonanza financeira, uma das veias mais populares e circulantes das estórias sobre pactos;

7 - O volume encerra com mais um conto de logro, Como vencer o Diabo, de Harriet Beecher Stowe. No conto, a partir de velhas histórias e rumores, o narrador em primeira pessoa usa da simplicidade das gentes comuns para alertar que em boa medida, para vencer o Diabo basta não dar-lhe assunto. Mesmo parecendo simples, por trás dessa lógica está o pensamento de que somos nós, nossas ambições a grande morada do Capeta;

8 - Para além dos contos citados no decorrer desta resenha, o volume traz uma introdução por Marcia Heloisa e um posfácio de Pedro Pone em que trata de "O Demônio e seus ensinamentos". Nesse breve artigo, mais que sobre o Diabo - ainda que também -, temos uma análise dos contos que integram o volume. Tanto a apresentação quanto o posfácio são bons textos para uma discussão da temática;

9 - Talvez por isso, ainda que "fofinha", a parte mais dispensável da publicação seja a vasta exposição (em preto e branco) de pôsteres de filmes com a temática do Diabo. Mas como gostamos de listas, essa é uma sessão com dicas valiosas para cinéfilos fãs do gênero;

10 - Enfim, Pactos é ótima leitura - e excelente produção editorial - que nos possibilita a leitura da narrativas que justificam a excelência dos contos enquanto formas de narrar. Vida longa - e eterna - aos contos, pois só quem lê um bom conto sabe do prazer que é. E estes nos levam a um terreno adorado, o fantástico universo dos Pactos e dos encontros imediatos em primeiro grau com esta criatura tão popular, sim, o Demo. 

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