Novo aumento de gelo na Antártida não invalida aquecimento global, dizem cientistas

O volume de gelo na Antártida voltou a aumentar nos últimos anos, surpreendendo cientistas que monitoram as mudanças climáticas globais. Este fenômeno levantou questionamentos sobre as teses do IPCC relacionadas ao aquecimento global e alimentou argumentos de negacionistas. No entanto, especialistas alertam que essa recuperação temporária não contradiz as conclusões científicas sobre as mudanças climáticas […]

Mai 14, 2025 - 10:10
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Novo aumento de gelo na Antártida não invalida aquecimento global, dizem cientistas

O volume de gelo na Antártida voltou a aumentar nos últimos anos, surpreendendo cientistas que monitoram as mudanças climáticas globais. Este fenômeno levantou questionamentos sobre as teses do IPCC relacionadas ao aquecimento global e alimentou argumentos de negacionistas. No entanto, especialistas alertam que essa recuperação temporária não contradiz as conclusões científicas sobre as mudanças climáticas de origem antropogênica.

Dados recentes do satélite Grace e seu sucessor Grace-FO, que medem o campo gravitacional terrestre desde 2002, revelaram que, embora a massa de gelo da Antártida tenha diminuído nas últimas décadas, houve um ganho significativo entre 2021 e 2023. Esta constatação, publicada na revista Science China Earth Sciences, gerou debates na comunidade científica e foi rapidamente apropriada por negacionistas.

De acordo com informações da NASA, entre 2002 e 2023, a Antártida perdeu cerca de 150 gigatoneladas de gelo anualmente, contribuindo para uma elevação do nível do mar de 0,4 milímetro por ano. No mesmo período, a Groenlândia perdeu aproximadamente 270 gigatoneladas de gelo anualmente, elevando o nível do mar em 0,8 milímetro por ano.

Imagens produzidas a partir dos dados gravimétricos mostram que, embora algumas regiões da Antártida tenham ganhado massa de gelo recentemente, outras continuam a derreter. No balanço geral dos últimos anos, houve um aumento no volume total de gelo no continente.

A perspectiva dos especialistas

François-Marie Bréon, físico-climatologista e membro do IPCC, esclarece que “o que aconteceu na Antártida é interessante (e parece continuar neste ano)”, mas alerta que os negacionistas “destacam uma tendência de três anos, que está longe de reverter o que acontece há 20 anos”. Ele enfatiza que “esse armazenamento de água na Antártida está longe de compensar a perda que continua em ritmo acelerado na Groenlândia”.

Bréon explica que o fenômeno observado resulta de dois processos concorrentes.

“É certo que o aumento das temperaturas favorece o derretimento e, portanto, a perda de gelo. Mas, ao mesmo tempo, a elevação das temperaturas permite o transporte de umidade dos oceanos para o continente, resultando em precipitações maiores. Isso é o que ocorreu nos últimos anos (depósitos significativos de neve). Esse fenômeno não é contraditório com as projeções do IPCC”, segundo ele.

O debate científico e os negacionistas

O debate sobre as mudanças climáticas frequentemente conta com vozes céticas, incluindo figuras notáveis como o Nobel de física John Clauser, que, apesar de sua expertise em entrelaçamento quântico, fez declarações contestando o aquecimento global. Especialistas destacam que Clauser não tem formação em geofísica do clima, diferentemente de outros premiados com o Nobel na área, como Syukuro Manabe e Klaus Hasselmann.

Este caso relembra outros exemplos históricos de cientistas eminentes que rejeitaram teorias consolidadas fora de suas áreas de especialidade, como Fred Hoyle, que nunca aceitou a teoria do Big Bang, ou Harold Jeffreys, renomado geofísico que negou a deriva continental até o fim de sua carreira.

A comunidade científica alerta para o “cherry picking” (seleção conveniente de dados), técnica comum utilizada por negacionistas climáticos, que destacam informações isoladas ignorando o contexto e as tendências de longo prazo.

Ainda não se sabe se o aumento recente no volume de gelo antártico representa uma flutuação temporária ou o início de um novo padrão, mas isso não contradiz o consenso científico sobre o aquecimento global de origem humana e a necessidade de descarbonizar a economia para enfrentá-lo.