Guerra entre Fernando Gomes e Pedro Proença preocupa FC Porto e Sporting e pode prejudicar Portugal na UEFA e na FIFA. Benfica não reage
Mais uma semana, mais uma polémica. O futebol português vai vivendo de casos e 'casinhos', que enchem páginas de jornais, ocupam horas em programas televisivos, são assuntos em conversas de café. O mais recente diz respeito a Pedro Proença e Fernando Gomes, quando nada o fazia prever.Uma 'guerra' que pode prejudicar os objetivos de Portugal nos órgãos de decisão da UEFA, mas também na organização de grandes eventos, como a candidatura do nosso país à organização do Europeu feminino de 2029 e a organização do Campeonato do Mundo de 2030.Clubes como Sporting, FC Porto ou SC Braga mostram-se preocupados com este conflito. O Benfica ainda não reagiu.O começo: troca de cartas e apoio... que afinal não eraTudo começou com uma carta de Pedro Proença enviada às 55 associações nacionais que fazem parte da UEFA, a explicar que Fernando Gomes, o seu antecessor na FPF, o apoiava nas eleições para o Comité Executivo do organismo que rege o futebol europeu, marcadas para a próxima quinta-feira. Um apoio que o próprio Fernando Gomes já tinha garantido, quando ainda liderava a Federação Portuguesa de Futebol."Quero dizer que o doutor Fernando Gomes tem feito um trabalho exemplar no apoio à minha candidatura ao Comité Executivo da UEFA. O apoio que já foi consagrado, no que me diz respeito, a mim e à FPF, dizendo às 55 federações internacionais do apoio do dr. Fernando Gomes. Estamos muito satisfeitos com o apoio do dr. Fernando Gomes", garantiu Proença, no dia 29 de março, sábado.De seguida veio a surpreendente resposta de Fernando Gomes, horas depois, também em carta endereçada a todas as federações da UEFA, a negar o seu apoio ao homem que agora ocupa o cargo que foi seu entre 2011 e 2025."Não declarei nem tenciono intervir no processo eleitoral, como é do conhecimento do presidente da FPF. O meu percurso no futebol terminou", garantiu o eleito de fresco para a presidência do Comité Olímpico de Portugal."Foi a maior das surpresas tomar conhecimento de uma carta enviada pelo presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Pedro Proença, na qual o meu nome é mencionado sem consentimento prévio ou mesmo informação [...] Não declarei nem tenciono intervir no processo eleitoral, como é do conhecimento do presidente da FPF. O meu percurso no futebol terminou", começou por dizer Fernando Gomes.$$caption$$Na mesma carta, o antecessor de Pedro Proença confessou não partilhar "uma visão comum para o futebol e o desporto" com o atual presidente da FPF, a quem deixou muitas críticas."Pedro Proença escolheu o caminho da destruição do legado que eu e a minha equipa construímos ao longo de 13 anos, através de decisões e insinuações públicas que visam atacar o nosso bom nome e que, como se verá, são completamente infundadas", refere a carta assinada pelo atual presidente do Comité Olímpico de Portugal.A Federação Portuguesa de Futebol só reagiu no domingo. O organismo marcou para esta segunda-feira uma reunião de emergência para discutir as "gravíssimas insinuações" de Fernando Gomes, para analisar e avaliar as "consequências das insinuações" do antigo líder, "num momento que antecede as eleições para o Comité Executivo da UEFA", marcadas para 03 de abril e que a FPF considera "importantíssimas para o futebol português, tendo em conta os desafios que se avizinham", como a organização do Mundial2030 e a candidatura à organização do Europeu feminino de 2029.Da reunião desta segunda-feira, a direção da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) anunciou que vai "pedir audiência com caráter de urgência ao Governo para avaliação dos impactos face aos compromissos assumidos, nomeadamente, a candidatura à organização do Europeu feminino de 2029 e a organização do Campeonato do Mundo de 2030".Além disso, o organismo que tutela o futebol português assegurou ainda que vai "enviar uma exposição ao Conselho de Ética do COP para avaliação da atuação do presidente do Comité Olímpico de Portugal".A direção da FPF considera que "o interesse nacional e a própria eleição do candidato nacional neste processo eleitoral fica seriamente comprometida pelo impacto que a posição assumida pelo senhor presidente do Comité Olímpico de Portugal infligiu na credibilidade das mais relevantes instituições desportivas nacionais, que dificilmente será reversível em tempo útil".Operação Mais-Valia no centro da 'tensão'As desavenças entre os dois dirigentes terá começado com a Operação Mais Valia, do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa, que investiga suspeitas de crimes como corrupção e fraude fiscal, envolvendo negócios de anteriores mandatos, entre 2016 e 2020, mais precisamente sobre a venda da antiga sede da FPF, em 2018, na Rua Alexandre Herculano, em Lisboa, por mais de 11 milhões de euros.As buscas na sede da FPF resultaram na constituição de dois arguidos: o antigo deputado do Partido Socialista (PS) António Gameiro e o antigo secretário-geral da FPF Paulo Lourenço. O diretor nacional da PJ, Luís Neves, fez questão de garantir que Fernando Gomes,

Mais uma semana, mais uma polémica. O futebol português vai vivendo de casos e 'casinhos', que enchem páginas de jornais, ocupam horas em programas televisivos, são assuntos em conversas de café. O mais recente diz respeito a Pedro Proença e Fernando Gomes, quando nada o fazia prever.
Uma 'guerra' que pode prejudicar os objetivos de Portugal nos órgãos de decisão da UEFA, mas também na organização de grandes eventos, como a candidatura do nosso país à organização do Europeu feminino de 2029 e a organização do Campeonato do Mundo de 2030.
Clubes como Sporting, FC Porto ou SC Braga mostram-se preocupados com este conflito. O Benfica ainda não reagiu.
O começo: troca de cartas e apoio... que afinal não era
Tudo começou com uma carta de Pedro Proença enviada às 55 associações nacionais que fazem parte da UEFA, a explicar que Fernando Gomes, o seu antecessor na FPF, o apoiava nas eleições para o Comité Executivo do organismo que rege o futebol europeu, marcadas para a próxima quinta-feira. Um apoio que o próprio Fernando Gomes já tinha garantido, quando ainda liderava a Federação Portuguesa de Futebol.
"Quero dizer que o doutor Fernando Gomes tem feito um trabalho exemplar no apoio à minha candidatura ao Comité Executivo da UEFA. O apoio que já foi consagrado, no que me diz respeito, a mim e à FPF, dizendo às 55 federações internacionais do apoio do dr. Fernando Gomes. Estamos muito satisfeitos com o apoio do dr. Fernando Gomes", garantiu Proença, no dia 29 de março, sábado.
De seguida veio a surpreendente resposta de Fernando Gomes, horas depois, também em carta endereçada a todas as federações da UEFA, a negar o seu apoio ao homem que agora ocupa o cargo que foi seu entre 2011 e 2025.
"Não declarei nem tenciono intervir no processo eleitoral, como é do conhecimento do presidente da FPF. O meu percurso no futebol terminou", garantiu o eleito de fresco para a presidência do Comité Olímpico de Portugal.
"Foi a maior das surpresas tomar conhecimento de uma carta enviada pelo presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Pedro Proença, na qual o meu nome é mencionado sem consentimento prévio ou mesmo informação [...] Não declarei nem tenciono intervir no processo eleitoral, como é do conhecimento do presidente da FPF. O meu percurso no futebol terminou", começou por dizer Fernando Gomes.$$caption$$
Na mesma carta, o antecessor de Pedro Proença confessou não partilhar "uma visão comum para o futebol e o desporto" com o atual presidente da FPF, a quem deixou muitas críticas.
"Pedro Proença escolheu o caminho da destruição do legado que eu e a minha equipa construímos ao longo de 13 anos, através de decisões e insinuações públicas que visam atacar o nosso bom nome e que, como se verá, são completamente infundadas", refere a carta assinada pelo atual presidente do Comité Olímpico de Portugal.
A Federação Portuguesa de Futebol só reagiu no domingo. O organismo marcou para esta segunda-feira uma reunião de emergência para discutir as "gravíssimas insinuações" de Fernando Gomes, para analisar e avaliar as "consequências das insinuações" do antigo líder, "num momento que antecede as eleições para o Comité Executivo da UEFA", marcadas para 03 de abril e que a FPF considera "importantíssimas para o futebol português, tendo em conta os desafios que se avizinham", como a organização do Mundial2030 e a candidatura à organização do Europeu feminino de 2029.
Da reunião desta segunda-feira, a direção da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) anunciou que vai "pedir audiência com caráter de urgência ao Governo para avaliação dos impactos face aos compromissos assumidos, nomeadamente, a candidatura à organização do Europeu feminino de 2029 e a organização do Campeonato do Mundo de 2030".
Além disso, o organismo que tutela o futebol português assegurou ainda que vai "enviar uma exposição ao Conselho de Ética do COP para avaliação da atuação do presidente do Comité Olímpico de Portugal".
A direção da FPF considera que "o interesse nacional e a própria eleição do candidato nacional neste processo eleitoral fica seriamente comprometida pelo impacto que a posição assumida pelo senhor presidente do Comité Olímpico de Portugal infligiu na credibilidade das mais relevantes instituições desportivas nacionais, que dificilmente será reversível em tempo útil".
Operação Mais-Valia no centro da 'tensão'
As desavenças entre os dois dirigentes terá começado com a Operação Mais Valia, do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa, que investiga suspeitas de crimes como corrupção e fraude fiscal, envolvendo negócios de anteriores mandatos, entre 2016 e 2020, mais precisamente sobre a venda da antiga sede da FPF, em 2018, na Rua Alexandre Herculano, em Lisboa, por mais de 11 milhões de euros.
As buscas na sede da FPF resultaram na constituição de dois arguidos: o antigo deputado do Partido Socialista (PS) António Gameiro e o antigo secretário-geral da FPF Paulo Lourenço. O diretor nacional da PJ, Luís Neves, fez questão de garantir que Fernando Gomes, que liderou a FPF nos últimos 13 anos e é agora presidente do Comité Olímpico de Portugal, e Tiago Craveiro, antigo diretor-geral do organismo federativo, não eram arguidos.
A investigação levou a atual direção da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) a expressar a sua "estupefação e indignação pela forma como a honra e reputação da instituição foram afetadas".
A FPF "reafirmou ainda o "seu compromisso quanto à absoluta intransigência perante práticas ilícitas ou criminais que venham a ser apuradas, agindo de modo inflexível em relação a qualquer pessoa ou entidade que tenha lesado os interesses e o bom nome da instituição".
Por forma a apurar eventuais responsabilidades civis ou criminais, a FPF decidiu estender ao mandato 2016-2020 a auditoria que já decorre, para uma "análise minuciosa e aprofundada, sobretudo nas áreas críticas que envolvem pagamento de comissões, prestações de serviços e procedimentos na área de recursos humanos".
Foi essa última decisão que terá feito transbordar o copo na relação entre Pedro Proença e Fernando Gomes. Ainda no fim semana, o atual líder da FPF não marcou presença na inauguração de uma rua com o nome do agora presidente do COP, Fernando Gomes, perto da Cidade do Futebol.
Clubes e Liga preocupados
A tensão entre Pedro Proença e Fernando Gomes está a ser acompanhada de perto pela da Liga de Clubes e dos emblemas da Primeira Divisão. FC Porto, Sporting e SC Braga, por exemplo, já se mostraram preocupados com as implicações deste desalinhar de ideias. O Benfica é o único dos três grandes que ainda não se pronunciou.$$caption-2$$
Num comunicado publicado no seu site no domingo, o Sporting garante que está a acompanhar "com grande preocupação" toda a polémica e as suas potenciais repercussões na representação do futebol português junto da UEFA", recordando que este é um "momento importante para o futuro do futebol nacional".
A direção liderada por Frederico Varandas "considera fundamental que Portugal mantenha uma voz ativa e influente nos órgãos de decisão do futebol europeu" e recorda que "uma eventual perda de representação portuguesa no Comité Executivo da UEFA poderá comprometer a defesa dos interesses do futebol, fragilizando a posição de Portugal nas grandes decisões estratégicas do futebol europeu e mundial."
Já o FC Porto mostrou "séria preocupação" com a polémica entre Gomes e Proença. A SAD azul e branca recorda que o "Desporto português, e o futebol em particular, atravessam uma fase crucial para o seu desenvolvimento", com Portugal "neste momento envolvido em projetos estruturantes, como a organização do Campeonato do Mundo de 2030 e a candidatura ao Campeonato da Europa de Futebol Feminino de 2029, cujo êxito é crucial para o país."
O clube liderado por André Villas-Boas sublinha que "é absolutamente fundamental que Portugal se mantenha representado nas mais altas instâncias reguladoras do futebol internacional (incluindo na UEFA), por forma a assegurar a proteção dos interesses do futebol português a nível europeu e mundial."
O SC Braga, tal como o Sporting, alertou que a perda de relevância de Portugal na UEFA "pode representar um prejuízo coletivo", "beliscando o interesse dos clubes e das associações"
o Famalicão pediu "um consenso de todas as instâncias nacionais em prol do futebol nacional, de forma a que se mantenha como parte integrante e ativa nos desafios que se seguem no plano internacional."
O Arouca foi duro e criticou as "declarações despropositadas" de Fernando Gomes que podem "prejudicar, conscientemente, o futebol português".
A Liga Portugal reagiu ao reafirmar a "importância de Portugal continuar a contar com um representante português no Comité Executivo da UEFA"
"Os desafios que aguardam o Futebol Português, de vital importância também para os Clubes do Futebol Profissional, não podem ser descurados, tal como não devem os interesses do Futebol Português ser colocados em causa por quem, como presidente do Comité Olímpico de Portugal, tem o dever de por eles zelar" defende o organismo.
De recordar que Fernando Gomes foi membro do Comité Executivo da UEFA durante os 13 anos em que esteve à frente da FPF, além de ter sido vice-presidente do organismo e ainda membro do Conselho da FIFA.
Na próxima quinta-feira há eleições para o Comité Executivo e Proença era um dos nomes falados para o organismo que dirige o futebol europeu. Resta saber como ficará a sua candidatura depois desta polémica.
*Com Lusa