China quer conectar toda América Latina com ferrovias

Perito do think tank chinês avalia cenário da cooperação China-CELAC. Em virtude da realização do 4º Fórum China-CELAC e da visita do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, a Beijing, o diretor do Centro de Estudos Brasileiros da Academia de Ciências Sociais da China, Dr. Zhou Zhiwei, analisou o cenário e os pontos de […] O post China quer conectar toda América Latina com ferrovias apareceu primeiro em O Cafezinho.

Mai 12, 2025 - 18:58
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China quer conectar toda América Latina com ferrovias

Perito do think tank chinês avalia cenário da cooperação China-CELAC.

Em virtude da realização do 4º Fórum China-CELAC e da visita do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, a Beijing, o diretor do Centro de Estudos Brasileiros da Academia de Ciências Sociais da China, Dr. Zhou Zhiwei, analisou o cenário e os pontos de convergência nas cooperações entre China e os países latino-americanos e caribenhos.

Fórum China-CELAC celebra uma década superando meta prevista.

Os dez anos desde a fundação do Fórum China CELAC são justamente a fase em que a cooperação entre a China e a América Latina viveu o seu desenvolvimento mais rápido. Há três fatores que contribuem para esse resultado: o ritmo rápido de intercâmbio bilateral, a cooperação Sul-Sul como prioridade das políticas externas dos dois lados e a ascensão do Sul Global.

Em 2015, na primeira edição do fórum, a China propôs que, depois de uma década, o volume total do comércio bilateral atingisse US$ 500 bilhões de dólares e o investimento chinês da China no continente latino-americano e caribenho somasse US$ 250 bilhões.

Em 2024, o volume do comércio China-CELAC chegou a US$ 518,4 bilhões e os investimentos chineses no continente já ultrapassaram US$ 600 bilhões. Os dados mostram que base em dados, as metas estabelecidas foram atingidas.

Além disso, o mecanismo da cooperação China-CELAC estabeleceu diversos subfóruns na última década, com destaque para o de Infraestrutura China-CELAC. No ano passado, os dois lados realizaram ainda um fórum de cooperação aeroespacial. Podemos dizer que o tópico principal entre China e CELAC passou de comércio e investimento para infraestrutura, agricultura, área de ponta de tecnologia e outros setores.

Pautas de integração da América do Sul são de interesse do Brasil

A importância do Brasil na CELAC é incontestável, pois é o maior país da América Latina e também o país com maior influência internacional na região. Falando das pautas em que o Brasil estará interessado, isso depende de até quanto a China pode responder às demandas dos países latino-americanos. Se a resposta for boa, o Brasil terá mais interesse.

A primeira demanda se encontra na manutenção da ordem internacional, basicamente a manutenção do ambiente comercial eficaz. É nisso que o Brasil está mais interessado no momento. Porque desde que Donald Trump chegou ao poder, a política tarifária teve um impacto enorme nos países latino-americanos e o Brasil sofre de forma mais abrangente. Portanto, na atual situação, o Fórum China-CELAC definitivamente oferecerá uma voz unificada e uma expressão conjunta para combater o unilateralismo e o protecionismo.

O segundo foco se encontra na promoção do crescimento sustentável, o que também é uma prioridade para o bloco conduzir as cooperações. Nos últimos anos, a infraestrutura tem sido um tema relevante na parceria China-CELAC. Com a construção do Porto de Chancay, a China pode conectar efetivamente a América do Sul. Reciprocamente, permite que as estradas, ferrovias, portos da região cheguem ao mercado asiático também de forma eficaz.

Há ainda um terceiro aspecto que creio relacionado à cúpula do BRICS. Se trata de um mecanismo de cooperação aberto, inclusivo e multilateral. Já o Brasil como anfitrião da cúpula, pode convidar outros vizinhos para fazerem parte. Então, voltando ao Fórum China-CELAC, o Brasil pode esperar desempenhar um papel construtivo ou uma ponte na discussão das questões geopolíticas polêmicas, incluindo a segurança internacional, a mediação do conflito Rússia-Ucrânia e outras.

Estados Unidos se preocupam com China e CELAC compartilharem a mesma visão.

Com que os Estados Unidos ficariam preocupados? Há dois pontos. Eles temem que os países latino-americanos e caribenhos compartilhem da mesma visão com a China, seja sobre a situação internacional, a cooperação bilateral ou quanto ao atual ambiente de comércio internacional. Se todos tiverem a ideia de excluir os Estados Unidos? Esse é um ponto que os preocupa.

Outra preocupação é se a China e a CELAC podem alcançar um relacionamento mais próximo por meio deste fórum, especialmente quando isso se coloca num contexto de protecionismo, unilateralismo e comportamento egoísta cada vez mais evidentes dos Estados Unidos. Eles não mostram vontade de aprofundar a cooperação com a América Latina e Caribe. Nessas circunstâncias, a CELAC sente necessidade de ampliar seus canais de cooperação e diversificar seus parceiros. Então, a postura aberta da China certamente está em linha com as atuais demandas políticas da CELAC.

Tais fatores possibilitam novos acordos de cooperação entre a China, os países latino-americanos e caribenhos, envolvendo setores como produtos agrícolas, energia, infraestrutura, tecnologia, etc. Portanto, quando houver mais plataformas e acordos de cooperação, é claro que o relacionamento se tornará mais estreito. Isso pode exigir cautela por parte dos Estados Unidos.

Da perspetiva atual, tanto os países quanto a América Latina como um todo, estão contando com uma autodeterminação estratégica elevada. Por que digo isso? A ascensão do Sul global faz com que um grupo de irmãos pobres possa se levantar agora e lutar por seus próprios direitos. Para os países na posição desfavorecida, é uma tendência que eles se ajudem uns aos outros. Com a ascensão coletiva do Sul Global, o grupo ganha mais força.

Há um terceiro ponto que envolve o próprio relacionamento entre os Estados Unidos, a América Latina e o Caribe, com uma história de mais de 200 anos. Todo esse processo já deu uma lição muito clara: é impossível obter autodeterminação por meio de concessões. Quanto mais você se comprometer, menor será seu espaço de autodeterminação. Com base na experiência histórica, a CELAC aumentará ainda mais suas demandas por autodeterminação.

Nos últimos dois anos, a diplomacia brasileira tem se mostrado muito ativa e confiante, principalmente no que se refere à questão da hegemonia do dólar americano e da reforma do sistema monetário internacional, que vem sendo promovida por meio de swaps cambiais entre os países do BRICS, com o objetivo de impulsionar as relações comerciais entre si. Isso reflete num forte senso de autodeterminação.

É momento oportuno para concretizar a Ferrovia Bioceânica.

Comparado ao passado, a China agora está mais interessada e entusiasmada com a Ferrovia Bioceânica. Os países sul-americanos, incluindo o Brasil, também mostram o mesmo interesse.

Na verdade, a ideia de interligar a infraestrutura de toda a região surgiu há muito tempo. O que atrapalhou? A capacidade de investimento desses países é ainda insuficiente. Nesse caso, a reação positiva da China certamente promoverá o financiamento para projetos de infraestrutura na América do Sul.

Atualmente, o Banco de Desenvolvimento da China, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social do Brasil, bem como o Banco de Desenvolvimento da América Latina( o CAF), estão conduzindo negociações de financiamento para certos projetos de infraestrutura da América do Sul. Além disso, um componente importante de política econômica do governo Lula é o Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, que na prática, necessita ser alavancado através de investimento em infraestrutura.

Afinal de contas, quando olharmos a orientação de políticas dos dois lados, será possível alcançar um acoplamento perfeito.

Avanços tecnológicos da China encorajam outros países em desenvolvimento.

A ciência e tecnologia fazem parte importante da cooperação entre China, Brasil e América Latina. Por um lado, reflete o avanço da China em ciência e tecnologia, que conseguiu um progresso em chips, alcançando uma independência tecnológica, o que dá confiança a outros países em desenvolvimento. Ou seja, muitas coisas não são realizadas apenas pelos países desenvolvidos, mas também pelos países em desenvolvimento.

Em segundo lugar, os países latino-americanos têm um forte desejo e demanda por independência tecnológica, porque em áreas de ponta, a tecnologia é monopolizada pelos países desenvolvidos e, se eles quiserem usá-la, terão que pagar um custo muito alto. O governo de Lula também quer desenvolver tecnologia de chips e obter independência nessa tecnologia. Não podemos simplesmente importar chips dos países desenvolvidos, mas sim concretizar a independência nessa tecnologia.

Enfim, o Brasil também possui vantagens tecnológicas únicas, como agricultura tropical, extração de petróleo em águas profundas, vacinas, etc. Acredito que essas são áreas importantes de cooperação científica e tecnológica entre a China e o Brasil nos últimos anos. Se aproveitarmos essas vantagens, podemos quebrar o monopólio tecnológico dos países desenvolvidos. Necessitamos pensar em como combinar nossas vantagens para realizar uma cooperação eficaz.

Fonte: CMG.

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