A enóloga que revoluciona o espumante argentino com pegada global e uma liderança jovem

Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo. Conheça a história de Ana Paula Bartolucci, que aos 32 anos fez história na indústria vitivinícola desse país O post A enóloga que revoluciona o espumante argentino com pegada global e uma liderança jovem apareceu primeiro em Forbes Brasil.

Mai 15, 2025 - 12:22
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A enóloga que revoluciona o espumante argentino com pegada global e uma liderança jovem

Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.

 

 

Aos 32 anos, Ana Paula Bartolucci fez história na indústria vitivinícola argentina. Nomeada Chef de Cave da Chandon Argentina em 2023, ela foi a primeira mulher a ocupar esse cargo-chave em uma das casas de espumantes mais reconhecidas do mundo. Mas, mais do que o título, o que realmente marca um antes e um depois é sua forma de entender o vinho, a liderança e a inovação. “É um dos grandes passos da minha vida, com certeza. Acho que é consequência do trabalho e da dedicação”, diz com simplicidade em entrevista à Forbes Argentina.

Nascida em San Martín, Mendoza, no coração da vitivinicultura, Bartolucci cresceu com uma conexão orgânica com a terra, as videiras e o vinho. Estudou enologia na Universidade Don Bosco e, desde seus primeiros passos, estabeleceu um objetivo claro: se profissionalizar ao máximo, somar experiências e romper tetos. Sua trajetória a levou a trabalhar em vinícolas da Argentina, África do Sul e Espanha, onde não apenas aperfeiçoou técnicas, mas também, como ela mesma conta, aprendeu uma lição vital: “O vinho une. Une culturas, amigos, famílias. Quando se faz as coisas com paixão, isso se sente no produto final”.

Hoje, a enóloga a elaboração de todos os espumantes da Chandon Argentina, incluindo joias como o Blanc de Noirs, seu favorito pessoal, e sucessos internacionais como o Garden Spritz, o produto que a catapultou como referência em inovação.

A indústria do vinho tem sido historicamente um território masculino. Mas Ana Paula não ficou esperando que as regras mudassem: escolheu avançar com convicção. “Nunca senti que ser mulher tenha sido uma barreira”, afirma. “Acho que depende mais da personalidade de cada um do que do gênero. Sempre trabalhei com muita energia, vontade de aprender e a certeza de querer crescer.”

Essa determinação a tornou a quinta Chef de Cave na história da vinícola e o rosto visível de uma nova geração de enólogos e enólogas que entendem o vinho não apenas como tradição, mas como linguagem contemporânea. Seu estilo de liderança se baseia em valores como escuta, comunicação aberta e trabalho em equipe: “Vir trabalhar com boa energia e um sorriso faz com que todos possamos dar o nosso melhor”.

Garden Spritz: o marco que cruzou fronteiras

Em 2021, o lançamento do Chandon Garden Spritz na Europa surpreendeu o mundo do vinho. Inspirado no clássico spritz italiano, mas com elaboração artesanal e uma mistura secreta de especiarias e cascas de laranja, esse espumante disruptivo se tornou um sucesso de vendas em países como Alemanha, Suíça e Bélgica.

“A ideia surgiu da observação do consumidor. Se há algo que nos caracteriza na Chandon é ler as tendências e desenvolver produtos que, com a qualidade que nos distingue, abram novas fronteiras”, explica Ana Paula. Mas o maior desafio não foi técnico, e sim cultural: “Na Argentina, Chandon é sinônimo de espumante tradicional. No exterior, muitas pessoas só conhecem o Garden Spritz. Então, temos que contar nossa história completa, mostrar que também temos vinhos como o Extra Brut ou o Blanc de Blancs, que são produtos incríveis”.

Num mundo em que as vinícolas buscam se reinventar sem perder a identidade, Bartolucci entende que a chave está em saber quando inovar e quando aperfeiçoar o que já é clássico. “Um mestre que trabalha comigo diz algo que adoro: ‘Podemos nos permitir abrir o leque dentro da inovação porque conquistamos credenciais com nossos produtos mais tradicionais’.”

Essa filosofia a levou a explorar novas técnicas, variedades e terroirs. “Inovar nem sempre significa romper com tudo. Às vezes, é refinar, elevar o que já fazemos bem. Outras vezes, como com o Garden Spritz, trata-se de propor algo totalmente novo, mas com a qualidade de sempre.”

E, para ela, a qualidade não é negociável: “Estar atento aos detalhes sempre fará a diferença. Desde a colheita até a rotulagem, tudo influencia no resultado final.” Sua forma de fazer vinho parte de uma premissa clara: deixar que o terroir se expresse. “Minha filosofia é tentar extrair o melhor de cada matéria-prima. Que as práticas enológicas acompanhem e potencializem as características de cada lugar de Mendoza, e de cada safra com suas cores especiais.”

Esse respeito pela origem não a impede de apostar em novos estilos. De fato, Bartolucci é uma das impulsionadoras de uma linha de espumantes pensada para novos públicos: “Conseguimos manter nossos vinhos tradicionais e ao mesmo tempo criar os nossos ‘espíritos livres’. São vinhos espumantes pensados para um consumo mais descontraído, com gelo, até mesmo com coquetelaria”.

Essa abordagem mais leve e descomplicada permitiu à Chandon conectar-se com um público jovem, diverso e global. Mas, por trás do sucesso, há uma visão estratégica que entende o vinho como uma experiência que se adapta ao estilo de vida do consumidor.

Quando perguntada sobre que conselho daria a jovens enólogos — e especialmente a mulheres que querem trilhar um caminho na indústria —, Ana Paula não hesita: “Fazer vinhos é expressar um lugar, uma matéria-prima que vem da terra. Essa transformação é o mais bonito, e a dedicação e a paixão têm um papel fundamental”.

Sua própria trajetória é prova disso. Em menos de uma década, passou de jovem enóloga mendocina a líder de uma das casas de espumantes mais influentes da América Latina. E fez isso sem copiar modelos — criou o seu próprio.

Projeção internacional: as borbulhas argentinas no mundo

Para além do sucesso do Garden Spritz, Bartolucci tem uma visão clara sobre o futuro do espumante argentino: conquistar mais mercados internacionais, mas com uma oferta mais ampla. “Quando saímos e provamos nossos vinhos espumantes lá fora, estamos totalmente à altura da competição. Nosso cenário ideal seria mostrar que somos excelentes produtores de borbulhas.”

A Chandon já trabalha para levar produtos como o Extra Brut e o Blanc de Blancs a novos países, e Ana Paula faz parte ativa dessa estratégia — não apenas como enóloga, mas como embaixadora da marca.

Embora tenha elaborado dezenas de espumantes, Bartolucci tem um favorito claro: o Chandon Blanc de Noirs. “É 100% Pinot Noir, método tradicional, 24 meses sobre as borras. Escolho ele pela complexidade e riqueza que aporta. Os Pinot cultivados entre 1400 e 1650 metros nos oferecem uma mistura incrível de frutas vermelhas e especiarias, e uma boca que nos permite brincar com a estrutura da variedade.”

Ana Paula Bartolucci está ditando o ritmo de uma nova era da enologia argentina. Com uma combinação de conhecimento técnico, sensibilidade para ler o consumidor e coragem para inovar sem perder a identidade, lidera uma transformação profunda na forma de produzir e pensar o espumante no país. Ela não busca repetir fórmulas: aposta em criar, ouvir e abrir caminhos. E embora seus vinhos já brilhem nas taças da Europa, sua missão é maior: fazer com que o mundo reconheça a Argentina como uma potência em espumantes — e que mais mulheres possam chegar, como ela, a lugares onde antes não eram convidadas.

 

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