Brasil em Paris: A Maison La Roche é a sede da exposição Aberto4, com nomes da arte nacional
Por Livia Debbane O que define uma obra de arte site-specific é ter sido pensada para um local em particular. A nova edição da Aberto amplia esse conceito para uma exposição. Capitaneado por Filipe Assis ao lado da designer Claudia Moreira Salles e da curadora Kiki Mazzucchelli, o evento nasceu em São Paulo, em 2022, […] O post Brasil em Paris: A Maison La Roche é a sede da exposição Aberto4, com nomes da arte nacional apareceu primeiro em Harper's Bazaar » Moda, beleza e estilo de vida em um só site.

Por Livia Debbane
O que define uma obra de arte site-specific é ter sido pensada para um local em particular. A nova edição da Aberto amplia esse conceito para uma exposição. Capitaneado por Filipe Assis ao lado da designer Claudia Moreira Salles e da curadora Kiki Mazzucchelli, o evento nasceu em São Paulo, em 2022, e ocupou, desde então, quatro casas modernas históricas, com arte brasileira e internacional. “O nome veio da vontade de abrir diálogos, num caráter desde sempre itinerante”, diz Filipe. Neste desígnio, a Aberto4 chega, neste mês, a Paris, elegendo lugar e momento específicos: uma casa projetada por Charles- Édouard Jeanneret-Gris – ou Le Corbusier – e o ano do Brasil na França.
A Maison La Roche (1923-25) fica no pacato e burguês 16° arrondissement, em uma rua fechada, e já à primeira vista sua fachada austera – um simples muro branco recortado por esquadrias de ferro pintadas de preto – contrasta com o entorno de construções de estilos passadistas (embora, a poucas quadras dali, na rua Mallet-Stevens, haja outras joias da arquitetura revolucionária daquele período). Com seu principal volume pousando sobre os obrigatórios pilotis de Le Corbu, a sensação é de chegar a um lugar familiar, quase banal, se ignorarmos a completa novidade daquela linguagem em seu surgimento. Ao atravessar a porta de entrada, o olhar é imediatamente levado para o alto, seduzido pelo pé-direito triplo banhado de luz e adornado por terraços, mezaninos e janelas, tudo geometricamente disposto.
A conexão de Le Corbusier com a América Latina remonta à mesma década da construção da casa. Em 1929, o suíço, já residente em Paris, fez sua primeira visita ao Brasil no contexto de conferências catequizantes da arquitetura moderna. Corbusier, que se tornaria a grande influência para a escola carioca de arquitetura, voltou ao Rio de Janeiro poucos anos depois, incumbido de projetar o Ministério da Educação e da Saúde, o que ele fez junto a um grupo de arquitetos locais que incluía Lucio Costa, Oscar Niemeyer, Affonso Reidy e Carlos Leão. Pedra fundamental do nosso modernismo, o edifício Capanema (1936-45) reuniu nomes como Portinari e Burle Marx para a realização da sua “obra de arte total”, semeando colaborações que teriam seu apogeu em Brasília. Mais tarde, no final dos anos 1950, Costa e Corbu ainda trabalhariam no projeto da residência para estudantes brasileiros na Cidade Universitária de Paris, a Maison du Brésil.
Esse é o rico estofo que fundamenta a Aberto4. Há um núcleo histórico, que teve a curadoria do escritor Lauro Cavalcanti, especialista nesses diálogos atlânticos, que inclui documentos, desenhos arquitetônicos, uma pintura de Le Corbusier e uma guache de Burle Marx. Obras de artistas brasileiros, por sua vez, ocupam os espaços nada convencionais da casa: da ampla sala margeada por uma rampa em curva marrom e uma sanca de luz pintada de azul a ambientes mais reservados e íntimos. Elegantemente posicionadas pelos curadores, pinturas, esculturas, colagens e instalações inéditas de Beatriz Milhazes, Antonio Tarsis, Luiz Zerbini e Maria Klabin comentam ou se alimentam dos muitos liames dessa história, enquanto obras de Lygia Clark, Lygia Pape, Maria Martins e Sergio Camargo completam o testemunho de um período no qual o Brasil brilhou.
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