Web Summit Rio: IA como alavanca para sustentabilidade dá o tom do debate

RIO DE JANEIRO – A Inteligência Artificial (IA) avança e o amadurecimento da tecnologia aponta cada vez mais para o desenvolvimento de soluções e modelos de negócio mais sustentáveis e inclusivos. No terceiro dia do Web Summit Rio 2025, essa tendência foi foco de debates entre startups, grandes empresas de tecnologia e organizações sem fins lucrativos. E o Brasil figura como um palco importante de investimentos em plataformas de IA.
Ao mesmo tempo em que espera investir R$ 14,7 bilhões em infraestrutura de AI no mercado brasileiro, a Microsoft busca usar qualificar sua mão de obra para operar com a nova tecnologia. Segundo a presidente da empresa no Brasil, Priscyla Laham, em menos de um ano o programa ConectAI da Microsoft já capacitou 2,4 milhões de brasileiros no uso da Inteligência Artificial. A meta é alcançar 5 milhões de pessoas.

“A capacitação da força de trabalho ainda é uma barreira para que grande parte das empresas adote soluções de IA, uma tecnologia fundamental para o desenvolvimento econômico com mais sustentabilidade e inclusão”, afirmou Priscyla.

IA e o futuro da alimentação

Os modelos sustentáveis também impulsionam negócios entre as startups presentes ao Web Summit Rio 2025, como a chilena NotCo, empresa que usa algoritmos de Inteligência Artificial para criar alimentos saudáveis, com baixo impacto ambiental. Por meio de uma plataforma de IA própria, a Giuseppe, a NotCo simula texturas, sabores e aromas dos alimentos, antecipando o resultado das interações químicas entre os ingredientes. Dessa forma, usando abacaxi e repolho, por exemplo, foi possível produzir leite de origem vegetal, com o mesmo sabor e cheiro do produto tradicional.

Hoje, os produtos da empresa estão presentes no Chile, Brasil, Argentina, Colômbia, México, Canadá e Estados Unidos. “O futuro da comida vai ser determinado pela Inteligência Artificial”, afirmou Mathias Muchnick, fundador da NotCo, no palco principal do Web Summit Rio. “Riram da gente quando falamos isso, mas o mercado entendeu que a tecnologia de IA permite desenvolver alimentos sustentáveis melhores, mais rápido e com menor custo.”

Inclusão na fronteira do espaço

A preocupação com a inclusão também chega ao espaço. Tornar a exploração espacial mais acessível e inclusiva é um dos objetivos da Deep Space Initiative, organização sem fins lucrativos fundada pela astronauta egípcia Sara Sabry. A iniciativa promove a colaboração entre cientistas, engenheiros, advogados e designers para enfrentar os desafios da exploração espacial, provando que fronteiras podem ser superadas e mais países tenham voz na definição do futuro da exploração além da Terra.

Segundo Sara, a expansão das missões comerciais ao espaço abre uma nova fronteira de inclusão de gênero e etnia. “Fui a primeira mulher árabe a ir ao espaço e isso seria impensável cinco anos atrás”, observou. O uso da tecnologia, por sua vez pode viabilizar mais missões. “A Inteligência Artificial já vem sendo utilizada e com certeza vai baratear as missões espaciais”, respondeu Sara, ao InfoMoney. “Já estamos usando essas ferramentas para realizar em dois dias tarefas que levavam dois meses”.

Dados pessoais vão virar ativos

Ainda no terceiro dia do Web Summit Rio 2025, a Dataprev, empresa pública de TI, anunciou uma parceria com a DrumWave, empresa especializada em tecnologia de propriedade de dados. O objetivo é permitir a gestão da propriedade de dados individuais, transformando as informações em ativos dos usuários.

O projeto contempla a criação de uma conta de poupança de dados individual, que permitirá aos usuários a possibilidade de receber valores ao autorizar a venda de dados pessoais. “Hoje, quando dados são vendidos a instituições financeiras ou empresas de tecnologia, os proprietários não recebem nada por isso”, observou Britney Kaiser, conselheira da DrumWave e presidente da Own Your Own Data Foundation. “Nesse modelo, os donos da informação receberão 50% do valor arrecadado”.

Os dados só serão disponibilizados com a autorização dos usuários, que a qualquer momento poderão retirar suas informações do mercado. Além disso, a oferta dos dados será anônima, impedindo a identificação individual dos proprietários. “Os recursos receberão rendimentos e poderão ser utilizados livremente, incluindo a possibilidade de aplicação em investimentos focados em soluções tecnológicas de Inteligência Artificial”, disse o presidente da Dataprev, Rodrigo Assumpção. “Isso vai promover inclusão digital e financeira em larga escala.”

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