Um ano com D. Dinis (26)
Representação de D. Afonso III na Viagem Medieval de Santa Maria da Feira 2015 Há três dias, mencionei aqui o casamento de D. Afonso IV. Hoje, é a vez do avô, D. Afonso III, cujo segundo consórcio se realizou em 1253, cinquenta e seis anos antes do do neto, que aliás nunca conheceu. É curioso verificar haver três pontos em comum entre os dois enlaces. Também o pai de D. Dinis casou no mês de Maio, também no caso dele não se sabe o dia e a sua noiva ostentava os mesmos nome e estatuto: infanta D. Beatriz de Castela. A diferença de idades entre os nubentes era, porém, muito maior: a noiva teria apenas onze anos, o noivo ia pelos quarenta. Este casamento surgiu na sequência de um Tratado de Paz entre Portugal e Castela por causa da questão do Algarve. Mas D. Afonso III foi acusado de bigamia pelo papa Alexandre IV, que, dois anos mais tarde, lançaria o interdito sobre Portugal. Um reino sob interdito estava proibido de celebrar missas e sacramentos (incluindo casamentos e baptizados), situação que durou quase dez anos. A razão para medida tão severa: à altura do seu casamento com D. Beatriz, D. Afonso III era ainda casado com Matilde de Boulogne. O pai de D. Dinis passou a sua juventude na corte francesa, durante a regência de sua tia Branca, antiga infanta de Castela. Em 1239, a tia arranjou-lhe casamento com a viúva Matilde de Boulogne, bastante mais velha do que ele, mas filha única da condessa Ida e herdeira daquele condado. Passados seis anos, porém, D. Afonso regressou sozinho a Portugal, a fim de tomar conta do reino mal governado por seu irmão D. Sancho II. Oito anos mais tarde, já coroado rei, e no intuito de pôr fim ao conflito com o monarca castelhano por causa do Algarve, casou com Beatriz, ignorando Matilde por completo, de quem vivera separado todo este tempo. D. Afonso III chegou ao ponto de ignorar uma ordenação papal para se apresentar em Roma, a fim de ser julgado por bigamia. O problema resolveu-se, contudo, por si, pois Matilde morreria inesperadamente. Mas só em Junho de 1263, passados cinco anos sobre a morte da malograda condessa, um novo papa, Urbano IV, legitimou o segundo consórcio do monarca, levantando o interdito sobre o reino. À altura do seu nascimento, a 9 de Outubro de 1261, D. Dinis era, no fundo, ilegítimo e este argumento foi usado por seu irmão Afonso, quando, pela terceira vez, se revoltou contra o rei, em 1299, obrigando D. Dinis a montar cerco a Portalegre. D. Afonso alegava ter mais direito ao trono por ter nascido numa data mais próxima da legalização do casamento dos pais (6 de Fevereiro de 1263). D. Afonso III e D. Beatriz tiveram sete filhos: Infanta D. Branca, nascida em Fevereiro de 1259 D. Dinis, nascido a 9 de Outubro de 1261 Infante D. Afonso, nascido a 6 de Fevereiro de 1263 Infanta D. Sancha, nascida a 2 de Fevereiro de 1264 (faleceu com cerca de vinte anos) Infanta D. Maria, nascida em Fevereiro ou Março de 1265 (faleceu com pouco mais de um ano) Infante D. Vicente, nascido a 22 de Janeiro de 1268 (falecido ainda criança) Infante D. Fernando, nascido em 1269, falecendo pouco tempo depois.


Representação de D. Afonso III na Viagem Medieval de Santa Maria da Feira 2015
Há três dias, mencionei aqui o casamento de D. Afonso IV. Hoje, é a vez do avô, D. Afonso III, cujo segundo consórcio se realizou em 1253, cinquenta e seis anos antes do do neto, que aliás nunca conheceu. É curioso verificar haver três pontos em comum entre os dois enlaces. Também o pai de D. Dinis casou no mês de Maio, também no caso dele não se sabe o dia e a sua noiva ostentava os mesmos nome e estatuto: infanta D. Beatriz de Castela. A diferença de idades entre os nubentes era, porém, muito maior: a noiva teria apenas onze anos, o noivo ia pelos quarenta.
Este casamento surgiu na sequência de um Tratado de Paz entre Portugal e Castela por causa da questão do Algarve. Mas D. Afonso III foi acusado de bigamia pelo papa Alexandre IV, que, dois anos mais tarde, lançaria o interdito sobre Portugal. Um reino sob interdito estava proibido de celebrar missas e sacramentos (incluindo casamentos e baptizados), situação que durou quase dez anos.
A razão para medida tão severa: à altura do seu casamento com D. Beatriz, D. Afonso III era ainda casado com Matilde de Boulogne. O pai de D. Dinis passou a sua juventude na corte francesa, durante a regência de sua tia Branca, antiga infanta de Castela. Em 1239, a tia arranjou-lhe casamento com a viúva Matilde de Boulogne, bastante mais velha do que ele, mas filha única da condessa Ida e herdeira daquele condado.
Passados seis anos, porém, D. Afonso regressou sozinho a Portugal, a fim de tomar conta do reino mal governado por seu irmão D. Sancho II. Oito anos mais tarde, já coroado rei, e no intuito de pôr fim ao conflito com o monarca castelhano por causa do Algarve, casou com Beatriz, ignorando Matilde por completo, de quem vivera separado todo este tempo.
D. Afonso III chegou ao ponto de ignorar uma ordenação papal para se apresentar em Roma, a fim de ser julgado por bigamia. O problema resolveu-se, contudo, por si, pois Matilde morreria inesperadamente. Mas só em Junho de 1263, passados cinco anos sobre a morte da malograda condessa, um novo papa, Urbano IV, legitimou o segundo consórcio do monarca, levantando o interdito sobre o reino.
À altura do seu nascimento, a 9 de Outubro de 1261, D. Dinis era, no fundo, ilegítimo e este argumento foi usado por seu irmão Afonso, quando, pela terceira vez, se revoltou contra o rei, em 1299, obrigando D. Dinis a montar cerco a Portalegre. D. Afonso alegava ter mais direito ao trono por ter nascido numa data mais próxima da legalização do casamento dos pais (6 de Fevereiro de 1263).
D. Afonso III e D. Beatriz tiveram sete filhos:
Infanta D. Branca, nascida em Fevereiro de 1259
D. Dinis, nascido a 9 de Outubro de 1261
Infante D. Afonso, nascido a 6 de Fevereiro de 1263
Infanta D. Sancha, nascida a 2 de Fevereiro de 1264 (faleceu com cerca de vinte anos)
Infanta D. Maria, nascida em Fevereiro ou Março de 1265 (faleceu com pouco mais de um ano)
Infante D. Vicente, nascido a 22 de Janeiro de 1268 (falecido ainda criança)
Infante D. Fernando, nascido em 1269, falecendo pouco tempo depois.