Silvia Braz: “Não sou refém de aparência, envelhecer é um privilégio”
Aos 44 anos, ela fala sobre envelhecer diante das telas, a relação com as filhas, o desprendimento do julgamento alheio e os desejos para o futuro

Não fazia frio em São Paulo, mas ela usava casacos. Silvia Braz acordou cedo, tomou banho e se arrumou depressa para não perder o voo. De Carol Bassi e Ferragamo, maquiagem discreta e cabelos ajeitados, carregava o passaporte e a passagem de primeira classe com uma certeza: sua viagem a St. Moritz, na Suíça, seria espiada por 1,8 milhão de pessoas — afinal, a transmissão aconteceria em tempo real em seu perfil no Instagram.
Tudo importa para quem a acompanha, desde os passeios de esqui, passando pelos chocolates quentes nos fins de tarde, até a queda do dente da filha mais nova. Cenários glaciais, mesas repletas de frutas vermelhas e looks luxuosos são meros coadjuvantes desse reality show. Para realizar a empreitada, Silvia conta com uma equipe profissional de stylist, fotógrafos e assessores, um grupo pequeno comparado ao que está acostumada a mobilizar em suas coberturas de semanas de moda internacionais.
A viagem vai além do que aparece nas telas. Certo ano, Silvia foi convidada pelo governo suíço com a intenção de promover o turismo local. Não poderiam estar mais certos. Nos últimos anos, suas publicações sobre o pequeno país europeu levaram a um aumento no número de brasileiros hospedados em destinos como St. Moritz. Parece exagero, mas este é apenas um dos exemplos do impacto real de Silvia Braz.
A história de Silvia Braz

A história de Silvia nem sempre teve como pano de fundo os cenários alpinos. Nascida em Campos dos Goytacazes, no interior do Rio de Janeiro, ela veio de uma família de classe média. Aos 10 anos, perdeu o pai e passou a ser criada pela mãe, com o apoio das irmãs e da avó. O pai, que fora advogado, militante político e responsável por levar o PDT à cidade fluminense, deixou como herança o gosto pela literatura e o desejo de cursar Direito.
Ainda pequena, Silvia participava dos festivais de poesia na escola e cultivava a proximidade com os livros, um hábito que segue até hoje: “tenho uma coleção do Gabriel García Márquez na minha cabeceira”. Também há espaço para recomendações nacionais: Tudo É Rio, de Carla Madeira — autora que, por feliz coincidência, é a capa desta edição — está entre seus favoritos. “Livro excelente, de uma história profunda”, opina.
Durante uma live no auge da pandemia, chegou a ler uma das citações favoritas de seu pai, do ensaio Retorno a Tipasa, do escritor francês Albert Camus. “No meio do ódio, descobri que havia, dentro de mim, um amor invencível. No meio das lágrimas, descobri que havia, dentro de mim, um sorriso invencível. No meio do caos, descobri que havia, dentro de mim, uma calma invencível”, ela leu. O objetivo era levar esperança aos seguidores naquele momento tão crítico.
A infância de Silvia dava pistas do que viria pelo futuro. De olho no espelho, copiava as propagandas que passavam na TV — lembra-se especialmente de imitar as atrizes que anunciavam o condicionador Neutrox, sucesso de vendas nos anos 1980 e 1990. “Acho que eu nem sabia, mas queria algo na comunicação.” O caminho até lá, porém, ainda tomaria um tempinho.
Aos 20 anos, Silvia se casou com o empresário Glauco Braz e se mudou para Minas Gerais. Estudante de Direito, estagiou na Promotoria Pública do Estado, sonhando com um concurso, mas desistiu porque tinha duas filhas pequenas e um novo cargo poderia exigir mais uma mudança de cidade.
Também não se sentia motivada, e por isso resolveu parar. “Preciso amar o que estou fazendo para continuar fazendo.” Foi aos 30 anos, porém, que sua vida mudou de rumo. Incentivada pela filha mais velha, Maria Vitória, resolveu criar um blog sobre moda, beleza e lifestyle, sempre com um olhar pessoal.
No blog, publicava roteiros para Paris, Nova York e Itália, no estilo ‘gente como a gente’. Havia comentários pessoais, como “me encontro com uma insônia daquelas”, além de fotos de looks, receitas da família e textos sobre a vida familiar. Foi um sucesso. Do blog, migrou para o Snapchat e, mais tarde, para o Instagram, onde construiu uma audiência fiel.
Sua fórmula do sucesso

Silvia se diferencia na multidão de criadores de conteúdo: em 15 anos de carreira, nunca enfrentou um cancelamento — feito raro na internet de influência. Ao contrário de tantas celebridades que transformam crises pessoais em novelas, a influenciadora prefere tratar assuntos íntimos de forma serena e visivelmente elaborada.
Prova disso é que seu casamento acabou depois de 21 anos, em 2021, sem fofocas públicas. Até hoje, ela aborda o término com delicadeza. “Meu ex-marido foi muito importante para minha carreira, sempre me impulsionou. É importante que as mulheres tenham parceiros que as incentivem.”
Não é por acaso que as marcas desejam sua assinatura, e os seguidores a enxergam como fonte máxima de inspiração. Silvia passa um ar de confiabilidade e sinceridade. Já vendeu 130 bolsas de luxo com um único post e, até aqui, esgotou todas as coleções que assinou, entre roupas, sapatos e acessórios.
Outro feito marcante foi sua campanha de Dia das Mães para a Arezzo, que bateu o recorde de vendas em 50 anos de marca. “Quando entro para trabalhar com uma empresa, não quero ser um rostinho bonito lá dentro, ser linda no Instagram e ter um feed perfeito. Nunca quis isso e não vejo a menor graça. O que eu quero é fazer o ponteiro de venda girar, entregar resultados, e isso é muito relevante no mercado.”
Ela credita seu lugar ao sol à paciência. “Foi muito trabalho até chegar aqui. As pessoas são imediatistas e querem tudo em um ano, mas nunca desejei isso porque não se sustenta. Fiz boas escolhas, mas passei 14 anos sem tirar um dia para não produzir conteúdo. Não descansei. Quando você tem ganhos, você tem perdas. Perdi coisas pelo caminho com esse foco tão grande, mas no momento fazia sentido e fico feliz de estar aqui”, afirma.
A clareza sobre como encarar alegrias e desafios ajuda Silvia em tudo, inclusive a se sentir bem na própria pele. “Estou envelhecendo diante de milhares de pessoas e não me sinto cobrada por ninguém. Vivo a minha versão mais interessante. Beleza, para mim, é vibrar com a vida, e isso perdura. Não sou refém da aparência.” Comentários negativos já não a afetam. “Se um dia me abalaram, não lembro. Quando vejo essas críticas, sinto pena. É de uma pequenez, uma visão tão limitada da vida. Envelhecer é um privilégio. Com a maturidade, me sinto mais interessante, confiante e inteligente.”
A relação de Silvia com a maternidade

Silvia é tão competente no que faz, que acabou fazendo herdeiras — literalmente. Maria Vitória seguiu os passos da mãe e tornou-se uma das influenciadoras mais requisitadas do mercado no ano passado. O levantamento da Influency.me, plataforma que mensura e gere campanhas com criadores de conteúdo, mostra que a jovem ocupa a 6° posição entre os influenciadores mais procurados pelas marcas em 2024, atrás apenas de nomes como Jade Picon, Maísa e Camila Coutinho.
No início, a mãe teve receio. “Você precisa estar muito preparada para se expor, porque vai receber todo tipo de comentário. E uma menina mais nova não está preparada para essas porradas da vida.” Ela diz que a vida pública e os comentários sobre a sua filha a abalam muito mais do que qualquer opinião voltada a ela mesma.
“Quando é algo comigo, sou muito prática, não me pega. Mas com uma filha dói cinco vezes mais.” Ainda assim, Silvia não perde a oportunidade de lamber a cria. “Ela está construindo uma carreira completamente descolada da minha, com uma visão mais fresh. Tenho muito orgulho disso.”
A maternidade, aliás, ocupa um grande espaço na vida de Silvia. Mãe de Maria Vitória, Maria Antônia e Maria Isabela, ela reserva um lugar tão grande quanto o da sua carreira para os momentos em família. “Minhas filhas preenchem minha vida. Quando estou sem elas, me sinto desfalcada. Não que as outras partes sejam menos importantes. Meu trabalho me deu independência financeira e me mantém viva, por exemplo, mas elas trazem alegria, loucura e confusão, tudo o que gosto.”
Embora não seja adepta de metas por considerar que elas frustram mais do que qualquer outra coisa, Silvia conquistou um dos maiores desejos de qualquer influenciador: ser embaixadora de grandes marcas, como BTG Pactual e 3 Corações. Além disso, já trabalhou com nomes como JHSF, Audi, Gucci, Valentino, Ferragamo e Dior. Sua combinação de estratégia, autenticidade e visão de longo prazo solidifica seu lugar como uma das influenciadoras mais respeitadas do Brasil.
Por isso, não deixa de sentir orgulho de si mesma. “A gente precisa ter muita coragem para fazer o que quer, quando quer. Hoje em dia as pessoas sabem que ser uma influenciadora é um trabalho importante para movimentar o mundo da moda. Há 15 anos isso não era um trabalho, era um hobby. E eu tive coragem de abrir meu blog. Hoje, 15 anos depois, vivo o melhor momento da minha vida.” A calma invencível, de Camus, que ela citou durante a pandemia, parece nortear toda a sua vida.
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