“Primeiro partem-nas, depois levam.” O insólito caso das árvores desaparecidas em Alvalade

Desde Dezembro, desapareceram quatro árvores de um logradouro público e outras foram arrancadas e depositadas metros à frente. Ninguém sabe quem o faz nem porquê. Marta Santos denunciou.

Mar 13, 2025 - 12:33
 0
“Primeiro partem-nas, depois levam.” O insólito caso das árvores desaparecidas em Alvalade
“Primeiro partem-nas, depois levam.” O insólito caso das árvores desaparecidas em Alvalade

Marta Almeida Santos mora em Alvalade, no Bairro das Caixas, junto a um dos logradouros públicos projectado sob o vulto de Salazar, como espaço onde a vizinhança se pudesse encontrar e cultivar, como numa aldeia. Ali se plantaram, durante anos, várias árvores de fruto, dando-se entre crianças e adultos o culto da "chinchada" e da vida ao ar livre. Tudo mudou e o logradouro entre as ruas João Lúcio e Antónia Pusich tornou-se "um espaço onde só havia entulho, lixo, construções ilegais, como garagens, arrecadações... E também alguns jardins de vizinhos, que decidiram avançar pelo terreno", conta a residente. Durante a pandemia, porém, o local ganhou nova vida, com a reabilitação levada a cabo pela Junta de Freguesia.

Esta é a história linear, e resumida, deste pequeno oásis de Alvalade (nome que significa, já agora, "campo ou pátio murado"). A linha quebra, no entanto, no final de Dezembro do ano passado, quando começaram a desaparecer árvores, de forma estranha, do local. "O método é sempre o mesmo", relata Marta. "Primeiro partem-nas, a meio ou alguns ramos. Ficam assim um ou dois dias, e depois levam-nas. É, no mínimo, insólito."

Marta Almeida Santos
Rita ChantreMarta Almeida Santos

Até ao início deste mês de Março, quatro exemplares desapareceram da vista da moradora e dos vizinhos, deixando buracos no solo e a terra remexida como testemunhas. "Outras vamos encontrar noutros sítios, como aquela ali", aponta a freguesa atenta e autora do livro Paredes Meias, sobre os logradouros de Alvalade. A árvore, de raízes suspensas e sem sentido, está agora deitada junto a um muro de cimento. Marta Santos apronta-se para ir buscar a pá, com o intuito de replantá-la. "Umas aguentam, outras não, mas até tem corrido bem."

Entre a Junta, a polícia e as redes

Não conseguindo destrinçar uma lógica, os vizinhos questionam-se sobre os potenciais motivos por detrás da destruição e do roubo de árvores. A situação foi reportada tanto por Marta Santos como por outros vizinhos à Junta de Freguesia de Alvalade e à Polícia de Segurança Pública (PSP). Se a Junta reagiu afirmando "estar a trabalhar na situação", nas palavras da moradora, a PSP tem emitido respostas distintas e desconexas aos diferentes contactos. "Chegaram a dizer que nunca tinham ouvido falar disto", conta Marta Santos, que também denunciou o caso nas redes sociais, na esperança de mobilizar alguma massa crítica e de dar maior visibilidade ao caso. De nenhuma das frentes obteve especial resultado.

Logradouro de Alvalade
Rita ChantreLogradouro de Alvalade

"Este lugar é incrível. Há aqui corujas, corvos, melros... Mas não é assim tão frequentado. Vêm cá alguns vizinhos com cães, estudantes, os hortelãos da zona, eu... Mas não há propriamente um sentido de comunidade em Alvalade. Isso perdeu-se", lamenta a moradora. Quanto à ausência de intervenção ou de vigilância da parte da polícia, a justificação que alguns vizinhos encontram é que talvez tenham "mais que fazer" do que preocupar-se com algumas árvores que desapareceram de um terreno público.  

Fotos publicadas em Fevereiro por Marta Almeida Santos nas redes sociais
DRFotos publicadas em Fevereiro por Marta Almeida Santos nas redes sociais

Desde Dezembro, quando tudo começou, ninguém foi avistado a retirar ou a danificar árvores deste logradouro nas traseiras da Escola Básica Santo António. "Talvez seja só alguém, ou algum grupo, a querer fazer disparates", pondera Marta Santos, que até já encomendou uns chips de localização para espalhar pelas árvores do logradouro. Caso alguma volte a desaparecer, talvez assim encontre pistas.