Um Sónar consolidado vai fazer do Parque Eduardo VII uma enorme pista de dança
O quarto certame lisboeta inaugura a temporada festivaleira, entre 11 e 13 de Abril. Seguem-se, nos meses seguintes, edições na Turquia e em Barcelona.


Mostrar a cena electrónica local ao resto do mundo. Passados quatro anos, de acordo com o co-director do Sónar Lisboa, o catalão Enric Palau, este continua a ser o grande objectivo deste festival, que se realiza entre 11 e 13 de Abril, no Parque Eduardo VII. “A nossa intenção não é replicar exactamente o modelo [de Barcelona]”, diz. “Mas que tenha a sua própria identidade, em termos de formato e de conteúdo artístico.”
Uma diferenciação que passa pela “utilização de espaços tão atraentes como o Pavilhão Carlos Lopes e arredores”, e é condicionada pela menor dimensão desta encarnação nacional – vão actuar cerca de 120 artistas em Barcelona, enquanto em Portugal são menos de 50, e muitos já trabalham aqui. “Lisboa tem uma identidade cultural e musical própria, enformada pela diásporas africana e sul-americana”, defende Enric. “E isto confere um carácter [único e] muito interessante ao festival.”
Por isso, a organização pediu a três colectivos e editoras locais, a Príncipe, o Dengo Club e a Enchufada, para desenvolverem “um programa poliédrico e diversificado de música urbana actual [a partir] do prisma lisboeta, mas ligado a outras latitudes”.
A proposta mais arrojada é a da Príncipe, que programa um dos palcos no sábado, 12, durante a tarde, em colaboração com a Tra Tra Trax. É algo que os cabecilhas editora de electrónica colombiana “estão a tentar fazer há anos, porque a Príncipe é a label favorita de todos eles”, de acordo com Carin Abdulá, da agência OUTER, que trabalha com os sul-americanos há cerca de três anos – e que, enquanto DJ Caring, também vai estar a passar música com o colega Dexter, umas horas mais tarde.
“Desde que começámos a trabalhar, já fizemos vários showcases, em festivais e salas europeias. E houve muitas vezes a ideia de tentar trazer a Príncipe into the mix. Isso nunca avançou, mas acho que, de alguma forma, com o tempo, chegou aos ouvidos deles. Tanto que agora, em Lisboa, a iniciativa partiu mais do lado da Príncipe”, continua a explicar a agente portuguesa, durante muitos anos radicada em Inglaterra.
Do lado da Príncipe, vão passar pelo palco DJ Narciso e DJ Lycox, enquanto a incendiária Bitter Babe e o co-fundador DJ Lomalinda representam o selo sul-americano. “Para ele, é um sonho tornado realidade”, confidencia Carin. “É o maior fã.” Por fim, ao pôr-do-sol, DJ Firmeza e Nick León juntam-se para um back-to-back.
A Príncipe não é, porém, a única agremiação lisboeta a estabelecer pontes com outras latitudes no sábado, 12. O Dengo Club, que vai estar representado pelos residentes Saint Caboclo e Banu, também convidou San Farafina, “figura-chave do colectivo afro-diaspórico Moonshine” para atravessar o Atlântico, e a artista galego-brasileira Lua de Santana para saltar a fronteira. Já no domingo, 13, é a vez de a Enchufada mostrar o que valem Mu540, Hagan, Rita Vian, Pedro da Linha e Quant.
O passado, o presente e o futuro da electrónica global
Na apresentação da quarta edição alfacinha – a primeira da “temporada Sónar”, que continua em Istambul, em Maio, e culmina em Barcelona, entre 12 e 14 de Junho –, o catalão começou por destacar um nome: Underworld. Na vanguarda da electrónica britânica desde os 80s, o grupo está a celebrar os 30 anos de “Born Slippy”, a mais conhecida das suas canções, e tem “uma longa relação com o festival”, sublinhou.
Entre os destaques deste ano estão ainda Richie Hawtin, uma presença regular no festival de Barcelona, que estreia o espectáculo DEX FX X0X em Lisboa na sexta-feira, 11, antes de o mostrar em Istambul; a apresentação do novo álbum de Max Cooper e as promissoras DJs e produtoras Anetha e KI/KI, no sábado, 12; ou o duo francês de “electrónica com um gostinho pop” The Blaze e o histórico Jeff Mills, que se vão cruzar no domingo, 13. E uma série de produtores de techno, “um género em constante evolução”, como os Modelesktor (a 11), Marcel Dettman ou Nina Kraviz (ambos a 12).
Enric Palau menciona também a passagem por Portugal de Gabber Eleganza. “Este espectáculo em particular inclui bailarinos de hakken, que é o estilo de dança associado [ao gabber] e efeitos visuais muito impactantes. Foi sem dúvida uma das actuações mais aclamadas do ano passado em Barcelona, até por quem não tinha nenhuma ligação à cena gabber e hardcore”, declara à Time Out.
“Mas o Sónar é um festival que, embora tenha forte ligação à música electrónica e de dança vai muito além disso”, como o vereador Rui Cordeiro lembrou no início da conferência. “Mistura arte, tecnologia, cultura e sustentabilidade.” Nesse sentido, regressa também o programa Sónar +D, que este ano se desenrola na Casa do Lago do Parque Eduardo VII, “um edifício virado para o lago, ao lado da Estufa Fria, onde se vão reunir alguns pensadores que estão a redefinir o futuro da arte digital”, segundo Patrícia Craveiro Lopes, a co-directora do Sónar Lisboa responsável por esta área.
Os criativos digitais Boldtron, a dupla de artistas visuais Hamill Industries, e a curadora Kaitlyn Davies, acompanhada pelo tecnólogo Brian Wong, são os responsáveis pelas três masterclasses de sexta-feira, 11, durante a tarde.
Parque Eduardo VII. 11-13 Abr (Sex-Dom). 45€-219€