Quando o emoji ‘sparkle’ virou sinônimo de IA? ✨
Uma investigação sobre o brilhinho versus features de IA e o que querem dizer as representações de emojis nas interfaces atuais.Nunca a frase “não é magia, é tecnologia” fez tanto sentido para mim….Analisador de risco contratual vai, bot criador de documentos vem. Eventualmente, tive que exercer meu papel de PM e perguntar:“Qual padrão vamos usar para indicar que tá rolando uma IA boa demais da conta em alguma funcionalidade?”O Pedro Ivo de Menezes, designer de respeito, sacou logo um sparkle ✨ em posição de ataque, afinal é assim que todo mundo tá usando. Correto e justo. Sparkle it is.Meses depois, tava eu no carnaval de salvador às 4 da manhã & ébria graças a deus, me aparece um cidadão com essa tatuagem:O maluco já era ia-first desde 2003 (no mínimo)Eu, prontamente, o apelidei de Gepetinho, gravei um vídeo da tatuagem dele e mandei pro meu chefe (desculpa Gabriel Bernardi) tirei sarro disso a noite toda, achando o máximo e — na manhã seguinte, jurei nunca mais beber. Claro.Mas o que interessa para esse post é que desde meu amigo Gepetinho, tenho pensado pensamentos: quem decretou que IA deve ser representada por um brilho? O que faz com que um emoji signifique outras coisas além das coisas óbvias criadas para significar?A quem interessar possa, eis tentativas de resposta.Pergunta 1Quem decretou que IA deve ser representada por um brilho?Se tem uma coisa que a internet adora fazer é pegar um símbolo inocente e dar um novo significado a ele. O sparkle, no entanto, é um caso curioso porque veio para resolver uma ausência: faltava um jeito de dizer “isso aqui usa IA” sem escrever explicitamente.Pesquisando para escrever esse texto, achei esse artigo aqui que se propõe a traçar uma timeline do sparkle.Segundo ele, o brilho fez seu primeiro impacto na década de 1950 em anúncios e na televisão, representando algo novo e excitante, como um enfeite visual para a magia da Disney.Depois, em 1999, nasceu o primeiro conjunto de 176 emojis para a principal operadora de telefonia móvel do Japão, a DOCOMO. Como parte desta coleção, o ✨ veio para lembrar a poeira estelar dos mangás.Então o brilho não nasceu IA-first — até porque IA nem existia quando ele nasceu — mas sempre foi usado para indicar algo espacial-especial.Aí nosso querido foi engatinhando: no Twitter, a busca avançada era marcada com ele. O TikTok e o Instagram o usavam para filtros e edições de fotos. De alguma forma, o emoji de brilho sempre esteve associado a um toque extra, uma espécie de aprimoramento discreto.Mas foi com o boom da IA generativa que o brilhinho virou gente, produtos como o ChatGPT começaram a sinalizar recursos com o sparkle, e o mercado seguiu o fluxo. Agora a gente já sabe que se um botão tem ✨, ele provavelmente faz algo “inteligente”.O uso de sparkles em empresas diferentes (fonte)Jane Solomon, lexicógrafa sênior de emojis acredita que:o uso de brilhos é uma maneira de fazer com que novos recursos que os usuários podem não entender pareçam mais “mágicos” e menos ameaçadores para aqueles que podem não ser fãs de IA.Ou seja, nada nasce de um símbolo: a transição para o significado “recursos impulsionados por IA” ocorreu de maneira quase natural.Inicialmente, ✨ era um ícone de algo brilhante.Depois, tornou-se um índice, remetendo à “melhoria”, “novidade” e “toque especial” nas interfaces digitais.Agora, funciona como um símbolo de IA, não porque tenha uma ligação direta com inteligência artificial, mas porque as convenções sociais e mercadológicas o consolidaram nesse papel.Além disso, essa escolha segue um raciocínio pragmático mercadológico, pois foi adotada massivamente por big techs e produtos de IA generativa (OpenAI, Microsoft, Adobe, Google, entre outros). Essa massificação eliminou a necessidade de explicar o ícone — ele já “fala por si só” no contexto digital.O que nos leva à segunda pergunta.Pergunta 2O que faz com que um emoji signifique outras coisas além das coisas óbvias que foi criado para significar?Além do fenômeno mercadológico, o significado de um emoji pode ir além do seu design original por alguns motivos, dentre eles:1. Contexto e apropriação culturalEmojis não têm significado fixo; eles são interpretados com base no contexto onde aparecem. A internet, sendo esse grande caldeirão de significados flutuantes, permite que certos grupos passem a usar um emoji de maneira diferente, criando novas associações. Exemplo: O

Uma investigação sobre o brilhinho versus features de IA e o que querem dizer as representações de emojis nas interfaces atuais.

Analisador de risco contratual vai, bot criador de documentos vem. Eventualmente, tive que exercer meu papel de PM e perguntar:
“Qual padrão vamos usar para indicar que tá rolando uma IA boa demais da conta em alguma funcionalidade?”
O Pedro Ivo de Menezes, designer de respeito, sacou logo um sparkle ✨ em posição de ataque, afinal é assim que todo mundo tá usando. Correto e justo. Sparkle it is.
Meses depois, tava eu no carnaval de salvador às 4 da manhã & ébria graças a deus, me aparece um cidadão com essa tatuagem:
Eu, prontamente, o apelidei de Gepetinho, gravei um vídeo da tatuagem dele e mandei pro meu chefe (desculpa Gabriel Bernardi) tirei sarro disso a noite toda, achando o máximo e — na manhã seguinte, jurei nunca mais beber. Claro.
Mas o que interessa para esse post é que desde meu amigo Gepetinho, tenho pensado pensamentos: quem decretou que IA deve ser representada por um brilho? O que faz com que um emoji signifique outras coisas além das coisas óbvias criadas para significar?
A quem interessar possa, eis tentativas de resposta.
Pergunta 1
Quem decretou que IA deve ser representada por um brilho?
Se tem uma coisa que a internet adora fazer é pegar um símbolo inocente e dar um novo significado a ele. O sparkle, no entanto, é um caso curioso porque veio para resolver uma ausência: faltava um jeito de dizer “isso aqui usa IA” sem escrever explicitamente.
Pesquisando para escrever esse texto, achei esse artigo aqui que se propõe a traçar uma timeline do sparkle.
Segundo ele, o brilho fez seu primeiro impacto na década de 1950 em anúncios e na televisão, representando algo novo e excitante, como um enfeite visual para a magia da Disney.
Depois, em 1999, nasceu o primeiro conjunto de 176 emojis para a principal operadora de telefonia móvel do Japão, a DOCOMO. Como parte desta coleção, o ✨ veio para lembrar a poeira estelar dos mangás.
Então o brilho não nasceu IA-first — até porque IA nem existia quando ele nasceu — mas sempre foi usado para indicar algo espacial-especial.
Aí nosso querido foi engatinhando: no Twitter, a busca avançada era marcada com ele. O TikTok e o Instagram o usavam para filtros e edições de fotos. De alguma forma, o emoji de brilho sempre esteve associado a um toque extra, uma espécie de aprimoramento discreto.
Mas foi com o boom da IA generativa que o brilhinho virou gente, produtos como o ChatGPT começaram a sinalizar recursos com o sparkle, e o mercado seguiu o fluxo. Agora a gente já sabe que se um botão tem ✨, ele provavelmente faz algo “inteligente”.
Jane Solomon, lexicógrafa sênior de emojis acredita que:
o uso de brilhos é uma maneira de fazer com que novos recursos que os usuários podem não entender pareçam mais “mágicos” e menos ameaçadores para aqueles que podem não ser fãs de IA.
Ou seja, nada nasce de um símbolo: a transição para o significado “recursos impulsionados por IA” ocorreu de maneira quase natural.
- Inicialmente, ✨ era um ícone de algo brilhante.
- Depois, tornou-se um índice, remetendo à “melhoria”, “novidade” e “toque especial” nas interfaces digitais.
- Agora, funciona como um símbolo de IA, não porque tenha uma ligação direta com inteligência artificial, mas porque as convenções sociais e mercadológicas o consolidaram nesse papel.
Além disso, essa escolha segue um raciocínio pragmático mercadológico, pois foi adotada massivamente por big techs e produtos de IA generativa (OpenAI, Microsoft, Adobe, Google, entre outros). Essa massificação eliminou a necessidade de explicar o ícone — ele já “fala por si só” no contexto digital.
O que nos leva à segunda pergunta.
Pergunta 2
O que faz com que um emoji signifique outras coisas além das coisas óbvias que foi criado para significar?
Além do fenômeno mercadológico, o significado de um emoji pode ir além do seu design original por alguns motivos, dentre eles:
1. Contexto e apropriação cultural
Emojis não têm significado fixo; eles são interpretados com base no contexto onde aparecem. A internet, sendo esse grande caldeirão de significados flutuantes, permite que certos grupos passem a usar um emoji de maneira diferente, criando novas associações. Exemplo: O