Povos indígenas pedem por Comissão Nacional da Verdade Indígena

Em plenária realizada nesta terça-feira (8/4), no Acampamento Terra Livre, o líder indígena Paulino Montejo criticou a demora e descaso do Executivo com os povos originários

Abr 9, 2025 - 02:31
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Povos indígenas pedem por Comissão Nacional da Verdade Indígena

Por direitos, memória e demarcação de terras, o Acampamento Terra Livre (ATL), que ocorre em Brasília até sexta-feira (11/4), realizou uma plenária nesta terça-feira (8) para debater a criação de uma Comissão Nacional Indígena da Verdade (CNIV). Após mais de 500 anos de repressão aos povos originários, a mesa focou a discussão no período da ditadura militar.

Paulino Montejo, líder indígena da etnia Maia, da Guatemala, ex-assessor da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), explicou que a “notícia comum” é de que os militares perseguiram, sequestraram, torturaram e assassinaram os cidadãos das áreas urbanas, mas que pouco se sabe dos crimes cometidos contra os povos indígenas.

“Se a gente aprofunda, na verdade cometeram crimes de lesa humanidade, como diz a ONU. Crimes de etnocídio e genocídio. Em função de quê? Em função da expansão do suposto desenvolvimento do Brasil. Abriram as estradas, abriram as hidrelétricas e, até hoje, querem abrir os territórios para exploração de madeireira, para a expansão das fronteiras agrícolas, para a construção de massas hidrelétricas, de portos, de estradas, de linhas de transmissão, e assim por diante”, relatou.

O representante Maia lembra do Relatório Figueiredo, encontrado no Museu do Índio, no Rio de Janeiro, pelo pesquisador Marcelo Zelic (1963-2023) — ex-membro da Comissão Justiça e Paz de São Paulo e coordenador do Armazém Memória. O relatório expõe os crimes cometidos pelo regime contra os povos indígenas, acreditando que mais de 8,4 mil pessoas, de 10 etnias diferentes, tenham sido assassinadas pela ditadura.

“Isto em uma investigação que se centrou em apenas 10 povos indígenas. Gente, significa que há muitas coisas escondidas. E essas coisas escondidas precisamos trazer à luz”, apontou.

Montejo exalta, também, a necessidade da memória para a construção de um futuro melhor para os indígenas. Ele diz que é necessária a “essência” do que aconteceu para encontrar as raízes da violência e da política que está em curso hoje, “seja pela morosidade ou descaso desse Executivo”.

O líder ainda lamentou a invisibilidade dos povos tradicionais. Ele afirma que, mesmo tendo sido vítimas desde a chegada dos portugueses, na “história oficial”, os indígenas aparecem “como vilões, como obstáculos ao desenvolvimento deste país”. Para Montejo, o desafio é reescrever a história e continuar lutando “para que este país seja reformulado”.

“Nós somos as chaves, não só para o Brasil, mas para proteger da crise climática. Inclusive para a conservação da biodiversidade, dos recursos hídricos, do que a natureza é capaz de oferecer não apenas para nossa saúde, mas para a saúde do planeta e da humanidade”, exaltou.

*Estagiário sob a supervisão de Pedro Grigori

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