O cerco a Zelenski na Sala Oval

  Donald Trump só fala em dólares: nunca em princípios nem valores. Silencia qualquer apelo à legalidade internacional. Nunca o ouvimos falar em direitos humanos. Ontem recebeu na Casa Branca o seu homólogo da Ucrânia, Volodímir Zelenski, como se dignasse avistar-se com um serviçal. Exibindo um comportamento execrável. Quase aos gritos, de forma insultuosa, depois de lhe ter chamado "ditador" (algo que jamais fez com Putin) e de ter dito que foi a Ucrânia a iniciar a guerra (jamais se atreveu a dizer coisa semelhante sobre a Rússia invasora).  Houve cerco a Zelenski na Sala Oval, para gáudio dos jornalistas, como se aquilo fosse um reality show. Estavam também o secretário de Estado e o secretário da Defesa, entre outros elementos da administração norte-americana. Mas o mais vociferante foi o vice-presidente. J. D. Vance - por motivos insondáveis apontado como referência intelectual por alguns portugueses dignos de respeito - ia repetindo, em tom provocatório, a ladainha putinista sobre a «falta de homens e de munições» sentida pela Ucrânia. E ousou dar lições de etiqueta política ao convidado - logo ele, que há duas semanas, em Munique, interferiu grosseiramente no processo eleitoral alemão com apoio explícito à direita mais exteremista e pró-russa. O mesmo Vance que, enquanto senador republicano do Ohio, há um ano tudo fez para travar o pacote de ajuda a Kiev no Congresso norte-americano.   Ontem, a meus olhos, Zelenski agigantou-se ainda mais ao enfrentar isolado aquela assembleia hostil, onde nem faltavam repórteres com questões provocatórias: um idiota chegou a perguntar-lhe porque não usa fato. Só receio por ele. Putin anda há três anos a tentar eliminá-lo. Agora que a cumplicidade entre a Casa Branca e o Kremlin se tornou indisfarçável, essa ameaça avoluma-se: os esbirros do Kremlin sentem-se mais encorajados para o riscar do mapa. Quem imaginar o contrário mora no País das Maravilhas - muito longe deste mundo concreto e cada vez mais perigoso em que vivemos.

Mar 1, 2025 - 02:44
 0
O cerco a Zelenski na Sala Oval

111.jpg

222.jpg

333.jpg

444.jpg

666.jpg

555.jpg

 

Donald Trump só fala em dólares: nunca em princípios nem valores. Silencia qualquer apelo à legalidade internacional.

Nunca o ouvimos falar em direitos humanos.

Ontem recebeu na Casa Branca o seu homólogo da Ucrânia, Volodímir Zelenski, como se dignasse avistar-se com um serviçal. Exibindo um comportamento execrável. Quase aos gritos, de forma insultuosa, depois de lhe ter chamado "ditador" (algo que jamais fez com Putin) e de ter dito que foi a Ucrânia a iniciar a guerra (jamais se atreveu a dizer coisa semelhante sobre a Rússia invasora). 

Houve cerco a Zelenski na Sala Oval, para gáudio dos jornalistas, como se aquilo fosse um reality show. Estavam também o secretário de Estado e o secretário da Defesa, entre outros elementos da administração norte-americana. Mas o mais vociferante foi o vice-presidente. J. D. Vance - por motivos insondáveis apontado como referência intelectual por alguns portugueses dignos de respeito - ia repetindo, em tom provocatório, a ladainha putinista sobre a «falta de homens e de munições» sentida pela Ucrânia. E ousou dar lições de etiqueta política ao convidado - logo ele, que há duas semanas, em Munique, interferiu grosseiramente no processo eleitoral alemão com apoio explícito à direita mais exteremista e pró-russa. O mesmo Vance que, enquanto senador republicano do Ohio, há um ano tudo fez para travar o pacote de ajuda a Kiev no Congresso norte-americano.

 

Ontem, a meus olhos, Zelenski agigantou-se ainda mais ao enfrentar isolado aquela assembleia hostil, onde nem faltavam repórteres com questões provocatórias: um idiota chegou a perguntar-lhe porque não usa fato.

Só receio por ele. Putin anda há três anos a tentar eliminá-lo. Agora que a cumplicidade entre a Casa Branca e o Kremlin se tornou indisfarçável, essa ameaça avoluma-se: os esbirros do Kremlin sentem-se mais encorajados para o riscar do mapa.

Quem imaginar o contrário mora no País das Maravilhas - muito longe deste mundo concreto e cada vez mais perigoso em que vivemos.