NASA vai manter Programa Artemis, diz Jared Isaacman

Em audiência no Senado dos EUA, futuro administrador diz que NASA pode focar em Marte sem abandonar retorno de astronautas à Lua NASA vai manter Programa Artemis, diz Jared Isaacman

Mai 3, 2025 - 18:27
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NASA vai manter Programa Artemis, diz Jared Isaacman

A NASA seria capaz de manter o Programa Artemis, que visa levar astronautas de volta à Lua, enquanto prioriza a missão de uma primeira viagem tripulada à Marte. Pelo menos é o que diz Jared Isaacman, escolhido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para ocupar o cargo de administrador da agência aeroespacial.

Uma comissão do Senado norte-americano aprovou sua indicação com ressalvas, após o bilionário garantir que a NASA não precisa escolher um ou outro destino, visto que os congressistas não querem um taiconauta chinês na Lua, antes do retorno dos americanos.

O poderoso foguete SLS da Boeing, desenvolvido para o Programa Artemis, pode ter salvação no fim das contas (Crédito: Nathan Koga/NASASpaceFlight.com)

O poderoso foguete SLS da Boeing, desenvolvido para o Programa Artemis, pode ter salvação no fim das contas (Crédito: Nathan Koga/NASASpaceFlight.com)

Isaacman: "NASA pode fazer ambos"

A aprovação de Isaacman como administrador da NASA ainda vai passar por nova votação no Senado, onde ele deverá conseguir maioria dos votos da casa completa, de 100 membros. O primeiro processo, de votação do Comitê de Comércio, Ciência, e Transporte do Senado dos EUA, já não foi tranquilo, tendo recebido 19 votos a favor e 9 contra; todos que o reprovaram são democratas, enquanto todos os republicanos, mais 4 da oposição, o aprovaram.

Maria Cantwell (DEM/Washington), membro sênior do Comitê e uma das democratas a favor da indicação, diz que Isaacman "pode trazer ideias novas" ao vir do setor comercial, mas tanto ela quanto Ted Cruz (GOP/Texas) concordam em uma coisa: ele só conseguiu passar pelo escrutínio da casa, ao defender o Programa Artemis.

O bilionário foi questionado por ambos os lados em diversos assuntos (cuidado, PDF), incluindo seus laços com Elon Musk, dono da SpaceX, que hoje é membro do governo e estaria estendendo sua influência sobre a NASA, através do executivo que, em tese, "lhe deve" um favor (e dinheiro) por conta da missão Polaris Dawn, viabilizada por sua companhia. Há um temor (não tão infundado) de que ele seria colocado na agência como um "poste", enquanto Musk atuaria como o administrador de facto.

Um dos pontos em questão é o Programa Artemis, que visa levar astronautas norte-americanos de volta à Lua. Apoiado principalmente no foguete SLS e na cápsula Orion, este é um empreendimento estabelecido em 2017, durante o primeiro mandato de Trump, que deve consumir US$ 93 bilhões até o momento (~R$ 533,25 bilhões, cotação de 02/05/2025), e inevitavelmente irá passar de tais valores.

O problema: Musk vive tagarelando para quem quiser ouvir que só Marte importa; o Programa Artemis, que ele chama de "distração", deveria ser sumariamente cancelado, SLS e Orion inclusos (e a Boeing que se rale), para que sua Starship assuma sozinha o programa de exploração espacial tripulada dos EUA.

Trump já afirmou que o país colocará americanos em Marte antes do fim de seu segundo mandato, mas o presidente não abre mão de também voltar à Lua no período; o Congresso também não gosta de Musk dizendo que Marte deve ser o único destino, e tudo o mais deve ser descartado, inclusive a ISS. Esta declaração em específico deixou Ted Cruz fulo nas calças, já que seu estado administra o laboratório orbital.

O Senado não deixou passar nada, Isaacman foi inclusive questionado por sua prisão em 2010, por passar cheques sem fundo em cassinos.

Jared Isaacman e seu MiG-29, que pertenceu a Paul Allen; a diferença, ele sabe pilotar (Crédito: Jeremy Dwyer-Lindgren)

Jared Isaacman e seu MiG-29, que pertenceu a Paul Allen; a diferença, ele sabe pilotar (Crédito: Jeremy Dwyer-Lindgren)

Na primeira sabatina, realizada no dia 9 de abril de 2025, Isaacman defendeu que a NASA seria capaz de desenvolver missões em ambas as frentes, mas na mais recente o discurso mudou um pouco. O bilionário agora diz que Marte deverá ser priorizada, mas que durante o desenvolvimento de tal missão, a agência "terá a capacidade" de voltar à Lua, assim, ele garantiu que o Programa Artemis não será descartado.

Ao mesmo tempo, ele lembrou os senadores de que a NASA não tem que fazer uma "escolha binária", seja optar por um ou outro destino, ou priorizar a Lua e, se der, ir à Marte. No seu entendimento, é melhor focar no mais difícil, com o tempo limite de 4 anos (Trump não quer deixar a façanha para seu sucessor), e a empreitada rumo ao planeta vermelho viabilizará a missão lunar por tabela.

No entanto, manter ambos programas esbarra eem um problema recorrente do atual governo, custos. A NASA já sofreu um corte violento no orçamento para o próximo ano fiscal, que virtualmente coloca em risco todos os projetos científicos da agência; basicamente, a Casa Branca só manteve dinheiro suficiente para as missões espaciais tripuladas.

Sobre isso, Isaacman diz que perseguir Marte e Lua "não é proibitivo em termos de custo", e que a agência deverá contar com projetos dos landers concedidos a empresas privadas, a saber SpaceX (Starship) e Blue Origin (Blue Moon), ainda que Jeff Bezos tenha levado essa no grito. Como a ordem do dia é economizar, a NASA deverá terceirizar tudo o que pode, e se concentrar em manter os parceiros trabalhando conforme os parâmetros nazistas (sorry, not sorry) que todo mundo conhece, de redundâncias a dar com o rodo.

Vale lembrar que uma das principais preocupações do Congresso dos EUA em relação à Lua é, finja surpresa, a China. O SLS é uma plataforma pronta, ainda que não conte com um lander, e independente dos atrasos, ele é extremamente seguro e no momento, é tudo o que a NASA tem. Embora Musk faça lobby para que ele seja descartado em favor da Starship, Isaacman não concorda com isso.

Quando questionado por Cruz sobre não permitir que os chineses cheguem à Lua antes dos americanos voltarem, Isaacman disse que o SLS é "o meio mais rápido" de realizar uma missão lunar "à frente de nossos (dos EUA) rivais geopolíticos", e que é esta é "uma corrida que não podemos nos dar ao luxo de perder".

Donald Trump, o Congresso, Jared Isaacman, todo mundo no governo dos EUA quer voltar à Lua (e antes da China); só Elon Musk é do contra (Crédito: Neil Armstrong/NASA)

Donald Trump, o Congresso, Jared Isaacman, todo mundo no governo dos EUA quer voltar à Lua (e antes da China); só Elon Musk é do contra (Crédito: Neil Armstrong/NASA)

Por outro lado, ele acredita que, uma vez que o Programa Artemis cumpra sua missão, a NASA deve transicionar de uma posição de competição com empresas privadas (lembre-se, o SLS é controlado pelo Congresso, logo, é uma plataforma política), focar em Ciência e deixar o trabalho pesado para as companhias privadas, estas, sim, competindo entre si em busca de contratos com o governo.

Não há uma data definida para que o Senado dos EUA realize a votação final para aprovar, ou reprovar, a indicação de Jared Isaacman como administrador da NASA; o provável é que o processo se dê daqui a algumas semanas, mas considerando que uma parte dos democratas do Comitê interno deu um joinha, incluindo Maria Cantwell, que é influente no partido, o bilionário deve assumir o cargo de forma definitiva em breve.

Fonte: BBC, SpaceNews, Ars Technica

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