Música sem fronteiras: O impacto da Why Portugal na internacionalização do setor

Criada pela AMAEI esta plataforma trabalha para apoiar artistas, editoras e profissionais do setor na sua expansão para o mercado global.

Mai 6, 2025 - 10:53
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Música sem fronteiras: O impacto da Why Portugal na internacionalização do setor

Ana Rita Feijão, da Direção Executiva da Why Portugal, tem desempenhado um papel fundamental na promoção e internacionalização da música portuguesa. A Why Portugal, criada pela AMAEI, é uma Hub de exportação de música de Portugal e trabalha para apoiar artistas, editoras e profissionais do setor na sua expansão para o mercado global.

Em entrevista à Marketeer, Ana Rita Feijão partilha a visão estratégica da associação, os desafios que o setor enfrenta e as oportunidades para a música portuguesa além-fronteiras. Com um percurso dedicado ao crescimento e inovação do setor musical, revela como a Why Portugal tem trabalhado para posicionar a música nacional nos circuitos internacionais e fortalecer a presença dos artistas portugueses nos grandes eventos musicais.

Como posicionam a Why Portugal no mercado internacional para garantir que os artistas nacionais ganham visibilidade?

A WHY Portugal nasceu há oito anos com uma visão clara: criar oportunidades para a internacionalização da música portuguesa. Desde o início, optámos por priorizar o posicionamento internacional da associação antes de nos virarmos para dentro. Só com uma presença consolidada e credível em eventos estratégicos, como o Eurosonic, WOMEX ou Reeperbahn Festival, conseguimos depois abrir caminho para os nossos artistas e empresas.

O próprio nome da associação — WHY Portugal — reflete esta ambição e é, ao mesmo tempo, uma resposta às dúvidas iniciais: “Porquê Portugal?”. Acreditamos que com as oportunidades certas, o talento dos nossos músicos fala por si e conquista o seu lugar.

Associámo-nos desde logo a redes internacionais como a EMEE (European Music Exporters Exchange) e a ETEP (European Talent Exchange Program), o que nos permitiu acelerar o processo de aprendizagem e beneficiarmos da experiência dos nossos pares europeus.

Que estratégias de comunicação e branding utilizam para atrair talentos e profissionais da indústria musical para a associação?

A nossa principal estratégia é baseada em criação de oportunidades, novas parcerias e demonstração de resultados. A reputação da WHY Portugal constrói-se com base no impacto gerado na carreira dos artistas — e isso tem alimentado o passa-a-palavra entre profissionais.

Somos criteriosos nos eventos em que participamos. Cada missão é pensada para gerar frutos, seja através de networking, showcases ou ações de diplomacia cultural.

Paralelamente, a nossa presença digital — através do site, newsletter e redes sociais — tem um papel importante, tanto na captação de novos associados como na promoção de cada ação. Trabalhamos também a marca visual, de modo a garantir reconhecimento imediato em cada presença internacional.

Como avaliam o impacto dos eventos internacionais na carreira dos artistas apoiados pela Why Portugal?

Os eventos internacionais funcionam como plataformas de visibilidade e acesso a circuitos profissionais que, de outra forma, seriam de difícil alcance para os artistas.

São oportunidades de apresentarem os seus projetos a potenciais compradores (programadores, promotores, agentes, editores, etc.)

Temos dezenas de exemplos de artistas que, após participarem em missões WHY Portugal, foram contratados por festivais, fecharam parcerias de agenciamento ou assinaram com editoras internacionais. Cada missão bem-sucedida é um investimento que gera retorno — não só para o artista, mas para a marca “Portugal” no setor musical global.

De que forma a associação trabalha a sua presença digital e redes sociais para reforçar a notoriedade da marca e promover os músicos?

A presença digital da WHY Portugal é uma extensão do nosso posicionamento estratégico. Utilizamos o site como ponto central de informação, onde reunimos agendas, open calls para showcases e feiras, recursos e relatórios de atividade.

Nas redes sociais, adotamos uma linguagem próxima, profissional e orientada para os artistas e profissionais — destacando as conquistas dos nossos artistas, promovendo os eventos em que participamos e reforçando a nossa missão junto da comunidade.

Quais são os principais desafios na internacionalização de artistas portugueses e como os superam do ponto de vista de marketing?

O principal desafio é conquistar a primeira oportunidade num mercado altamente competitivo. A música portuguesa enfrenta limitações naturais — dimensão do país, barreira linguística, menor visibilidade mediática. Mas a qualidade artística e profissional dos nossos músicos é reconhecida assim que têm oportunidade de se mostrar.

Do ponto de vista do marketing, o nosso trabalho passa por construir pontes que, primeiramente aproximem e que, em segundo lugar, reduzam o risco para os programadores internacionais: criar contexto, apresentar os artistas nos momentos certos e garantir excelência.

Como gerem as parcerias com eventos internacionais e nacionais para maximizar oportunidades de networking e divulgação?

Cada parceria é construída com base numa estratégia de médio e longo prazo. Não nos limitamos a participar em eventos: procuramos integrar as suas dinâmicas, contribuir para a curadoria, organizar comitivas bem preparadas e criar espaços próprios para a programação portuguesa.

Trabalhamos em articulação com entidades locais como o Centre National de la Musique (França), AICEP, Embaixadas, DGArtes, AUDIOGEST e Fundação GDA, entre outros, garantindo não só meios, mas também legitimidade institucional.

Além disso, realizamos também missões inversas — trazendo profissionais internacionais a Portugal, para que conheçam o setor por dentro, estabeleçam relações diretas e descubram o talento português no seu próprio contexto.

De que forma a Why Portugal mede o sucesso da sua estratégia de exportação de talentos musicais? Existe algum indicador-chave de desempenho?

Medição de impacto é central no nosso trabalho. Temos vários indicadores-chave:

O número de artistas apoiados e missões realizadas: de 1 missão em 2017, passámos para 15 em 2024. No 1.o trimestre de 2025, já realizámos 4.

A evolução dos showcases: de 18 em 2017 para 27 em 2024, com 15 já realizados no 1.o trimestre de 2025.

O crescimento de associados na plataforma, atualmente com cerca de 500 inscritos. E, claro, o número de oportunidades concretas geradas para os artistas: contratos internacionais, agenciamentos, convites para festivais.

Um marco importante foi sermos escolhidos como país de destaque em vários eventos internacionais (2017, Eurosonic; 2018, Waves Vienna; 2024, Mercat Música Viva Vic; 2025, Folk Alliance) — uma distinção que reflete o reconhecimento do setor global pela qualidade e consistência da música portuguesa.

Que ações estão previstas para fortalecer ainda mais a presença da música portuguesa lá fora nos próximos anos?

Estamos focados em consolidar a nossa presença nos mercados já trabalhados e em abrir caminho em novos territórios. Em 2024, realizámos a primeira missão fora da Europa, na Coreia do Sul, e em 2025 fomos país de destaque no Canadá, no Folk Alliance — com 11 artistas e resultados imediatos.

Até ao final deste ano, vamos realizar duas missões de prospeção: no Brasil (Conecta+ São Paulo) e na Islândia (Iceland Airwaves), para estudar o potencial de futuras ações estruturadas.

Para 2026, França será o mercado prioritário. Planeamos a presença em três eventos em diferentes regiões (MaMa Festival & Convention em Paris, Les Transmusicales em Rennes, Babel Music XP em Marselha), com showcases e comitivas profissionais, e estamos a preparar, em colaboração com o Centre National de la Musique, a receção de uma delegação francesa em Portugal em outubro 2026 — uma aposta na construção de relações bilaterais.