A história da Kosmos 482 | Tudo sobre a relíquia do Programa Espacial Soviético

Em 1972, a antiga União Soviética lançou sua sonda Kosmos 482 com destino a Vênus. A espaçonave de meia tonelada nunca chegou ao planeta, e passou os últimos 53 anos orbitando a Terra. Agora, ela está a caminho de mergulhar na atmosfera terrestre, e deve realizar a reentrada por volta de 10 de maio. Conheça o passado, o presente e o futuro do programa espacial russo Lixo espacial: o que é esse perigo na órbita da Terra? Para entender melhor, vale fazer uma breve visita ao passado — mais especificamente, voltemos a 1945, quando a Segunda Guerra Mundial acabou. Não demorou até que os Estados Unidos e a União Soviética (URSS) se envolvessem nas tensões da Guerra Fria, período marcado pelo conflito entre capitalismo e comunismo. No fim da década de 1950, a disputa se estendeu para o espaço, com cada potência tentando demonstrar sua superioridade nos voos espaciais. Ali, nascia a Corrida Espacial.  Sputnik I, o primeiro satélite já lançado à órbita da Terra (Domínio público) Pois bem, foi em 1957 que os soviéticos deram a largada com seu programa Sputnik, que levou o satélite Sputnik 1 ao espaço e transformou-o no primeiro objeto artificial à órbita de um corpo celeste — que, no caso, era a Terra. Já em 31 de março de 1972, a URSS lançou um foguete Molniya-8K78M a partir do Cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão. -Entre no Canal do WhatsApp do Canaltech e fique por dentro das últimas notícias sobre tecnologia, lançamentos, dicas e tutoriais incríveis.- Sua “passageira” provavelmente era a Cosmos (ou Kosmos) 482, sonda gêmea da Venera 8. Dizemos “provavelmente” porque, durante as décadas de 1960 e 1970, o programa espacial soviético era bastante sigiloso em relação aos lançamentos espaciais; as informações eram publicadas somente quando as missões tinham sucesso.  Estágio superior Blok-L, que contém a Kosmos-482 (Wikimedia Commons/FRS Vetlana/CC BY 4.0) Só que este não foi o caso dos Kosmos-482: a missão iria enviar um módulo de pouso a Vênus, mas a sonda se rompeu pouco após o lançamento; alguns reentraram na atmosfera da Terra após 48 horas, e uma carga útil de 500 kg permaneceu na órbita sem nunca chegar ao seu destino. Tal carga útil é a sonda com o módulo de pouso, que perdeu altitude nos últimos anos e deve realizar sua reentrada em breve.  Queda da Kosmos-482 Normalmente, objetos do tipo acabam queimados pelo atrito com os gases atmosféricos durante as reentradas pela atmosfera. Entretanto, esta espaçonave foi projetada para ir a Vênus, ou seja, sua estrutura foi criada para resistir à espessa atmosfera de carbono do planeta.  Missão Venera 8, que deve ser igual à Kosmos 482 (NASA) É difícil que o sistema de paraquedas da sonda ainda esteja funcionando, e seu escudo térmico também pode estar desgastado — se este for o caso, a Kosmos 482 provavelmente vai acabar queimada na atmosfera. Por outro lado, se o componente ainda funcionar, “vai reentrar intacto e teremos um objeto metálico de meia tonelada caindo do céu”, comentou Jonathan McDowell, astrofísico do Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian.  Até o momento, as estimativas indicam que a reentrada pode acontecer em qualquer lugar entre 52º na latitude norte e 52º na latitude sul. Conforme o grande momento se aproxima, as previsões do horário e local vão ficar mais precisas — mas, por enquanto, o que se sabe é que, como a maior parte do nosso planeta está coberta por água, é provável que a antiga missão soviética acabe descendo a algum oceano. Ufa! Leia também: Há 55 anos, o cosmonauta Alexei Leonov fazia o primeiro spacewalk da história Saiba mais sobre o programa espacial Sputnik, que virou nome de vacina na Rússia Vídeo: Os telescópios mais incríveis do espaço   Leia a matéria no Canaltech.

Mai 6, 2025 - 13:01
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A história da Kosmos 482 | Tudo sobre a relíquia do Programa Espacial Soviético

Em 1972, a antiga União Soviética lançou sua sonda Kosmos 482 com destino a Vênus. A espaçonave de meia tonelada nunca chegou ao planeta, e passou os últimos 53 anos orbitando a Terra. Agora, ela está a caminho de mergulhar na atmosfera terrestre, e deve realizar a reentrada por volta de 10 de maio.

Para entender melhor, vale fazer uma breve visita ao passado — mais especificamente, voltemos a 1945, quando a Segunda Guerra Mundial acabou. Não demorou até que os Estados Unidos e a União Soviética (URSS) se envolvessem nas tensões da Guerra Fria, período marcado pelo conflito entre capitalismo e comunismo. No fim da década de 1950, a disputa se estendeu para o espaço, com cada potência tentando demonstrar sua superioridade nos voos espaciais. Ali, nascia a Corrida Espacial. 

Sputnik I, o primeiro satélite já lançado à órbita da Terra (Domínio público)

Pois bem, foi em 1957 que os soviéticos deram a largada com seu programa Sputnik, que levou o satélite Sputnik 1 ao espaço e transformou-o no primeiro objeto artificial à órbita de um corpo celeste — que, no caso, era a Terra. Já em 31 de março de 1972, a URSS lançou um foguete Molniya-8K78M a partir do Cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão.

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Sua “passageira” provavelmente era a Cosmos (ou Kosmos) 482, sonda gêmea da Venera 8. Dizemos “provavelmente” porque, durante as décadas de 1960 e 1970, o programa espacial soviético era bastante sigiloso em relação aos lançamentos espaciais; as informações eram publicadas somente quando as missões tinham sucesso. 

Estágio superior Blok-L, que contém a Kosmos-482 (Wikimedia Commons/FRS Vetlana/CC BY 4.0)

Só que este não foi o caso dos Kosmos-482: a missão iria enviar um módulo de pouso a Vênus, mas a sonda se rompeu pouco após o lançamento; alguns reentraram na atmosfera da Terra após 48 horas, e uma carga útil de 500 kg permaneceu na órbita sem nunca chegar ao seu destino. Tal carga útil é a sonda com o módulo de pouso, que perdeu altitude nos últimos anos e deve realizar sua reentrada em breve. 

Queda da Kosmos-482

Normalmente, objetos do tipo acabam queimados pelo atrito com os gases atmosféricos durante as reentradas pela atmosfera. Entretanto, esta espaçonave foi projetada para ir a Vênus, ou seja, sua estrutura foi criada para resistir à espessa atmosfera de carbono do planeta. 

Missão Venera 8, que deve ser igual à Kosmos 482 (NASA)

É difícil que o sistema de paraquedas da sonda ainda esteja funcionando, e seu escudo térmico também pode estar desgastado — se este for o caso, a Kosmos 482 provavelmente vai acabar queimada na atmosfera. Por outro lado, se o componente ainda funcionar, “vai reentrar intacto e teremos um objeto metálico de meia tonelada caindo do céu”, comentou Jonathan McDowell, astrofísico do Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian. 

Até o momento, as estimativas indicam que a reentrada pode acontecer em qualquer lugar entre 52º na latitude norte e 52º na latitude sul. Conforme o grande momento se aproxima, as previsões do horário e local vão ficar mais precisas — mas, por enquanto, o que se sabe é que, como a maior parte do nosso planeta está coberta por água, é provável que a antiga missão soviética acabe descendo a algum oceano. Ufa!

Leia também:

Vídeo: Os telescópios mais incríveis do espaço

 

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