Liya Santos: a modelo brasileira que fez história na Saint Laurent

Liya Santos – Foto: Getty Images

Liya Santos, aos 19 anos, acaba de marcar seu nome na história da moda. Nascida e criada em Suzano, no interior de São Paulo, em uma família humilde, ela sempre teve a arte como guia. Da pintura ao canto, passando pela dança, cada passo de sua trajetória a preparou, sem que soubesse, para a carreira que hoje a coloca sob os holofotes.

Em um processo sigiloso e cuidadosamente planejado, Liya foi treinada para uma estreia global de peso: sua primeira aparição nas passarelas aconteceu como modelo exclusiva da Saint Laurent, sob comando de Anthony Vaccarello. Em Paris, ela fez parte do desfile que encerrou a semana de moda mais importante do mundo, consolidando um momento histórico.

Mais do que uma conquista pessoal, sua jornada é um marco. Uma menina trans que saiu do interior paulista para redefinir os padrões e conquistar seu espaço na moda internacional. BAZAAR conversou com a modelo sobre sua trajetória, os desafios da carreira e seus planos para o futuro. Leia a entrevista completa a seguir!

Harper’s Bazaar Brasil – Como foi o início da sua trajetória na moda? Sempre imaginou que chegaria até aqui?

Liya Santos – Minha trajetória começou de forma inesperada. Desde pequena, sempre fui envolvida com arte—primeiro a pintura, depois o canto e, mais tarde, a dança. Mas a moda só entrou na minha vida quando algumas pessoas começaram a me dizer que eu deveria ser modelo. Fiz um curso, mas nada aconteceu. Só anos depois, quando encontrei o Instagram da agência Elian Gallardo Model, decidi tentar de novo. Em pouco mais de uma semana, já estava me preparando para o São Paulo Fashion Week. Sempre sonhei alto, mas nunca imaginei que chegaria tão longe e tão rápido.

HBB – Você se lembra do momento em que soube que iria desfilar para a SAINT LAURENT? O que sentiu?

LS  – Foi um momento indescritível. Todo o processo foi muito sigiloso e cuidadosamente planejado. Quando recebi a notícia de que iria estrear na passarela da SAINT LAURENT, não consegui acreditar. Era a realização de um sonho que eu nem ousava sonhar. Fiquei emocionada, grata e, claro, com aquele frio na barriga por saber que estava prestes a viver um dos momentos mais importantes da minha carreira.

HBB – Estar na passarela de uma marca tão icônica foi um marco na sua carreira. Como foi essa experiência para você?

LS  – Foi um divisor de águas. Estar na passarela da SAINT LAURENT, especialmente fechando a Paris Fashion Week, foi surreal. A energia, a grandiosidade do momento e o peso histórico da marca tornaram tudo ainda mais especial. Senti que fazia parte de algo muito maior, como se estivesse ajudando a escrever um novo capítulo da moda.

HBB – Quais foram os desafios mais marcantes que enfrentou até aqui?

LS  – O maior desafio foi acreditar em mim mesma e persistir. Antes de ser descoberta, tentei entrar no mundo da moda, mas nada aconteceu. Também enfrentei desafios sendo uma mulher trans, pois, apesar dos avanços, ainda existem barreiras. Felizmente, encontrei pessoas que acreditaram em mim e abriram portas.

HBB – A moda tem evoluído em termos de representatividade, mas ainda há muitos desafios. Como você enxerga esse espaço sendo uma mulher trans?

LS  – A moda está mudando, mas ainda há um longo caminho pela frente. Ser uma mulher trans nesse meio é um ato de resistência. Sei que minha presença na passarela não representa apenas a mim, mas muitas outras pessoas que sonham e, às vezes, não se veem representadas. Quero que minha história ajude a abrir mais portas para quem vem depois.

HBB – Você sente que sua presença na passarela representa algo maior para outras pessoas que se identificam com você?

LS  – Sem dúvida. Quando piso na passarela, não sou só eu ali. Trago comigo todas as meninas trans que sonham, todas as pessoas que, de alguma forma, se sentem fora dos padrões. Se minha trajetória puder inspirar alguém a não desistir, já valeu a pena.

Liya Santos – Foto: Getty Images

HBB – Ao longo da sua carreira, teve referências que a inspiraram e ajudaram a construir sua identidade na moda?

LS  – Sempre me inspirei em artistas e pessoas autênticas, como minha mãe e minha avó. No mundo da moda, admiro modelos que quebraram barreiras e abriram espaço para mais diversidade. Além disso, tive a sorte de ter os melhores cuidando de mim. Elian Gallardo e Luiz Mattos foram fundamentais para minha carreira, acreditando no meu potencial desde o início.

HBB – Como foi a preparação para esse desfile e o que mais a marcou nos bastidores?

LS  – A preparação foi intensa e feita com muito cuidado. Trabalhamos para que tudo fosse perfeito e, nos bastidores, senti uma energia incrível. O que mais me marcou foi ver como cada detalhe é pensado com precisão e como todos ali estavam comprometidos em fazer aquele momento acontecer da melhor forma possível. Valeu a pena ter vindo várias vezes de Suzano na madrugada por conta do fuso horário para fazer polaroids e vídeos para minha agência enviar para a SAINT LAURENT. Foram inúmeras, com cada detalhe sendo analisado. O time da SAINT LAURENT é incrível e me tratou muito bem. Fui muito bem acolhida, mesmo tendo pouca experiência e sendo uma new face. Tenho muita gratidão por todos, pois foram mais de 20 dias intensos com a marca.

HBB – Depois desse momento tão especial, quais são seus próximos objetivos e sonhos na moda?

LS  – Quero continuar crescendo e conquistando meu espaço. Vou ficar em Paris por um tempo para conhecer editores, fotógrafos e diretores de casting. Meu objetivo é construir uma carreira internacional sólida. Estou apenas começando, mas confio na minha agência-mãe, Elian Gallardo, e na IMG, com quem assinei contrato worldwide. Quero muito continuar trabalhando com marcas icônicas e usar minha visibilidade para ampliar a representatividade na moda.

HBB – Se pudesse dar um conselho para quem sonha em seguir seus passos, qual seria?

LS  –  Acredite em si mesmo e não desista, mesmo quando parecer difícil. O caminho nem sempre é fácil, mas, quando você tem determinação e encontra as pessoas certas que acreditam no seu potencial, tudo pode mudar. Nunca deixe que digam que você não pode. Você pode e merece estar onde quiser. Existem muitos bloqueios por parte de alguns diretores de casting que não acreditam e nem dão oportunidades, dificultando o desenvolvimento. Muitas vezes, você vai ficar triste e desapontada com o meio e com as pessoas. Ainda há muito preconceito, seja por ser new face ou por vir de uma agência menor. Mas não desistam. Olhem onde cheguei. Deus vai te conduzir, e tudo vai dar certo, independentemente de qualquer adversidade. Acredite.

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