Keith Sutton: “Ayrton Senna manteve sempre aquela essência”

Estoril, 21 abril de 2025. A chuva cai com força, tal como há 40 anos, quando Ayrton Senna conquistou a sua primeira vitória na Fórmula 1 no circuito de Estoril. Entre os presentes na homenagem, um rosto em particular revive cada segundo como se estivesse lá novamente: Keith Sutton, o fotógrafo que acompanhou Senna desde […] The post Keith Sutton: “Ayrton Senna manteve sempre aquela essência” first appeared on AutoSport.

Abr 24, 2025 - 13:45
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Keith Sutton: “Ayrton Senna manteve sempre aquela essência”

Estoril, 21 abril de 2025. A chuva cai com força, tal como há 40 anos, quando Ayrton Senna conquistou a sua primeira vitória na Fórmula 1 no circuito de Estoril. Entre os presentes na homenagem, um rosto em particular revive cada segundo como se estivesse lá novamente: Keith Sutton, o fotógrafo que acompanhou Senna desde os seus primeiros passos até ao estrelato mundial.

“É um momento muito emocionante. Voltar aqui, onde tudo começou para ele… Eu estava cá em 1985, vi tudo, fotografei tudo. Foi um dia muito especial.”

Keith Sutton é um nome incontrolável da fotografia no desporto motorizado. Acompanhou a carreira de Ayrton Senna desde os primeiros dias em Inglaterra e criou a sua agência e tornou-se uma referência. Uma caminhada que lhe permitiu estar presente em mais de 700 GP:

“Fotografei 700 Grandes Prémios na minha carreira. Fundei a minha agência em 1985, a Sutton Photographic, que mais tarde se tornou na Sutton Motorsport Images. Foi uma viagem, mas foi muito rápida. Devo dizer que são 40 anos no desporto que passaram a correr. Mas foi muito agradável. Especialmente naqueles anos, quando eu tinha 20 e poucos anos, nos anos 80. Quando cheguei aos 500 Grandes Prémios, Bernie Ecclestone deu-me um passe honorário vitalício para os meios de comunicação social, por isso continuo a ir a seis ou oito Grandes Prémios por ano e voltei a ser um fã, mesmo depois de ter-me reformado, há oito anos”.

A ligação de Keith a Senna começou ainda antes da Fórmula 1. “Trabalhei com ele quando chegou a Inglaterra, em 1981. Ele era só mais um piloto. Eu tinha 21 anos, ele 20. Nenhum de nós fazia ideia do que o futuro nos reservava. A primeira vez que o fotografei, ele ganhou a corrida. Em Brands Hatch, à chuva. Tal como hoje aqui em Estoril. É estranho como o tempo parece repetir-se. Fotografei aqui no Estoril de 1984 a 1996. Desde então nunca mais regressei. A pista está igual!”

De fotógrafo a parceiro de carreira

Keith não era apenas um fotógrafo. Tornou-se um dos grandes responsáveis pela projeção internacional de Senna no início dos anos 80:

“Fui eu que comecei a fazer os press releases para ele. Tirava as fotos, escrevia os textos e enviava para todas as equipas de F1 e revistas. Foi assim que os chefes de equipa começaram a ouvi-lo falar. Estávamos juntos nos tempos de Fórmula Ford, Fórmula 2000, Fórmula 3… Aqueles anos foram mágicos. Não havia pressões, era só paixão pelo automobilismo.”

Com o tempo, a realidade da Fórmula 1 trouxe mudanças inevitáveis. “Claro que ele mudou. Todos mudam. Deixas de ter tempo para tudo. Os compromissos, os patrocinadores, os fãs… rouba-te tempo. Mas, no fundo, o Ayrton manteve sempre aquela essência.”

Portugal no coração

Para Keith, Portugal não é apenas o palco de uma vitória histórica. É um lar. “Vim de férias há nove anos e percebi que de Faro a Vale do Lobo é muito perto, assim como da Quinta do Lago. E eu sabia que o Ayrton tinha vivido na Quinta do Lago. Acabei por me apaixonar pelo Algarve, pelo tempo, não há diferença horária para a Inglaterra, a comida e mais importante… as pessoas. São tão simpáticas e amáveis. Acabei por comprar uma propriedade, uma pequena casa em Vale do Lobo, que se Chama Villa Senna. Passo muito tempo cá, agora.”

A surpresa foi perceber como tudo se ligava. “Percebi que o Ayrton viveu ali perto, em Quinta do Lago. Conheci pessoas que o viam correr na praia, que o levavam ao aeroporto. Fiquei encantado com o lugar, com as pessoas.”

Um contador de histórias

Mas a paixão por partilhar o legado de Senna não parou. “Hoje sinto que é minha missão contar a história dele. Inspirar os mais novos, como ele me inspirou a mim.”

Recentemente, teve um novo reconhecimento: foi retratado na série da Netflix sobre Senna. Sutton adorou a série e reconheceu que ficou emocionado ao ver a sua contribuição ser destacada:

“Fiquei emocionado. Muita gente só soube da minha história por causa da série. Passei de 100 seguidores no Instagram para 21 mil. É uma loucura.”

Foi também importante para Sutton ter o devido reconhecimento. É preciso recordar que na altura, Senna lutava contra Martin Brundle pelo título de F3 e Sutton apoiava o “forasteiro”:

“Quando ele veio para Inglaterra, estava sozinho, não conhecia muita gente e eu era britânico e ajudei-o e trabalhei com ele e as pessoas apreciam isso porque, especialmente em 1983, quando ele teve aquela grande competição com Martin Brundle no Campeonato Britânico de Fórmula 3. Muitos dos meus colegas e jornalistas diziam: “Porque estás a apoiar um brasileiro? Porque não apoias um inglês?”

700 Grandes Prémios e um nome eterno

Ao longo da carreira, Keith Sutton fotografou 700 Grandes Prémios. Viu nascer lendas e acompanhou momentos históricos. Mas nenhum como aquele jovem de olhos decididos, em Brands Hatch.

“Foi o Ayrton que lançou a minha carreira. Se não o tivesse conhecido, talvez nada disto tivesse acontecido. Ele acreditou em mim. E eu acreditei nele.”

Ao caminhar pelas boxes de Estoril, sob a mesma chuva que caiu em 1985, Sutton carregou consigo mais do que memórias. Carregou o peso e o orgulho de ter testemunhado — e eternizado — uma lenda.

“Ainda hoje, quando estou em Portugal, sinto que estou perto dele. Em Vale do Lobo, na Quinta do Lago, no Gigi´s, o restaurante onde ele ia… está tudo lá. E enquanto eu puder, vou continuar a contar essa história.”

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