Julia Stockler, de Beleza Fatal, expõe fala absurda de produtora da Globo
A artista, que carrega personagens potentes e inspiradoras, é um dos maiores destaques de sua geração

A atriz Julia Stockler está ganhando cada vez mais destaque com a personagem Gisela, em Beleza Fatal. A jovem, que sofre com dismorfia corporal, faz tudo para parecer mais bonita – inclusive procedimentos estéticos duvidosos conduzidos por seu marido.
Apesar da novela impulsionar sua carreira, Julia já havia interpretado personagens icônicas, como Guida Gusmão, no filme A Vida Invisível, dirigido por Karim Aïnouz e premiado em Cannes. Ela também viveu Justina na novela Éramos Seis, da TV Globo.
Agora, ela aproveita o momento para usar sua voz e falar sobre feminismo, pressão estética e a necessidade de usar a sororidade como uma ferramenta de luta contra o patriarcado:
CLAUDIA: A sua personagem, Gisela, sofre transtorno de imagem. Como é tratar de um tema tão delicado como esse?
O preparo contou com encontros com psiquiatras, com cirurgiões plásticos e com pessoas que têm o transtorno dismórfico corporal. Eu não tinha ideia da proporção desse transtorno. Mas minha vontade foi de construir uma personagem que não ficasse estereotipada. Não queria que a interpretação fosse caricata.
Ela é muito insegura e sofreu dois traumas muito fortes: o sequestro da irmã e o desaparecimento da mãe. Na casa dela, o afeto é um valor pouco desenvolvido. Aí ela tenta, dentro da pintura, se expressar. Ainda assim, não é fácil, como atriz e como mulher, repensar essas imagens que a gente produz sobre nós mesmos o tempo inteiro.
CLAUDIA: E você é uma pessoa que trabalha com imagem, você já se sentiu pressionada a mudar algo em você?
Esse pensamento dentro da minha profissão é muito constante. É absolutamente violento o que a indústria audiovisual faz com as mulheres. Quando eu tinha 18 anos, uma produtora de elenco da Globo falou que, se eu diminuísse meu nariz, seria protagonista. Aquilo mexeu tão profundamente comigo. Tanto que cheguei em casa e comecei a pensar que tipos de crueldade eu seria capaz de aguentar nessa profissão.
Mas me dei conta que, se meu trabalho dependesse de uma operação estética, ele teria que mudar. Me senti muito violentada naquele momento. Decidi não operar meu nariz e nunca ser protagonista de nada.
CLAUDIA: Sinto que estamos passando por dois momentos: um com avanços estéticos e outro com pessoas muito importantes e com muita credibilidade. Você acha que vamos chegar em um momento em que as mulheres vão se sentir confortáveis?
A gente já caminhou muito. A pressão estética vem desde os primórdios e os procedimentos estéticos movem uma indústria bilionária. Ao mesmo tempo, as mulheres estão podendo falar, o que é importantíssimo. Mas sim, acho que precisamos combater esse império que diz que você precisa ser bonita a qualquer custo porque parece que nunca há uma satisfação. Há uma falta que não é preenchida, não importa o que fazemos.
CLAUDIA: Como você tem sentido esse impacto das novelas no streaming?
Acho que a TV aberta vive uma crise porque, com o advento das séries e esse ritmo mais acelerado, a gente perde com a novela aberta. Ao mesmo tempo, não é uma competição, sabe?! Dá para criar na TV aberta e nessa linguagem mais fechada.
O Brasil é um país conservador e a novela parece que fez um pacto moralista com essas pessoas. Para você ter uma cena mais ousada na TV é um problema, ou incluir um beijo homossexual. Ela se retira da responsabilidade de alguns temas para que seja vista dentro de um país patriarcal e conservador. Ainda assim, nossa novela vai para a Band. Então, também existe esse deslocamento para tentar conversar com outras classes sociais que não têm acesso ao streaming.

CLAUDIA: Há algumas pesquisas que apontam que as novas gerações estão cada vez mais conservadoras. O que você pensa sobre isso?
Essa estrutura rígida está na coluna do país. Acho que é preciso criar espaços de abertura dentro das discussões das mulheres, e há duas formas de fazer isso: uma é o embate direto contra essas ideias. A outra é pela dor comum. Falamos de relacionamento tóxico e de outros temas que sabemos que sofremos juntas.
Precisamos sensibilizar essas mulheres – e não pela guerra direta, mas pela arte. É fazendo uma novela, escrevendo um livro, fazendo um filme. A fortaleza da mulher sempre foi a outra mulher. Então, esse é o momento da gente repensar isso porque a sororidade é um conceito que está sendo usado como trunfo e não como uma estrutura de pensamento e de transformação.
CLAUDIA: A gente percebe uma Gisela muito carente e muito frágil. Conta um spoiler sobre o fim da personagem?
Dentro dos spoilers possíveis, a Gisela é uma mulher muito forte, na verdade. A vida encaminhou ela para essa fragilidade, mas o que posso dizer é que ela vai tentar, de todas as formas, salvar a vida dela.
Não sei se ela vai conseguir, como é que vai ser esse desfecho, mas ela não desiste de si mesma. Acho que isso é bonito, em nenhum momento ela desiste de encontrar uma razão forte para que ela se mantenha viva. A trajetória emocional de Gisela é imensa.
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