Ibovespa Batendo Recorde Apesar da Selic nas Alturas? Entenda Esse Fenômeno
Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo. O que parece ser um paradoxo é apenas a demonstração de uma das características mais importantes do mercado: antecipar movimentos da economia O post Ibovespa Batendo Recorde Apesar da Selic nas Alturas? Entenda Esse Fenômeno apareceu primeiro em Forbes Brasil.

Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.
Apesar da taxa Selic em nível elevado — atualmente em 14,75% ao ano — o Ibovespa acaba de bater seu recorde histórico. Parece contraditório, não é?
Afinal, aprendemos em economia que juros altos tendem a desestimular investimentos em ativos de risco, como ações. Então, se você está se perguntando se é hora de continuar na renda fixa ou aproveitar o embalo da renda variável, te digo que antes de qualquer movimento em sua carteira, você precisa entender o que está acontecendo no mercado.
Juros altos, bolsa forte? Vamos voltar ao básico
Tradicionalmente, juros altos inibem o consumo, encarecem o crédito e favorecem aplicações de renda fixa. Por consequência, empresas tendem a crescer menos e os lucros futuros são descontados a uma taxa maior, o que, na teoria, reduz o valor presente das ações. Portanto, a lógica seria: Selic alta, bolsa fraca.
Mas, como sempre explico por aqui, tudo o que você estiver vendo hoje já foi precificado há tempos, pois o mercado financeiro vive mais de expectativas futuras do que da realidade presente.
Não é a primeira vez que temos um cenário que à primeira vista soa contraintuitivo: em 2004, ano em que a Selic acumulada esteve acima de 15%, o Ibovespa apresentou alta expressiva, puxada especialmente pela valorização de commodities, fluxo de capital estrangeiro e expectativas de estabilidade política.
O mercado olha para frente
“Os mercados são movidos mais por expectativas do que por realidades”, já dizia John Maynard Keynes. E é justamente a expectativa de que o ciclo de alta da Selic está chegando ao fim que impulsiona a tomada de risco por parte dos investidores.
Isso porque, quando os juros começam a sinalizar queda, o mercado precifica hoje os ganhos futuros. Ou seja, os grandes players já estão se posicionando para o cenário de juros mais baixos que ainda nem chegou.
Além disso, o possível corte de juros nos Estados Unidos, com inflação abaixo das expectativas por lá, colabora para uma maior entrada de capital estrangeiro em mercados emergentes como o Brasil.
Quanto a isso, vale lembrar o que destaca Aswath Damodaran, um dos maiores nomes do valuation: o valor de um ativo depende não apenas dos fluxos de caixa que ele vai gerar, mas da taxa de crescimento desse fluxo de caixa. Quando o mercado acredita que os juros vão cair, essa taxa de crescimento aumenta — e, com isso, o valor presente das ações sobe. Isso é pura matemática!
Uma maneira simples de entender isso é imaginar que você vai receber R$ 100 mil daqui a 10 anos. Se a taxa de juros cair, esse dinheiro “vale mais” hoje, porque o desconto aplicado será menor. É esse raciocínio que o mercado inteiro faz, todos os dias.
Selic alta atrai dinheiro. Bolsa barata retém investidores
Outro ponto importante: o Brasil hoje está “barato” na vitrine global. O valuation (preço das ações em relação aos seus lucros) está atrativo. A combinação entre Selic alta (que atrai capital de fora), ações descontadas (especialmente em setores como varejo e bancos) e uma temporada de resultados corporativos acima do esperado criam o cenário perfeito para um rally de curto prazo.
Como nos ensinou Benjamin Graham, um dos pais da análise fundamentalista, o mercado, no curto prazo, se comporta como uma urna de votação, cheia de emoções, mas no longo prazo é uma balança que pesa valor.
Hoje, o que estamos vendo é exatamente esse descompasso: o preço das ações está abaixo do que muitos analistas avaliam como seu valor justo com base nos fundamentos, especialmente em setores tradicionais da economia. Esse “desconto” acaba atraindo investidores que seguem uma lógica de valor — mesmo em um ambiente de juros altos.
Além disso, há uma migração do próprio investidor local, que está começando a entender que, mesmo com renda fixa pagando bem, a simetria de ganho na renda variável neste momento pode ser mais interessante.
Para investir, é preciso entender o ciclo econômico
Não é preciso ser economista para ter sucesso com sua carteira de investimentos. Mas eu recomendo que você conheça pelo menos alguns fundamentos básicos sobre ciclos econômicos. Isso facilita a interpretação dos cenários e dos rumos da economia.
A teoria dos ciclos econômicos afirma que, mesmo em um ambiente com política monetária restritiva, é possível que choques externos positivos (como a valorização das commodities) e avanços tecnológicos ou institucionais gerem crescimento e, por tabela, valorizem os ativos financeiros.
Também podemos lembrar o conceito de Forward Guidance, muito estudado por economistas como Ben Bernanke e Michael Woodford. A sinalização do Banco Central de que os juros podem parar de subir é, em si, um instrumento de política monetária que altera as expectativas dos agentes econômicos — e isso afeta diretamente os preços dos ativos, como estamos vendo agora.
Afinal, é hora da renda fixa ou variável?
Essa talvez seja a dúvida que mais recebo por mensagem. E a resposta não é “8 ou 80”. É diversificação inteligente e gestão de risco.
A Selic ainda está alta, o que permite manter parte do portfólio em títulos pós-fixados, protegendo o capital e ganhando um bom rendimento. Além disso, os títulos atrelados à inflação (IPCA+) continuam tendo papel estratégico na parte de sua carteira de renda fixa, pois protegem seu poder de compra.
Travar um retorno que, dependendo do vencimento e da taxa, pode facilmente superar os 6% ao ano acima da inflação é quase um seguro. É claro que os valores dos títulos oscilam no curto prazo (porque são marcados a mercado), mas, para quem leva até o vencimento, essa volatilidade é só ruído.
No entanto, considerando que estamos em tempos de transição de ciclo monetário, é muito importante que você não ignore a bolsa de valores, cuja recuperação certamente trará ganhos patrimoniais importantes para quem pensa a longo prazo.
A dica é olhar para setores cíclicos (como consumo, bancos e construção), que tendem a se beneficiar primeiro quando o ciclo de juros muda. Além disso, manter uma parcela em ativos dolarizados ou fundos de ações internacionais pode ser um bom colchão contra eventuais momentos de volatilidade futura.
Observar cenários é diferente de operar notícias
O Ibovespa atingir máxima histórica em meio a uma Selic alta não é um paradoxo sem explicação. É, na verdade, um exemplo clássico do mercado se antecipando aos movimentos da economia.
Algo que sempre enfatizo é que você não deve seguir a manada e “operar notícias”. O seu mapa de navegação sempre será o seu planejamento financeiro pessoal combinado com a leitura dos sinais que o mercado está dando.
Entender esses sinais não é um exercício de futurologia, mas, sim, a disciplina de acompanhar as notícias e refletir sobre os impactos que os acontecimentos têm na economia real.
Com essa conduta, ficará bem mais fácil tomar decisões e se posicionar para atender às suas metas, sempre com base em fundamentos e não em alardes circunstanciais. Conhecimento sempre será sua principal forma de proteção em cenários voláteis.
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