Homem que tirou a ‘foto mais vista de todos os tempos’ teve um arrependimento sobre ela

Se você usou um computador nos anos 2000, certamente já viu aquela imagem de fundo de tela com colinas verdes e um céu azul perfeito. Conhecida como Bliss, ela se tornou um ícone do Windows XP e, segundo estimativas, a fotografia mais vista da história. Mas a história por trás dela é tão interessante quanto sua fama — e envolve amor, negócios e um arrependimento inesperado.

Tudo começou em janeiro de 1996, quando o fotógrafo Chuck O’Rear dirigia de St. Helena, na Califórnia, para visitar Daphne Larkin, sua namorada na época (e hoje esposa há mais de 20 anos). O trajeto entre as cidades era repleto de paisagens deslumbrantes, e O’Rear tinha o hábito de parar o carro para registrar cenas que chamavam sua atenção. Naquele dia, uma colina coberta por um verde vibrante, sob um céu azul com nuvens fofas, o fez estacionar às margens da estrada. Com uma câmera Mamiya RZ67 — equipamento profissional que usava na época —, ele capturou a imagem em filme Fuji, conhecido por suas cores intensas.

A foto, batizada de Bliss (algo como “felicidade” em inglês), foi enviada à agência de banco de imagens Westlight, onde O’Rear trabalhava como colaborador. Dois anos depois, em 1998, a Microsoft — por meio do grupo Corbis, pertencente a Bill Gates — comprou a Westlight. Entre os milhões de imagens adquiridas estava Bliss, selecionada para ser o plano de fundo padrão do Windows XP, lançado em 2001. O sucesso do sistema operacional transformou a foto em uma lenda digital: estima-se que ela tenha aparecido em mais de 1 bilhão de computadores.

“Bliss”, de Chuck O’Rear – o plano de fundo do Windows XP

Apesar do feito, O’Rear revelou um arrependimento curioso. Na época da venda, ele recebeu um pagamento único pela imagem, descrito como “algo acima de 100 mil dólares” — um valor alto, mas fixo. Anos depois, ao ver a popularidade da foto, ele percebeu que poderia ter negociado de forma diferente. Em entrevistas, brincou: “Se eu soubesse como ela seria vista, teria pedido uma fração de centavo cada vez que alguém a visse”. A decisão de aceitar um valor único, em vez de royalties, foi algo que o acompanhou, ainda que sem amargura.

Outro mito que ronda Bliss é a suspeita de que a imagem foi editada digitalmente. Afinal, as cores parecem perfeitas demais para ser reais. O’Rear, porém, garante: tudo foi capturado no filme, sem retoques. A combinação da câmera Mamiya — com lentes de alta qualidade — e do filme Fuji, que realçava tons verdes e azuis, explica a nitidez e o brilho da cena. O fotógrafo ainda mencionou que o formato do negativo (6×7 cm) permitia mais detalhes, dando à imagem uma textura quase palpável.

Curiosamente, a paisagem retratada em Bliss não existe mais. As colinas, localizadas no Vale de Sonoma, na Califórnia, foram substituídas por vinhedos no final dos anos 1990. A foto, portanto, é também um registro de um lugar que hoje só vive na memória digital — e na nostalgia de quem passou horas encarando aquele cenário enquanto usava o computador.

Para Chuck O’Rear, a imagem continua sendo um marco em sua carreira, mesmo com o arrependimento financeiro. E para o resto do mundo, Bliss permanece como um símbolo de uma época em que a tecnologia começava a se tornar parte do cotidiano — e em que uma simples foto de viagem podia, sem querer, conquistar o planeta.

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