Glenrothes cria embalagem única em que para saborear o seu whisky de 48 mil euros… terá de partir cápsula com um martelo

No segmento dos destilados de luxo, a tendência tem sido colecionar em vez de consumir. Glenrothes introduz um conceito inovador em que cada garrafa vem encapsulada numa coluna de Jesmonite — um compósito de gesso e resina — e a única forma de aceder à bebida é partindo essa embalagem.

Mar 22, 2025 - 21:19
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Glenrothes cria embalagem única em que para saborear o seu whisky de 48 mil euros… terá de partir cápsula com um martelo

O mercado de whisky raro está em declínio. De acordo com uma análise recente da consultora financeira Noble & Co., as vendas de whisky de luxo caíram 24% em volume e 34% em valor entre o segundo e o terceiro trimestre de 2024. No entanto, o lançamento contínuo de garrafas com preços de cinco dígitos não dá sinais de abrandamento. Só este mês, foi apresentado o mais antigo single malt irlandês da história, seguido do Glen Grant 65 Year Old, um dos mais caros já produzidos pela destilaria de Speyside.

Agora, a Glenrothes junta-se à corrida com o “The 51” — o single malt mais antigo e raro com 146 anos de história. Apenas 100 garrafas estarão disponíveis globalmente, com um preço de 37 mil libras (cerca de 48 mil euros). Um valor astronómico à primeira vista, mas que já se tornou comum no competitivo mercado de whisky raros.

Laura Rampling, master whisky maker da Glenrothes, explicou que um dos barris deste whisky “era delicado e etéreo”, enquanto o outro era “mais rico e doce”.

Mas será que alguém irá realmente saborear este whisky? No segmento dos destilados de luxo, a tendência tem sido colecionar em vez de consumir. Exemplo disso é o Van Winkle 25-Year-Old, lançado em 2017, que atualmente se vende por 65 mil libras sem registos de notas de prova fora da destilaria.

E Glenrothes 51 introduz um conceito inovador que pode alterar as regras do jogo. Cada garrafa vem encapsulada numa coluna de Jesmonite — um compósito de gesso e resina — e a única forma de aceder à bebida é partindo essa embalagem com um martelo plano incluído no conjunto.

A razão? Evitar a revenda. As embalagens extravagantes tornaram-se um dos maiores atrativos para colecionadores e investidores, muitas vezes mais focados na estética do que no líquido propriamente dito. No entanto, ao forçar os compradores a destruir a embalagem para aceder ao whisky, a Glenrothes desincentiva a revenda no mercado alternativo.

“Este é um whisky que se torna praticamente impossível de revender, pelo menos em leilões públicos”, explica Jonny Fowle, global head of whisky da Sotheby’s.

Para os colecionadores que decidirem partir a embalagem, há uma solução artística. A Glenrothes convida-os a devolver os fragmentos de Jesmonite à destilaria para serem restaurados por um artista de kintsugi, a tradicional arte japonesa de reparar objetos com ouro.

A estratégia pode marcar um ponto de viragem na categoria, promovendo a apreciação em detrimento da especulação. Para Fowle, este é um passo positivo: “É ótimo quando as pessoas bebem os seus whiskies. Antes, havia um elemento de escassez introduzido pelo consumo, mas isso praticamente desapareceu no segmento de topo.”

Nos últimos dez anos, o whisky raro consolidou-se como um investimento de luxo, ultrapassando ativos como arte, automóveis clássicos, relógios e diamantes, segundo o Knight Frank Luxury Investment Index.