Deve o marketeer ser um criativo?

Texto de Lídia Moreira, diretora de Marketing, Comunicação & Sustentabilidade de Soja de Portugal

Sempre me questionei por que todos assumem que o profissional de marketing deve ser um criativo. Será que, ao escolher esta profissão, estamos automaticamente condenados a ser vistos como os geradores de ideias excêntricas, os visionários publicitários ou os génios da criatividade?

O marketeer não é um artista. Durante anos, o marketing foi romantizado como um campo onde apenas os mais criativos sobrevivem. Publicidade, branding, storytelling – tudo parece apontar para um mundo onde a originalidade é a mira. No entanto, esta visão ignora que o marketing é, antes de tudo, estratégico. Um marketeer sem pensamento analítico, sem compreensão do mercado, sem o domínio dos dados e sem foco na execução é tão inútil como um escultor sem uma estrutura para dar vida às suas ideias.

A criatividade não será essencial em qualquer profissão? A criatividade não é um privilégio do marketing. Os médicos utilizam-na para formular diagnósticos precisos e encontrar soluções para casos complexos. Engenheiros aplicam-na para desenvolver novas tecnologias e otimizar processos. Líderes empresariais dependem dela para antecipar tendências e transformar desafios em oportunidades de crescimento. Portanto, exigir que o marketeer seja criativo não é um erro – o erro é presumir que essa seja a única ou principal competência que o define.

Muitas vezes, o verdadeiro desafio do marketing não está em encontrar ideias brilhantes, mas sim em solucionar problemas reais de forma eficaz. O marketeer não é (ou não deveria ser) um publicitário frustrado, mas sim um gestor de mercado, um estratega de crescimento, um condutor entre necessidades do consumidor e soluções empresariais. Criatividade? Sim. Mas sempre aliada a análise, visão e execução.

No final, devemos perguntar por que razão qualquer profissional não deveria ser criativo? Criatividade não é um dom reservado a um nicho de profissões – é uma ferramenta essencial para todos, independentemente da área em que atuam.