Os Enigmas da Couture: tudo o que você precisa saber

Repleta de segredos guardados a sete chaves, a alta-costura mantém sua complexidade, além de traduzir o espírito dos novos tempos

Mar 23, 2025 - 21:10
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Os Enigmas da Couture: tudo o que você precisa saber

As expectativas quanto às criações de Couture são altas. Talvez seja uma herança dos tempos de John Galliano na Dior, que, nos anos 2000, transformava seus desfiles e coleções em espetáculos megalomaníacos.

Mas, assim como no mundo do ready-to-wear, esses looks sucumbiam à obsolescência. Consequência dessa memória ou não, há uma insatisfação no ar. A sensação é de uma espera ansiosa por um novo “New Look”, apelido dado à coleção de estreia de Christian Dior, de 1947.

Litros de Miss Dior, fragrância criada pela maison para marcar o début do estilista, eram borrifados em salas floridas, criando um choque de realidade: era inverno em Paris, mas dentro do prédio da Avenue Montaigne reinava a primavera.

Na passarela, os tecidos tinham a missão de devolver a feminilidade às mulheres que passaram anos respirando o cenário sombrio da Segunda Guerra Mundial. O impacto do desfile foi tão intenso que Jean Cocteau o comparou à bomba atômica. Mas será que a Couture só faz sentido quando é vanguardista?

Uma coleção de alta-costura já é uma revolução. Quase um tesouro construído por mãos misteriosas que estão há décadas no ofício, levando para o futuro tradições preciosas, de ateliês centenários que, talvez, sem a Couture, já teriam desaparecido.

Na Chanel, cada peça exige entre 25 e 30 medidas para se ajustar como uma segunda pele, e a categoria mais exclusiva da moda tem suas regras. Os parâmetros são os mesmos, seja para vestidos exuberantes ou para tailleurs de tweed, que fingem uma simplicidade, mas escondem complexidade.

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Para o Verão 2025, desfilado agora em janeiro, as casas mostraram que — diferentemente do prêt-à-porter, que ainda teima em flertar com a efemeridade — a Couture traduz o espírito do tempo e a exclusividade do seu universo. A leveza predomina e cada marca escolheu sua forma de abordá-la.

Na Dior, Maria Grazia Chiuri mostrou como pinçar elementos do passado e presente e torná-los coexistentes em uma narrativa que se conecta aos discursos feministas, tradicionais desde sua primeira coleção.

Além dos corsets, crinolinas e ancas, que foram trabalhados com significado contrário às funções originais, a estilista resgatou ícones da grife, como a linha Trapèze, lançada por Yves Saint Laurent, em 1958, e a silhueta Le Cigale, desenvolvida pelo próprio fundador em 1952/53. Transparências, franjas e bordados suaves são retrabalhados ao longo da passarela, com fluidez ou sobrepondo gaiolas-saias.

Getty Images
Vestido apresentado no desfile de Alta Costura 2025 da ValentinoGetty Images/Divulgação
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Apesar das cores e detalhes românticos sugerirem inocência, há uma dose de rebeldia nessa mulher que precisa de força e coragem para descobrir um novo mundo. Poucos sabiam que Coco Chanel era especialista em cores.

Ainda que a combinação preto e branco seja a assinatura da grife que leva seu sobrenome, os tons pastel e contrastes vibrantes foram essenciais na sua história.

Desta vez, o estúdio criativo brincou com forros acetinados das peças em tweed que estimularam uma nova percepção de frescor para shapes tradicionalmente estruturados. Mas não só: conjuntos de seda e vestidos de chiffon com babados e degradês, plumas e penas, tules e paetês ilustraram a estética vaporosa para o próximo verão.

Giorgio Armani acendeu as luzes de Paris com uma sequên-cia de brilhos fora do comum. Para celebrar os 20 anos da Giorgio Armani Privé, o italiano manteve sua liberdade de explorar a excelência da sofisticação, sem economizar em bordados, transparências e sobreposições. A sensualidade da mulher Armani é esfíngica: distante do óbvio e carregada de referências. É como se esse guarda-roupa reunisse belezas captadas ao longo de uma jornada por Japão, China, Índia e as ilhas da Polinésia. A silhueta é aprimorada tanto em peças de alfaiataria quanto em vestidos ajustados.

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Certamente, os arquivos e os ateliês da Valentino têm sido um deleite para Alessandro Michele. Em sua estreia, ele reinterpretou ícones de Valentino Garavani, propondo uma equação maximalista à sua moda — como uma evolução por meio da redescoberta do passado. Entre as inspirações estava o vestido Arlequim, que abriu o desfile e traz uma versão atual reimaginada com gola alta e mangas coloridas.

Para quem desconhecia essa referência, a sensação foi de ver algo inédito. No fim, uma nova abordagem pode transformar algo já visto em uma primeira vez. Talvez esse seja um dos segredos para uma verdadeira revolução.

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