Eleições que importam

Não creio que haja demasiada gente interessada em seguir ou informar-se sobre o que se convencionou chamar de «crise política». O nível rasteiro das lideranças partidárias é tão confrangedor que qualquer delegado de turma do ensino básico faria mais decente e melhor figura. Daí que muitos eleitores estejam saturados de berreiro e pantominas infantis, sendo-lhes […]

Abr 26, 2025 - 17:32
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Eleições que importam

Não creio que haja demasiada gente interessada em seguir ou informar-se sobre o que se convencionou chamar de «crise política».

O nível rasteiro das lideranças partidárias é tão confrangedor que qualquer delegado de turma do ensino básico faria mais decente e melhor figura. Daí que muitos eleitores estejam saturados de berreiro e pantominas infantis, sendo-lhes na prática e racionalmente, indiferente quem venha a ganhar as eleições.

Na verdade, qualquer primeiro-ministro português finge e fingirá sempre gerir com a sua batuta a economia e o quadro institucional do país. Mas sabemos todos que quem manda substancialmente mais é a oligarquia burocrática não-eleita da Comissão Europeia, a chefe do Banco Central Europeu e os dirigentes dos grandes países da Europa.

Portanto, mais decisivos para o nosso futuro colectivo serão os desenvolvimentos políticos noutras geografias. E o que se vê por aí não é nada animador…

Na Alemanha o muito celebrado futuro Chanceler, congemina uma espécie de golpe de estado, contornando à má fila as normas constitucionais que limitam o tecto de despesa pública. Friedrich Merz e os partidos que estão dispostos a apoiá-lo têm apenas maioria de dois terços no antigo parlamento, e não no novo, sendo que os 2/3 são necessários para alterar a Constituição. Assim, além de quebrar a sua própria promessa eleitoral de não aumentar mais a dívida pública, Merz pretende, à revelia das boas práticas democráticas, ignorar a relação de forças no parlamento recém-eleito e usar o parlamento cessante para aprovar uma alteração à Constituição, escassos dias antes da tomada de posse dos novos deputados. Ou seja, trata-se de uma manobra pela porta-do-cavalo e anti-democrática porque não parece legítimo comprometer a Alemanha com investimentos na ordem do trilião de euros à revelia da vontade popular expressa nas urnas.

Entretanto, depois de em dezembro o resultado das eleições na Roménia ter sido invalidado, muito por pressão da União Europeia, e após ser detido quando ia submeter a sua nova candidatura a presidente, o candidato que surge à frente nas sondagens foi banido pelas autoridades locais de concorrer às eleições, entretanto reconvocadas. O candidato a presidente é um nacionalista e populista muito crítico das narrativas dominantes nos corredores de Bruxelas. Seria inconveniente no quadro da união europeia.

Mas, aparentemente, tanto no caso da Roménia como da Alemanha, todos estes procedimentos e situações rocambolescas parecem ser aceites como normais e, até, virtuosas aos olhos dos representantes políticos dos cidadãos europeus. Assim sendo, para quê nos preocuparmos com as disputas entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos?

A minha crónica-vídeo de hoje, aqui: