Ucrânia e os «vassalos de Putin»
Em Portugal e na Europa, estamos novamente num pico máximo do pensamento único, de policiamento de opinião, de delação de narrativas desalinhadas, de difamação de quem diverge da norma e analisa criticamente o grande assunto do momento: a guerra na Ucrânia e os caminhos para a Paz. Quem pensou que a histeria colectiva alucinada com […]
Em Portugal e na Europa, estamos novamente num pico máximo do pensamento único, de policiamento de opinião, de delação de narrativas desalinhadas, de difamação de quem diverge da norma e analisa criticamente o grande assunto do momento: a guerra na Ucrânia e os caminhos para a Paz.
Quem pensou que a histeria colectiva alucinada com a Covid tinha sido o mais estúpido dos tempos, pode verificar agora que a palermice veio para ficar. A ideia de que se duas pessoas tiverem acesso à mesma informação terão inexoravelmente opinião igual sobre os factos, é uma doutrina perigosamente dominante.
Vejo frequentemente gente dizer que quem viu as cenas na sala oval entre Zelenski e JD Vance, se for sério, só pode ter uma interpretação dos factos. Ou seja: que Trump e Vance montaram uma cilada capciosa ao herói Vlodomir. Se se entende coisa diferente ou se introduz nuances na análise, não passa de um canalha putinista.
Vi partilhada à saciedade nas redes sociais a afirmação de um cronista da nossa praça de que Trump é a pior pessoa “de toda a história da Humanidade”, mais malévolo portanto que Idi Amin, Pol Pot, Hitler ou mesmo Putin, só para referir alguns nomes de ditadores da história contemporânea… Quem não der por certa esta asserção, segundo a voz corrente, ou é comuna ou é fascista.
Quem ousar alertar para a leviandade de a partir do sofá se exigir a terceiros que façam o sacrifício de manter indefinidamente e até ao último homem um combate às forças invasoras russas, esse alguém é, segundo os cânones actuais, um bronco vassalo de Putin.
Aqueles que recusam a excitação de comentadores sentenciando que a Europa não deve alinhar nem ponderar interesses e posições com os Estados Unidos são, de acordo com a boa opinião publicada, inimigos públicos.
Os políticos já perceberam a delicadeza e os perigos da situação internacional. Mas, como na covid, como o povo e os opinion-makers clamam pela imperiosa necessidade de os dirigentes tomarem atitudes, os políticos e burocratas europeus alimentam uma narrativa cheia de indignações para auto-apreciação de fictícia superioridade moral. A cólera anti-Trump, serve para massajar egos insuflados. Mas, na verdade, enquanto estão no poder a Ucrânia é apenas instrumental para preservarem a sua popularidade eleitoral. As consequências e escrutínio dos seus actos virão mais tarde, quando já estiverem no conforto de não serem políticos no activo.
Todavia, para um caminho de Paz, exigir-se-ia realismo e não proselitismo. Para inteligência e sensatez na acção, reclamar-se-ia consideração por pontos de vista diversos e até antagónicos. E a bem da liberdade e da segurança, a discordância de opinião não deveria ser considerada maligna ou um pecado.
A minha crónica-vídeo de hoje, aqui: