Dona da Zara abandona certificação Better Cotton após escândalo e aposta em algodão orgânico
A decisão surge no âmbito da estratégia da empresa para reduzir o impacto ambiental das suas matérias-primas até ao final da década uma vez que o grupo deixou de considerar o algodão certificado pelo programa como de menor impacto ambiental.


A Inditex, dona da Zara, está prestes a abandonar a certificação Better Cotton, visto como um programa de algodão sustentável amplamente utilizado na indústria da moda. A decisão surge no âmbito da estratégia da empresa para reduzir o impacto ambiental das suas matérias-primas até ao final da década, um compromisso assumido junto dos consumidores e investidores, uma vez que o grupo deixou de considerar o algodão certificado pelo programa como de menor impacto ambiental.
Sendo o algodão um dos materiais mais utilizados pelas gigantes do fast fashion, como Zara e H&M, essencial para peças básicas como jeans e T-shirts, torna-se imperativo que seja o mais sustentável possível tendo em conta que a sua produção pode ser altamente poluente. A sua produção exige pesticidas tóxicos e fertilizantes que prejudicam o solo e contribuem para a desflorestação, sendo por isso, bastante poluente. Além disso, a cadeia de abastecimento do algodão tem sido associada a violações dos direitos humanos, incluindo trabalho infantil e forçado.
A certificação Better Cotton tem sido central na estratégia de muitas marcas para mitigar estes riscos, mas a Inditex deixou de considerar este algodão como o de menor impacto ambiental. Criada há 20 anos por um grupo internacional de organizações ambientais, marcas e associações comerciais, a Better Cotton tem sido criticada por falta de rigor nos seus critérios.
A Inditex, que até há pouco tempo dependia fortemente da certificação para sustentar as suas alegações de sustentabilidade, retirou recentemente o Better Cotton da sua lista de materiais de menor impacto. Apesar de ainda utilizar este tipo de algodão, a empresa alterou significativamente o seu abastecimento para dar prioridade a matérias-primas orgânicas e recicladas.
A decisão surge após uma investigação ter revelado que algumas explorações certificadas pela iniciativa Better Cotton no Brasil estavam ligadas a desflorestação em larga escala, apropriação ilegal de terras e assédio violento a comunidades locais. Nesse sentido, a Inditex criticou duramente a Better Cotton, exigindo melhorias na certificação e ameaçando explorar alternativas caso não fossem implementadas mudanças significativas.
Mesmo antes do escândalo, a Inditex já indicava uma mudança de direção. Em 2023, ao atualizar a sua estratégia de sustentabilidade, a empresa definiu a meta de se abastecer quase exclusivamente de algodão orgânico, regenerativo, reciclado e de nova geração até ao final da década.