Do Dubai para as redes: de chocolate a tendência
Opinião de Mariana Santos, Marketing & Strategy Manager e formadora em marketing digital e estratégia.


Texto de Mariana Santos, Marketing & Strategy Manager e formadora em marketing digital e estratégia.
Se há algo que todos adoramos, é uma boa novidade gastronómica. E quando essa novidade envolve chocolate e um toque exótico, o sucesso é praticamente garantido. Foi exatamente o que aconteceu com o famoso “Dubai Chocolate”, que parece ter conquistado os corações (e paladares) em Portugal.
A história começou nos Emirados Árabes Unidos, onde a Fix Dessert Chocolatier, fundada em 2021, criou uma tablete de chocolate inspirada na tradicional sobremesa árabe knafeh, combinando o chocolate de leite com um recheio cremoso de pistácio e fios crocantes de massa kadaif.
O caso ganhou tração quando a influenciadora Maria Vehera partilhou um vídeo no TikTok, descrevendo esta iguaria como uma “obra de arte”. A partir daí, as redes sociais fizeram o resto e assistimos a um verdadeiro fenómeno à escala global.
Se, enquanto consumidora, esta febre me passou ao lado – o sabor a pistácio não é, de todo, a minha praia – enquanto marketeer não pude deixar de me surpreender e retirar algumas ilações:
- Exclusividade e storytelling: a perceção de um produto premium ajuda a justificar o preço elevado do produto, transformando-o numa experiência sensorial e aspiracional. A história que envolve o chocolate é quase tão importante quanto o próprio sabor: um doce exótico, com uma inspiração árabe e uma ligação a um estilo de vida sofisticado. E isso vende.
- O inquestionável poder das redes sociais: que as redes sociais são capazes de mudar radicalmente a história e procura de um produto, já todos sabemos. O chocolate tornou-se um fenómeno global não só pelo seu sabor, mas pela partilha massiva de experiências nas redes sociais. Mais do que provar o chocolate, os consumidores queriam mostrar que estavam dentro da tendência. O mesmo se passou com as marcas, que não ficaram de fora: quer no momento anterior, pela criação de antecipação, quer no momento posterior – com publicações de várias marcas a surfar a onda e a brincar com a situação.
- A escassez resulta (quase) sempre: outro fator-chave neste sucesso foi a perceção de escassez. O facto de o produto estar frequentemente esgotado criou um sentido de urgência nos consumidores, resultando em prateleiras de supermercado vazias logo às oito da manhã. O famoso FOMO (fear of missing out) fez o resto – só isso explica a revenda do chocolate a preços exorbitantes em plataformas de segunda mão. Ou não fosse esta outra lição importante: a procura dita sempre a oferta.
- Agilidade e rapidez das marcas face à procura de mercado: o sucesso deste chocolate não passou despercebido, e marcas de diferentes segmentos, como a Lindt e J.D. Gross (que pode ser encontrada no Lidl) moveram-se rapidamente para capitalizar esta procura. Este tipo de resposta ágil é um reflexo da importância de estar atento às tendências e de adaptar a oferta rapidamente para satisfazer a procura dos consumidores.
Queremos o produto ou a experiência?
A grande questão que fica é a seguinte: enquanto consumidores, estamos realmente interessados no produto (fãs de pistácio, acusem-se) ou essencialmente na experiência de fazer parte da tendência?
O “Chocolate do Dubai” é um caso de estudo perfeito sobre como a perceção de exclusividade, a escassez e a viralização podem transformar um simples chocolate num fenómeno global.
Agora, resta-nos esperar pela próxima tendência gastronómica que nos fará correr para as lojas – ou para o TikTok. Da minha parte, de preferência sem pistácio.