Dias de Batávia (5)

Quando se viaja é difícil poder ver tudo o que se quer. Ou o que se gosta. E há ocasiões em que se acaba a perder tempo vendo o que não se quer, não se gosta e é inútil para o nosso enriquecimento ou bem-estar. Daí que desconfie de quase tudo o que me aparece em panfletos publicitários e em grandes promoções logo à saída dos aeroportos, nos hotéis e nas ruas mais movimentadas, coisas do tipo “não perca esta experiência única”, “a world of shopping”, “unforgettable moments”. Um pouco como aquelas cantinas que anunciam pizzas, sushi, caril e cozido à portuguesa e das quais fujo a sete pés. Apesar disso acabei por embarcar numa "aventura". Ficando aquém das minhas expectativas, ainda assim fez-me passar umas horas diferentes. O último grande aquário onde estive, há anos, foi o Vasco da Gama, que visitei com um sobrinho, mais neto, quando ele começou a descobrir o mundo em que vivemos. Normalmente prefiro ver a fauna e flora marinhas no seu ambiente natural, o que há mais de quarenta anos me leva a sítios mágicos nos cinco continentes. Desta vez, em virtude de ter algum tempo livre, resolvi visitar o Jakarta Aquarium Safari. A surpresa foi descobrir que ficava dentro de um dos modernos e gigantescos centros comerciais da cidade, o Neo Soho, numa zona de saída para a periferia e sem luz natural. A novidade foi perceber que na bilheteira, estranhamente, não se aceitava dinheiro físico. Quem gosta de animais nunca dará o seu tempo por perdido. O espaço oferece bastante informação sobre espécies autóctones e importadas. Raias sul-americanas, piranhas do Amazonas, relas minúsculas e sapos esquisitos, focas e lontras é que não estavam no meu programa. Valeu por poder demorar-me a ver exemplares normalmente inacessíveis em condições de segurança, como diferentes tipos de lagartos, escorpiões e de tarântulas. Há também outros animais inofensivos, corais, peixes exóticos, dos mais amigáveis aos que não se pode chegar perto, vulgares em inúmeros recifes na Austrália, na Malásia, nas Maldivas, nos Açores, em Palau ou no Havai, de todos os tamanhos, mais umas quantas moreias de várias nações, peixes-dragão, palhaços, peixes-folha, diferentes tunídeos, tubarões; sem esquecer a passarada e até uma pitão que por ali “hiberna” e se deixa acariciar por quem nisso tiver interesse. Encontrei inúmeras crianças, interessadas, simpáticas, acompanhadas pelos professores, em visitas de estudo, o que se repetiu noutros locais. Passei por alguns mercados. Na Ásia têm sempre um colorido especial. Andei sem destino por diversos locais, descobrindo ruas típicas, zonas residenciais, a azáfama das lojas tradicionais e feiras de rua, sempre sem me demorar. Nada de novo. Confusão e calor. Há muitos cursos de água francamente poluídos e pestilentos que atravessam partes da cidade. Muitos gatos em jardins, outros vadiando, perto de comedores de rua e templos, espreguiçando-se ao sol, embora no geral se veja um esforço grande para elevar os padrões de higiene e salubridade. O clima não ajuda, vislumbram-se contentores e depósitos de lixo, não se vendo cães vadios. Nas proximidades, traseiras ou mesmo no lado oposto da mesma rua, ainda se vêem hotéis superlativos, condomínios de luxo e lojas das melhores marcas em centros comerciais que convivem com nichos degradados e de águas residuais que precisavam de mais atenção. Lá chegará o dia. Como em qualquer grande cidade de um país em crescimento acelerado, económico e demográfico – é o quarto país mais populoso do mundo – vi muitos contrastes. Os carros e motociclos são em geral novos. Gente muito abastada – a taxa de crescimento de milionários é das mais elevadas do mundo –, outros que me pareceram francamente pobres sem que parecessem miseráveis. Em termos gastronómicos a oferta é rica e variada. E para todas as bolsas. Nas cozinhas e restaurantes de rua há uma clara predominância dos fritos. A evitar. Vejo imensa fruta, como é usual por estas bandas, cheirosa e de óptima qualidade, sumos naturais de tudo, mercados e supermercados excelentemente abastecidos, miríades de produtos gourmet vindos de todo o lado. E nos centros comerciais há tudo. Estabelecimentos de conhecidas brasseries, cerveja artesanal, restaurantes italianos, belgas, indianos, japoneses. E do melhor. Se de comida se fala, deixo aqui duas indicações. No 46.º andar do The Plaza, uma torre de escritórios que tem alguns restaurantes nos andares superiores, está o Altitude.  Um grill exemplar. Três pisos acima existe um terraço com um bar e uma esplanada magnífica, que os modernaços chamam de rooftop, com cocktails de confiança, um whisky sour profissional e vistas de cortar a respiração, antes ou depois de jantar, quando a noite se estica, a humidade se reduz, sopra uma ligeira brisa e a temperatura se torna mais amena. O Seribu Rasa é um restaurante com comida típica indonésia e alguns pratos de origem tailandesa ou malaia. Encontra-se nas traseiras do Pulman Jakarta, num local cuidado, extremamente aprazível, sem ba

Mai 9, 2025 - 01:56
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Dias de Batávia (5)

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Quando se viaja é difícil poder ver tudo o que se quer. Ou o que se gosta. E há ocasiões em que se acaba a perder tempo vendo o que não se quer, não se gosta e é inútil para o nosso enriquecimento ou bem-estar.

Daí que desconfie de quase tudo o que me aparece em panfletos publicitários e em grandes promoções logo à saída dos aeroportos, nos hotéis e nas ruas mais movimentadas, coisas do tipo “não perca esta experiência única”, “a world of shopping”, “unforgettable moments”. Um pouco como aquelas cantinas que anunciam pizzas, sushi, caril e cozido à portuguesa e das quais fujo a sete pés.

Apesar disso acabei por embarcar numa "aventura". Ficando aquém das minhas expectativas, ainda assim fez-me passar umas horas diferentes.

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O último grande aquário onde estive, há anos, foi o Vasco da Gama, que visitei com um sobrinho, mais neto, quando ele começou a descobrir o mundo em que vivemos. Normalmente prefiro ver a fauna e flora marinhas no seu ambiente natural, o que há mais de quarenta anos me leva a sítios mágicos nos cinco continentes.

Desta vez, em virtude de ter algum tempo livre, resolvi visitar o Jakarta Aquarium Safari. A surpresa foi descobrir que ficava dentro de um dos modernos e gigantescos centros comerciais da cidade, o Neo Soho, numa zona de saída para a periferia e sem luz natural. A novidade foi perceber que na bilheteira, estranhamente, não se aceitava dinheiro físico.

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Quem gosta de animais nunca dará o seu tempo por perdido. O espaço oferece bastante informação sobre espécies autóctones e importadas. Raias sul-americanas, piranhas do Amazonas, relas minúsculas e sapos esquisitos, focas e lontras é que não estavam no meu programa. Valeu por poder demorar-me a ver exemplares normalmente inacessíveis em condições de segurança, como diferentes tipos de lagartos, escorpiões e de tarântulas.

Há também outros animais inofensivos, corais, peixes exóticos, dos mais amigáveis aos que não se pode chegar perto, vulgares em inúmeros recifes na Austrália, na Malásia, nas Maldivas, nos Açores, em Palau ou no Havai, de todos os tamanhos, mais umas quantas moreias de várias nações, peixes-dragão, palhaços, peixes-folha, diferentes tunídeos, tubarões; sem esquecer a passarada e até uma pitão que por ali “hiberna” e se deixa acariciar por quem nisso tiver interesse. Encontrei inúmeras crianças, interessadas, simpáticas, acompanhadas pelos professores, em visitas de estudo, o que se repetiu noutros locais.

Passei por alguns mercados. Na Ásia têm sempre um colorido especial. Andei sem destino por diversos locais, descobrindo ruas típicas, zonas residenciais, a azáfama das lojas tradicionais e feiras de rua, sempre sem me demorar. Nada de novo. Confusão e calor.

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Há muitos cursos de água francamente poluídos e pestilentos que atravessam partes da cidade. Muitos gatos em jardins, outros vadiando, perto de comedores de rua e templos, espreguiçando-se ao sol, embora no geral se veja um esforço grande para elevar os padrões de higiene e salubridade. O clima não ajuda, vislumbram-se contentores e depósitos de lixo, não se vendo cães vadios.

Nas proximidades, traseiras ou mesmo no lado oposto da mesma rua, ainda se vêem hotéis superlativos, condomínios de luxo e lojas das melhores marcas em centros comerciais que convivem com nichos degradados e de águas residuais que precisavam de mais atenção. Lá chegará o dia.

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Como em qualquer grande cidade de um país em crescimento acelerado, económico e demográfico – é o quarto país mais populoso do mundo – vi muitos contrastes. Os carros e motociclos são em geral novos. Gente muito abastada – a taxa de crescimento de milionários é das mais elevadas do mundo –, outros que me pareceram francamente pobres sem que parecessem miseráveis.

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Em termos gastronómicos a oferta é rica e variada. E para todas as bolsas. Nas cozinhas e restaurantes de rua há uma clara predominância dos fritos. A evitar. Vejo imensa fruta, como é usual por estas bandas, cheirosa e de óptima qualidade, sumos naturais de tudo, mercados e supermercados excelentemente abastecidos, miríades de produtos gourmet vindos de todo o lado. E nos centros comerciais há tudo. Estabelecimentos de conhecidas brasseries, cerveja artesanal, restaurantes italianos, belgas, indianos, japoneses. E do melhor.

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Se de comida se fala, deixo aqui duas indicações. No 46.º andar do The Plaza, uma torre de escritórios que tem alguns restaurantes nos andares superiores, está o Altitude.  Um grill exemplar. Três pisos acima existe um terraço com um bar e uma esplanada magnífica, que os modernaços chamam de rooftop, com cocktails de confiança, um whisky sour profissional e vistas de cortar a respiração, antes ou depois de jantar, quando a noite se estica, a humidade se reduz, sopra uma ligeira brisa e a temperatura se torna mais amena.

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O Seribu Rasa é um restaurante com comida típica indonésia e alguns pratos de origem tailandesa ou malaia. Encontra-se nas traseiras do Pulman Jakarta, num local cuidado, extremamente aprazível, sem barulho e de uma qualidade notável na frescura e confecção.

Ambos com preços muito acessíveis, vinhos bons e aceitáveis. Quem preferir cerveja terá sempre a fresquíssima Bintang, local, e marcas europeias. Serviço impecável. E, mais importante, sem gente a falar alto e crianças mal-educadas correndo entre mesas perante a indiferença dos pais que falam ao telemóvel. A ambos espero voltar.

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Restaurantes, bares, música ao vivo e locais de diversão nocturna para os apreciadores do género também não faltam. Há uma zona em desenvolvimento a cerca de 24 Km do centro da cidade, relativamente próxima do Aeroporto Internacional, conhecida como PIK, com campos de golfe, inúmeros bares, restaurantes, discotecas, karaokes. A perder de vista.

Enfim, fiquemos por aqui.

Estes dias já vão longos para quem ainda se dá ao trabalho de aqui me aturar. A noite chega. Está na hora de refazer a mala, tomar um duche e preparar-me para um último jantar.

Antes disso ainda haverá tempo para um charutinho. E uma Guinness. It’s always time for a Guinness.

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