China avança com estímulos monetários antes do arranque das conversações com EUA
As mexidas surgem após uma longa expectativa de estímulos na segunda maior economia do mundo e na antecâmara das primeiras conversações entre os dois lados, a realizar este fim-de-semana na Suíça.


O Banco Popular da China (BPC) avançou com um corte de 10 pontos base (pb) na taxa de juro de referência da segunda maior economia do mundo e outras medidas de estímulo na antecâmara das primeiras conversações com representantes dos EUA após a escalada de tensões comerciais, um encontro que está a gerar muitas expectativas. Estas mudanças na política chinesa eram já esperadas há meses, mas a resistência do governo levou a que apenas agora Pequim avançasse para as mesmas.
Além do corte de 10 pb nos juros de referência, que coloca esta taxa em 1,4%, o BPC cortou 50 pb da taxa de reserva, que fica assim em 6,2% (embora esta medida entre em vigor apenas a 15 de maio, enquanto a descida da taxa de referência é válida a partir desta quinta-feira, dia 8), após a primeira descida neste requisito bancário desde setembro do ano passado. Segundo o governador do BPC, Pan Gongsheng, esta alteração permitirá injetar 1 bilião de yuans (121,9 mil milhões de euros) na economia.
Além destas medidas de maior destaque, o banco central lançou linhas de refinanciamento de 500 mil milhões de yuans (60,9 mil milhões de euros) para consumo privado e cuidados de saúde para idosos, além de reforçar em 30 mil milhões de yuans (36,6 mil milhões de euros) uma linha da mesma natureza já existente para o setor tecnológico.
No setor imobiliário, onde os problemas se têm amontoado há já alguns anos e ameaçam a estabilidade financeira do país, houve mudanças com vista a estimular o crédito, dando continuidade aos esforços de estabilização deste ramo da economia.
Para os analistas do banco neerlandês ING, “o pacote surgiu agora dado o agendamento das conversações EUA-China” marcadas para este fim de semana em Genebra, na Suíça. Por um lado, os legisladores chineses começam a ter sinais de “como a economia está a ser impactada pelo choque tarifário”, enquanto, por outro, a recente apreciação do yuan “criou uma boa janela para aliviar [juros], enquanto mantém o objetivo de estabilidade cambial”.
Apesar da demora de Pequim em agir, “a natureza agregadora deste pacote, por oposição às abordagens fragmentadas, deverá ter um impacto significativamente maior” do que anteriores alterações na política monetária, lê-se na nota do ING.
Por outro lado, os analistas da Gavekal notam que “a magnitude relativamente pequena dos cortes sugere que os representantes chineses não esperam que o impacto de curto prazo das tarifas seja particularmente severo”, uma vez que o mercado já havia incorporado 30 a 50 pb de cortes – ou seja, bastante acima dos 10 anunciados.
Reunião bilateral este fim de semana
“Uma das razões para a cautela é óbvia: há uma hipótese significativa de as tensões acalmarem” com as conversações deste fim de semana, continua a nota.
O secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, e o negociador-chefe para os assuntos comerciais, Jamieson Greer, encontrar-se-ão com o representante máximo económico chinês, He Lifeng, na Suíça, para tentar aliviar as tensões entre as duas maiores economias do mundo.
“Ainda é pouco claro quem chega com a melhor posição negocial”, argumentam os analistas do ING, projetando que ambos os lados “suavizem posições um pouco para permitir o arranque das conversações”.
Um sinal positivo do lado norte-americano foram os comentários de Bessent, que equipararam os atuais níveis tarifários a um embargo – um cenário não desejado pelos EUA, que dizem pretender apenas uma relação comercial mais justa e equilibrada. Recorde-se que as tarifas impostas de lado a lado chegaram a 145% nos produtos chineses à chegada aos EUA e 125% no sentido inverso, níveis que, segundo o consenso dos economistas, levam ao colapso quase total das trocas entre os dois países.
A perspetiva de negociações animou os mercados durante a sessão de quarta-feira, impulsionando os índices norte-americanos, apesar da iminência da decisão da Reserva Federal (que não deve ser favorável aos mercados) na expectativa de um alívio nas barreiras ao comércio entre os dois países.