Caso da torta envenenada: família aguarda laudos de idosa em estado grave
Exames descartaram contaminação por chumbinho e família aguarda o resultado de novos laudos

A idosa Cleuza Maria de Jesus, de 78 anos, uma das vítimas da torta de frango supostamente envenenada, segue internada em estado grave e entubada. Exames descartaram contaminação por chumbinho e a família, agora, aguarda o resultado de novos laudos. A vítima está internada na UTI do Hospital Med Center, na Região de Venda Nova de Belo Horizonte.
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Além da idosa, o casal Fernanda Isabella de Morais Nogueira, de 23, e José Vitor Carrillo Reis, de 24, também comeram a torta e está internado entubado na UTI do Hospital Municipal Monsenhor Flávio Donato, em Sete Lagoas, na Região Central de Minas.
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Até esta quinta, o estado de saúde das vítimas seguia grave, porém estável. Conforme familiares ouvidos pela reportagem, ainda não há um laudo definitivo do que causou a contaminação.
De acordo com o boletim de ocorrência, o casal estava em visita à idosa no domingo (20/4) quando comprou os salgados em uma padaria localizada no Bairro Serrano, na Região da Pampulha. Horas depois, perceberam que a torta estava estragada e chegaram a retornar à padaria para devolver o produto. Já em Sete Lagoas, começaram a passar mal e procuraram atendimento médico, sendo imediatamente internados. A idosa só apresentou os primeiros sintomas na manhã de segunda-feira (21/4). Ela teve uma parada respiratória e precisou ser reanimada pelo filho antes de ser levada a um hospital particular na capital.
Na terça-feira (22/4), a Vigilância Sanitária interditou a Padaria Natália. Segundo a Prefeitura de Belo Horizonte, o estabelecimento não possuía alvará sanitário nem sequer estava cadastrado no sistema municipal para iniciar o processo de regularização. A inspeção revelou ainda ainda problemas de higiene e estrutura. Apesar disso, o alvará de localização e funcionamento do negócio está regular, segundo a Secretaria Municipal de Política Urbana.
Padeiro denuncia más condições
O padeiro Ronaldo de Souza Abreu, de 55 anos, que foi ouvido na Central de Flagrantes 4 nessa quarta e liberado em seguida, trabalhava havia apenas seis dias na padaria. Em sua versão, ele negou que tenha envenenado as tortas e denunciou a precariedade das condições de higiene na padaria. Segundo ele, os alimentos no estabelecimento eram mal armazenados, o que poderia ter causado uma eventual contaminação cruzada.
Ao Estado de Minas, a esposa do padeiro, Ruth Lazarini, de 43 anos, confirmou que o marido levou a mesma torta de frango produzida na padaria para a família e que ninguém passou mal ou teve qualquer reação adversa. O produto também foi entregue à polícia para perícia. “Meu marido está há mais de 40 anos nessa profissão e isso nunca aconteceu. Eles estão fazendo uma acusação falsa contra ele”, diz.
Ela também detalhou as falhas sanitárias, que, segundo seu marido, eram rotina no estabelecimento. “A higienização da padaria, pelo que meu marido me contava, não era de boa qualidade não. Eles mantinham muito os alimentos jogados e não tinham aquele cuidado com os alimentos que precisavam ter. As comidas ficam todas juntas e abertas dentro do congelador”, detalha.
Padeiro quer processar dono de padaria
Acusado de ter envenenado a torta, Ronaldo de Souza Abreu vai acionar judicialmente o proprietário do estabelecimento. A informação foi confirmada ao Estado de Minas pela esposa do padeiro.
Em entrevista à "Folha de S. Paulo" nessa quarta-feira (23), o proprietário do estabelecimento, Fábio Silva, acusou o funcionário temporário de envenenar o salgado, que foi ingerido por um casal de 23 e 24 anos e uma mulher de 75 anos. À reportagem do veículo paulista, ele disse que Ronaldo teria confidenciado a colegas estar enfrentando problemas conjugais, e a partir daí concluiu que ele pretendia matar a esposa.
Segundo o proprietário da padaria, Ronaldo teria levado para casa a mesma torta vendida no balcão na segunda-feira (21/4) e, por isso, teria confundido os produtos, deixando a versão supostamente envenenada à venda para o público. Na entrevista, ele chega a dizer ainda que se soubesse dos problemas conjugais do casal teria “mandado esse cara embora na hora”.
"A bomba [das possíveis contaminações] veio à tarde, e à noite eu juntei as peças. Ele ia matar a mulher envenenada e acabou colocando três pessoas no hospital e eu passando por essa situação, por esse pesadelo", afirmou Silva.
Apesar da acusação grave, Silva não apresentou qualquer prova ou detalhe sobre o teor e gravidade supostos conflitos conjugais de Ronaldo. A declaração também não consta no boletim de ocorrência registrado pela Polícia Militar às 18h40 de quarta. Caso a acusação tenha sido feita à polícia e seja falsa, o dono da padaria pode responder por falso testemunho, crime com pena de até três anos de prisão.
A Polícia Civil, que assumiu as investigações, foi procurada pelo Estado de Minas para confirmar se a declaração foi dada formalmente no depoimento, mas se limitou a dizer que aguarda a finalização de laudos periciais. "Conforme já informado, novas informações serão divulgadas assim que possível, respeitando os trâmites legais e o sigilo necessário à elucidação do caso", informou por meio de nota.
Investigação
Comunicada sobre o caso, a Polícia Civil de Minas Gerais isolou o local, acionou a perícia técnica e a vigilância sanitária, e conduziu o dono da padaria para prestar depoimento. Amostras dos alimentos foram recolhidas e encaminhadas para análise.
Embora os exames laboratoriais ainda não tenham confirmado a origem da contaminação, médicos que acompanham os pacientes afirmam que os sintomas são compatíveis com intoxicação por carbamato, organofosforado ou toxina botulínica. Diante do quadro clínico, a Secretaria de Saúde de Sete Lagoas passou a tratar o caso como possível botulismo. Os pacientes receberam soro antitoxina botulínica ainda no dia da internação.
(Com informações de Clara Mariz e Melissa Souza)