Análise: Moroi é uma fábula de fantasia sombria de tirar o fôlego

Em meio à avalanche de jogos que nos soterram todos os dias, com grandes lançamentos multimilionários, é comum que algumas joias brutas acabem passando despercebidas pelos olhos mais desatentos. Vindo do estúdio estreante Violet Saint e lançado exclusivamente para PC, Moroi é uma obra que se encaixa nesse perfil — mas que tem o potencial de furar a bolha e se tornar um nome lembrado quando falarem de 2025.“Não sei meu nome, quem sou ou o que estou fazendo aqui.”Mistério é a palavra que melhor define o sentimento transmitido por Moroi. Entender o motivo de as coisas estarem acontecendo — ou por que o mundo parece tão distorcido — faz parte da experiência.Aqui, assumimos o papel de um prisioneiro sem nome que perdeu a memória. Confuso e sem entender como foi parar naquela situação, ele começa a explorar o ambiente ao seu redor e logo percebe que este mundo não é normal. Nas celas vizinhas, encontra bruxas, magos, monstros e máquinas falantes. Ao conversar com eles, o protagonista rapidamente compreende que precisa escapar dali o quanto antes e parte em uma jornada em busca da verdade — de quem ele é e que lugar é aquele.Ao longo do caminho, o sem nome encontrará algumas armas que lhe darão a ilusão de segurança. Mesmo que esteja empunhando um machado, porrete, espada ou canhão, talvez isso não seja suficiente para enfrentar os perigos que o aguardam nas profundezas das masmorras.Contar mais do que isso seria estragar boa parte das surpresas que o jogo reserva, já que o mistério é um elemento central da narrativa que ele tenta construir. Moroi é aquele tipo de jogo em que, quanto menos você souber, mais irá se surpreender ao longo da aventura.Muito desse impacto se deve à estética e à construção de mundo adotadas pelo jogo. A atmosfera de fantasia sombria, com toques de terror, gera um sentimento constante de desconforto — como se aquele mundo não o quisesse ali. Independentemente de onde você vá, nunca será bem-vindo, e tudo que se move tentará matá-lo. Mesmo aqueles que aparentam ser confiáveis podem tentar cravar uma faca nas suas costas na primeira oportunidade.A beleza do mundo, o horror da jogabilidadeA estética sombria e opressora do mundo de Moroi é, sem dúvidas, seu aspecto mais marcante. Infelizmente, o mesmo não pode ser dito da jogabilidade, que se resume ao funcional — e nada além disso.Durante a jogatina, fica evidente que o principal objetivo dos desenvolvedores era contar uma ótima história, independentemente do orçamento limitado ou da inexperiência do estúdio — mesmo que isso implicasse sacrificar outras partes do jogo.Assim que o jogador assume o controle do personagem, nota rapidamente o quão simples é tudo: desde a movimentação e a interação com o cenário até, principalmente, o combate — que é desengonçado, impreciso e, em muitos momentos, frustrante, especialmente nas lutas contra chefes.A perspectiva isométrica fornece uma visão ampla dos ambientes, o que ajuda a lidar com as enormes hordas de inimigos. Entretanto, seja no corpo a corpo ou com armas à distância, o combate carece de peso e impacto. O personagem não reage aos ataques dos inimigos — e vice-versa. Não há uma leitura clara de dano infligido ou recebido, e você só percebe que morreu quando a mensagem “pressione X para recomeçar” surge abruptamente na tela. Agora, imagine tudo isso somado a uma pitada generosa de bugs.Esta análise foi escrita antes do lançamento oficial do jogo. Alguns dos problemas descritos podem ser corrigidos em atualizações futuras — mas não há garantias. Na minha experiência pessoal, enfrentei os mais variados tipos de bug: save corrompido, travamentos, chefes com vida infinita, inimigos surgindo debaixo do chão, elevadores que nunca chegavam, loadings intermináveis, objetivos que não apareciam, NPCs que não deixavam cair o item necessário para concluir uma missão… sem mencionar a trilha sonora, que, ao longo das minhas nove horas de jogo, simplesmente não tocou uma única vez. Mesmo que você tente relevar todos esses defeitos para aproveitar a história, sua experiência será inevitavelmente comprometida.Contudo, o jogo não se resume ao combate desengonçado. As seções de luta são menos frequentes do que o esperado para o gênero. Na maior parte do tempo, nosso protagonista sem nome estará andando de um lado para o outro, realizando tarefas para outros personagens em troca de pistas sobre seu passado ou instruções sobre como escapar da prisão.O fato de o jogo funcionar como um “simulador de caminhada” — ou de fazer favores para desconhecidos — pode afastar jogadores não acostumados com tanto texto ou leitura, especialmente se a trama e seus mistérios não o capturarem logo de início.Um livro jogável (ou quase isso)Além dos diálogos com os personagens que cruzam nosso caminho, o protagonista mantém um diário que é constantemente atualizado com seus pensamentos. A leitura desse diário, além de essencial para compreender a história por completo, é interessante por si só, com uma escrita envolvente que eleva o tom

Mai 3, 2025 - 16:17
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Análise: Moroi é uma fábula de fantasia sombria de tirar o fôlego

Em meio à avalanche de jogos que nos soterram todos os dias, com grandes lançamentos multimilionários, é comum que algumas joias brutas acabem passando despercebidas pelos olhos mais desatentos. Vindo do estúdio estreante Violet Saint e lançado exclusivamente para PC, Moroi é uma obra que se encaixa nesse perfil — mas que tem o potencial de furar a bolha e se tornar um nome lembrado quando falarem de 2025.

“Não sei meu nome, quem sou ou o que estou fazendo aqui.”

Mistério é a palavra que melhor define o sentimento transmitido por Moroi. Entender o motivo de as coisas estarem acontecendo — ou por que o mundo parece tão distorcido — faz parte da experiência.

Aqui, assumimos o papel de um prisioneiro sem nome que perdeu a memória. Confuso e sem entender como foi parar naquela situação, ele começa a explorar o ambiente ao seu redor e logo percebe que este mundo não é normal. Nas celas vizinhas, encontra bruxas, magos, monstros e máquinas falantes. Ao conversar com eles, o protagonista rapidamente compreende que precisa escapar dali o quanto antes e parte em uma jornada em busca da verdade — de quem ele é e que lugar é aquele.


Ao longo do caminho, o sem nome encontrará algumas armas que lhe darão a ilusão de segurança. Mesmo que esteja empunhando um machado, porrete, espada ou canhão, talvez isso não seja suficiente para enfrentar os perigos que o aguardam nas profundezas das masmorras.

Contar mais do que isso seria estragar boa parte das surpresas que o jogo reserva, já que o mistério é um elemento central da narrativa que ele tenta construir. Moroi é aquele tipo de jogo em que, quanto menos você souber, mais irá se surpreender ao longo da aventura.

Muito desse impacto se deve à estética e à construção de mundo adotadas pelo jogo. A atmosfera de fantasia sombria, com toques de terror, gera um sentimento constante de desconforto — como se aquele mundo não o quisesse ali. Independentemente de onde você vá, nunca será bem-vindo, e tudo que se move tentará matá-lo. Mesmo aqueles que aparentam ser confiáveis podem tentar cravar uma faca nas suas costas na primeira oportunidade.

A beleza do mundo, o horror da jogabilidade


A estética sombria e opressora do mundo de Moroi é, sem dúvidas, seu aspecto mais marcante. Infelizmente, o mesmo não pode ser dito da jogabilidade, que se resume ao funcional — e nada além disso.

Durante a jogatina, fica evidente que o principal objetivo dos desenvolvedores era contar uma ótima história, independentemente do orçamento limitado ou da inexperiência do estúdio — mesmo que isso implicasse sacrificar outras partes do jogo.

Assim que o jogador assume o controle do personagem, nota rapidamente o quão simples é tudo: desde a movimentação e a interação com o cenário até, principalmente, o combate — que é desengonçado, impreciso e, em muitos momentos, frustrante, especialmente nas lutas contra chefes.

A perspectiva isométrica fornece uma visão ampla dos ambientes, o que ajuda a lidar com as enormes hordas de inimigos. Entretanto, seja no corpo a corpo ou com armas à distância, o combate carece de peso e impacto. O personagem não reage aos ataques dos inimigos — e vice-versa. Não há uma leitura clara de dano infligido ou recebido, e você só percebe que morreu quando a mensagem “pressione X para recomeçar” surge abruptamente na tela. Agora, imagine tudo isso somado a uma pitada generosa de bugs.


Esta análise foi escrita antes do lançamento oficial do jogo. Alguns dos problemas descritos podem ser corrigidos em atualizações futuras — mas não há garantias. Na minha experiência pessoal, enfrentei os mais variados tipos de bug: save corrompido, travamentos, chefes com vida infinita, inimigos surgindo debaixo do chão, elevadores que nunca chegavam, loadings intermináveis, objetivos que não apareciam, NPCs que não deixavam cair o item necessário para concluir uma missão… sem mencionar a trilha sonora, que, ao longo das minhas nove horas de jogo, simplesmente não tocou uma única vez. Mesmo que você tente relevar todos esses defeitos para aproveitar a história, sua experiência será inevitavelmente comprometida.

Contudo, o jogo não se resume ao combate desengonçado. As seções de luta são menos frequentes do que o esperado para o gênero. Na maior parte do tempo, nosso protagonista sem nome estará andando de um lado para o outro, realizando tarefas para outros personagens em troca de pistas sobre seu passado ou instruções sobre como escapar da prisão.

O fato de o jogo funcionar como um “simulador de caminhada” — ou de fazer favores para desconhecidos — pode afastar jogadores não acostumados com tanto texto ou leitura, especialmente se a trama e seus mistérios não o capturarem logo de início.

Um livro jogável (ou quase isso)


Além dos diálogos com os personagens que cruzam nosso caminho, o protagonista mantém um diário que é constantemente atualizado com seus pensamentos. A leitura desse diário, além de essencial para compreender a história por completo, é interessante por si só, com uma escrita envolvente que eleva o tom épico da aventura em busca da verdade.

Essa é, talvez, a parte mais recompensadora do jogo: toda a jornada gótica e sombria, repleta de desafios que parecem intransponíveis à primeira vista; a busca incessante pela verdade; desvendar os mistérios daquele mundo e entender suas regras… é aí que Moroi brilha.

Infelizmente, alguns desses méritos são ofuscados por limitações técnicas e orçamentárias. Ainda assim, é impossível não perceber o amor dos criadores ao contar essa história — a dedicação e o desejo de fazer muito com tão pouco.

Se todos esses aspectos chamam sua atenção e você está disposto a relevar os eventuais problemas técnicos, Moroi é um prato cheio à sua espera. Ele pode não ser o melhor no que se propõe a fazer, mas é extremamente corajoso na história que se propõe a contar.

Prós

  • Narrativa envolvente e misteriosa;
  • Estética gótica marcante e imersiva;
  • Diálogos e diário bem escritos. 

Contras

  • Jogabilidade desengonçada e frustrante;
  • Bugs e problemas técnicos.

Moroi —  PC — Nota: 7.0

Revisão: Beatriz Castro
Análise feita com cópia digital cedida pela Good Shepherd Entertainment

Moroi 7.0 PC Moroi is a dark fable that puts all its weight behind narrative and atmosphere to captivate the player. While its gameplay is limited and plagued by technical issues, the strength of its story and its gothic world-building make for a memorable experience — especially for those looking for something different and willing to overlook its flaws.