Ainda acaba de bússola à procura do Bugio
(créditos: Expresso, Nuno Fox) "Não quero contribuir nesta fase para um ruído que acho que é desnecessário na altura em que estamos concentrados nas eleições legislativas" Pois bem, a frase acima transcrita foi dita pelo almirante Gouveia e Melo, ex-Chefe de Estado Maior da Armada, há pouco menos de dois meses. Consta de um despacho da LUSA e vem referida na notícia do Expresso, cujo link acima deixei. Na altura, o senhor almirante justificou a sua posição esclarecendo, sobre "uma eventual candidatura", que não queria tirar o foco das legislativas, e que reservava uma posição para "depois das eleições", acrescentando que nessa altura seria "mais claro do que sou agora, porque o meu papel neste momento é esperar pelas eleições legislativas". Ontem, o mesmíssimo almirante, qual D. Sebastião de dias soalheiros, resolveu anunciar a formalização da sua candidatura à Presidência da República no próximo dia 29 de Maio. E veio justificar a sua mudança de atitude e a oportunidade da intervenção com a sua vontade de "contribuir de forma muito decisiva para a estruturação da política de médio e longo prazo". Muito decisiva, diz o senhor almirante. Não sendo candidato a primeiro-ministro, e avisando que só anunciará a candidatura em 29 de Maio, o almirante acabou por não acrescentar rigorosamente nada ao que já se sabia do putativo candidato. Não se percebe, aliás, afinal não dizendo nada de útil, em que medida este anúncio, qual gato escondido com o lombo todo de fora a apanhar sol, contribui para a estruturação política de médio e longo prazo, a sua grande preocupação, embora se prepare para entrar no curto prazo em campanha, e não esteja prevista qualquer alteração dos mandatos presidenciais que possibilite, ao contrário do que sucedeu na China e na Rússia, que o senhor almirante depois de eleito transforme a sua passagem pelos aposentos do Palácio de Belém numa permanência de longo prazo, digamos, aí uns vinte ou trinta anos. O futuro candidato presidencial esclareceu ainda que a escolha deste momento para o anúncio se prenderia, igualmente, imagine-se, com o facto de não querer "influenciar em eleições que têm a ver com os partidos políticos", mas que "o tempo para o anúncio da (...) candidatura começa a ser curto, porque preciso de enviar convites para a cerimónia". Ora bem. O meu rico, mas efémero, convívio com as gentes da Marinha recordou-me o quão actual, verdadeira e genuína é esta última frase. Dir-se-ia talhada por um Boaventura Sousa Santos. Eu gostava de não me rir, nem de fazer comentários menos próprios sobre a organização (militar, está visto), a arrumação de ideias e a credibilidade do senhor almirante, muito menos em público. Não quero que ele fique ofendido. Mas depois de sumariamente, ou não tão sumariamente, visto que o acórdão tem 230 páginas, o futuro candidato ter sido acusado de atropelar leis e regulamentos, e olhado como incompetente pelo Supremo Tribunal Administrativo, e de cessar o seu mandato na Marinha deixando como herança, dois meses depois, para o seu sucessor, os dois únicos submarinos ao serviço do país inoperacionais, para logo de seguida assistirmos ao afundamento de um navio-escola sem que sequer saísse para o mar, ali bem juntinho ao cais do Alfeite, temo que o senhor almirante esteja a falhar a estratégia e o planeamento de curto prazo, o que, na sua situação, seria o mais premente. Estratégia e planeamento são os factores que nos dias de hoje mais dão nas vistas e enchem os jornais, d' [Error: Irreparable invalid markup ('A Bola ao Observador, o que nem sempre é bom para quem quer proteger a imagem. Os galões. E mantê-los enxutos. É evidente que os convites são importantes, e essa vertente de funcionário preocupado e manga-de-alpaca não será de desprezar para quem quer ser Presidente da República. O Américo estava sempre atento a detalhes. Mas é óbvio que assim, ainda que o invistam na função, não iremos lá. O senhor almirante poderia sempre começar a enviar os convites esta semana, pedindo sigilo aos destinatários, ou fazendo com que aqueles só começassem a chegar aos escolhidos após o dia 18 de Maio. Para não criar ruído antes do tempo. Chinfrim. Enfim, pelo que leio da suas declarações, o senhor almirante queria mesmo era ser Presidente da República com funções de primeiro-ministro. Por aí, a avaliar pelo passado recente, até nem estará mal visto. Pese embora algumas minudências constitucionais, que Jorge Miranda, Vital Moreira, Reis Novais e Bacelar Gouveia poderão sempre analisar enquanto os convites não chegam, seria bom que Gouveia e Melo, se é mesmo esse o seu objectivo de vida para a reforma, não desperdiçasse tiros, para o que deveria contratar alguém que o ajude rapidamente a afinar a mira, a arrumar a casa e, em especial, as ideias. Não é conveniente que Gouveia e Melo ande neste momento a atirar very ligths, estando o primeiro-ministro ainda a braços com a mudança da sede desse empecilho da Spinumviva depois de ter anunciado ao país que a sua mudança estava

(créditos: Expresso, Nuno Fox)
"Não quero contribuir nesta fase para um ruído que acho que é desnecessário na altura em que estamos concentrados nas eleições legislativas"
Pois bem, a frase acima transcrita foi dita pelo almirante Gouveia e Melo, ex-Chefe de Estado Maior da Armada, há pouco menos de dois meses. Consta de um despacho da LUSA e vem referida na notícia do Expresso, cujo link acima deixei.
Na altura, o senhor almirante justificou a sua posição esclarecendo, sobre "uma eventual candidatura", que não queria tirar o foco das legislativas, e que reservava uma posição para "depois das eleições", acrescentando que nessa altura seria "mais claro do que sou agora, porque o meu papel neste momento é esperar pelas eleições legislativas".
Ontem, o mesmíssimo almirante, qual D. Sebastião de dias soalheiros, resolveu anunciar a formalização da sua candidatura à Presidência da República no próximo dia 29 de Maio. E veio justificar a sua mudança de atitude e a oportunidade da intervenção com a sua vontade de "contribuir de forma muito decisiva para a estruturação da política de médio e longo prazo". Muito decisiva, diz o senhor almirante.
Não sendo candidato a primeiro-ministro, e avisando que só anunciará a candidatura em 29 de Maio, o almirante acabou por não acrescentar rigorosamente nada ao que já se sabia do putativo candidato.
Não se percebe, aliás, afinal não dizendo nada de útil, em que medida este anúncio, qual gato escondido com o lombo todo de fora a apanhar sol, contribui para a estruturação política de médio e longo prazo, a sua grande preocupação, embora se prepare para entrar no curto prazo em campanha, e não esteja prevista qualquer alteração dos mandatos presidenciais que possibilite, ao contrário do que sucedeu na China e na Rússia, que o senhor almirante depois de eleito transforme a sua passagem pelos aposentos do Palácio de Belém numa permanência de longo prazo, digamos, aí uns vinte ou trinta anos.
O futuro candidato presidencial esclareceu ainda que a escolha deste momento para o anúncio se prenderia, igualmente, imagine-se, com o facto de não querer "influenciar em eleições que têm a ver com os partidos políticos", mas que "o tempo para o anúncio da (...) candidatura começa a ser curto, porque preciso de enviar convites para a cerimónia". Ora bem.
O meu rico, mas efémero, convívio com as gentes da Marinha recordou-me o quão actual, verdadeira e genuína é esta última frase. Dir-se-ia talhada por um Boaventura Sousa Santos.
Eu gostava de não me rir, nem de fazer comentários menos próprios sobre a organização (militar, está visto), a arrumação de ideias e a credibilidade do senhor almirante, muito menos em público. Não quero que ele fique ofendido.
Mas depois de sumariamente, ou não tão sumariamente, visto que o acórdão tem 230 páginas, o futuro candidato ter sido acusado de atropelar leis e regulamentos, e olhado como incompetente pelo Supremo Tribunal Administrativo, e de cessar o seu mandato na Marinha deixando como herança, dois meses depois, para o seu sucessor, os dois únicos submarinos ao serviço do país inoperacionais, para logo de seguida assistirmos ao afundamento de um navio-escola sem que sequer saísse para o mar, ali bem juntinho ao cais do Alfeite, temo que o senhor almirante esteja a falhar a estratégia e o planeamento de curto prazo, o que, na sua situação, seria o mais premente.
Estratégia e planeamento são os factores que nos dias de hoje mais dão nas vistas e enchem os jornais, d'
(créditos: Expresso, Nuno Fox)
"Não quero contribuir nesta fase para um ruído que acho que é desnecessário na altura em que estamos concentrados nas eleições legislativas"
Pois bem, a frase acima transcrita foi dita pelo almirante Gouveia e Melo, ex-Chefe de Estado Maior da Armada, há pouco menos de dois meses. Consta de um despacho da LUSA e vem referida na notícia do Expresso, cujo link acima deixei.
Na altura, o senhor almirante justificou a sua posição esclarecendo, sobre "uma eventual candidatura", que não queria tirar o foco das legislativas, e que reservava uma posição para "depois das eleições", acrescentando que nessa altura seria "mais claro do que sou agora, porque o meu papel neste momento é esperar pelas eleições legislativas".
Ontem, o mesmíssimo almirante, qual D. Sebastião de dias soalheiros, resolveu anunciar a formalização da sua candidatura à Presidência da República no próximo dia 29 de Maio. E veio justificar a sua mudança de atitude e a oportunidade da intervenção com a sua vontade de "contribuir de forma muito decisiva para a estruturação da política de médio e longo prazo". Muito decisiva, diz o senhor almirante.
Não sendo candidato a primeiro-ministro, e avisando que só anunciará a candidatura em 29 de Maio, o almirante acabou por não acrescentar rigorosamente nada ao que já se sabia do putativo candidato.
Não se percebe, aliás, afinal não dizendo nada de útil, em que medida este anúncio, qual gato escondido com o lombo todo de fora a apanhar sol, contribui para a estruturação política de médio e longo prazo, a sua grande preocupação, embora se prepare para entrar no curto prazo em campanha, e não esteja prevista qualquer alteração dos mandatos presidenciais que possibilite, ao contrário do que sucedeu na China e na Rússia, que o senhor almirante depois de eleito transforme a sua passagem pelos aposentos do Palácio de Belém numa permanência de longo prazo, digamos, aí uns vinte ou trinta anos.
O futuro candidato presidencial esclareceu ainda que a escolha deste momento para o anúncio se prenderia, igualmente, imagine-se, com o facto de não querer "influenciar em eleições que têm a ver com os partidos políticos", mas que "o tempo para o anúncio da (...) candidatura começa a ser curto, porque preciso de enviar convites para a cerimónia". Ora bem.
O meu rico, mas efémero, convívio com as gentes da Marinha recordou-me o quão actual, verdadeira e genuína é esta última frase. Dir-se-ia talhada por um Boaventura Sousa Santos.
Eu gostava de não me rir, nem de fazer comentários menos próprios sobre a organização (militar, está visto), a arrumação de ideias e a credibilidade do senhor almirante, muito menos em público. Não quero que ele fique ofendido.
Mas depois de sumariamente, ou não tão sumariamente, visto que o acórdão tem 230 páginas, o futuro candidato ter sido acusado de atropelar leis e regulamentos, e olhado como incompetente pelo Supremo Tribunal Administrativo, e de cessar o seu mandato na Marinha deixando como herança, dois meses depois, para o seu sucessor, os dois únicos submarinos ao serviço do país inoperacionais, para logo de seguida assistirmos ao afundamento de um navio-escola sem que sequer saísse para o mar, ali bem juntinho ao cais do Alfeite, temo que o senhor almirante esteja a falhar a estratégia e o planeamento de curto prazo, o que, na sua situação, seria o mais premente.
Estratégia e planeamento são os factores que nos dias de hoje mais dão nas vistas e enchem os jornais, d' A Bola ao Observador, o que nem sempre é bom para quem quer proteger a imagem. Os galões. E mantê-los enxutos.
É evidente que os convites são importantes, e essa vertente de funcionário preocupado e manga-de-alpaca não será de desprezar para quem quer ser Presidente da República. O Américo estava sempre atento a detalhes. Mas é óbvio que assim, ainda que o invistam na função, não iremos lá. O senhor almirante poderia sempre começar a enviar os convites esta semana, pedindo sigilo aos destinatários, ou fazendo com que aqueles só começassem a chegar aos escolhidos após o dia 18 de Maio. Para não criar ruído antes do tempo. Chinfrim.
Enfim, pelo que leio da suas declarações, o senhor almirante queria mesmo era ser Presidente da República com funções de primeiro-ministro.
Por aí, a avaliar pelo passado recente, até nem estará mal visto.
Pese embora algumas minudências constitucionais, que Jorge Miranda, Vital Moreira, Reis Novais e Bacelar Gouveia poderão sempre analisar enquanto os convites não chegam, seria bom que Gouveia e Melo, se é mesmo esse o seu objectivo de vida para a reforma, não desperdiçasse tiros, para o que deveria contratar alguém que o ajude rapidamente a afinar a mira, a arrumar a casa e, em especial, as ideias.
Não é conveniente que Gouveia e Melo ande neste momento a atirar very ligths, estando o primeiro-ministro ainda a braços com a mudança da sede desse empecilho da Spinumviva depois de ter anunciado ao país que a sua mudança estava concluída há três meses.
Estou convencido, embora possa estar enganado, que aquele inolvidável passeio do senhor almirante no Ártico não lhe fez nada bem, e a ida ao Bar Cockpit com o ministro da Defesa Nacional, Nuno Melo, só contribuiu para o agravamento da situação.
De qualquer modo, até os convites começarem a chegar ainda há tempo. Pelo sim pelo não, no seu lugar, era capaz de enviá-los com umas bóias e uns coletes salva-vidas. Com tanta água a entrar pela proa é mais do que natural que as coisas comecem a adornar. E se houver que ir ao banho convém estar preparado. Ele e a sua tripulação, que nestas coisas um tipo tem de se aviar em terra.
O Professor Marcelo gosta de nadar no Guincho, no Tejo, e noutros mares nunca dantes navegados, embora não conste que tenha vocação de nadador-salvador. Bem pelo contrário. E não me parece que se atrevesse a ir buscar um almirante em apuros em resultado de um naufrágio pré-eleitoral. Verdade que não tem andado bem em muitas situações, mas para ficar lelé-da-cuca ainda lhe faltam uns meses.
Ah!, e só mais uma coisa: no seu lugar, enquanto estiver a planear, a preocupar-se com o futuro, também evitaria almoçaradas com o Dr. Isaltino Morais. O senhor almirante que não vá na conversa dele. O tipo é melífluo, perigoso, e sabe disfarçar. Se Portugal fosse o Vaticano iria a Papa. E de avental.
Aquilo começa sempre com um favaios, petiscando uns queijinhos e uns salpicões lá da terra dele, para ganhar algum lastro e à-vontade. Prossegue com provas de vinhos brancos correntes, trincando umas morcelas e uns salpicões, antes de chegar o arroz de lavagante, começarem as anedotas, e vai por ali fora até ao final da tarde atrás de uma posta mirandesa, com os risinhos das empregadas, provando-se toda a gama de topo dos Douro Boys, antes de começarem a chegar os abades de priscos, as barrigas de freira, as trouxas e o pudim de Vinho do Porto.
Dos almoços com o Dr. Isaltino nunca se sabe que programa de campanha, e de governo – que ele é como aqueles pedreiros que gostam de andar com as mãos na massa e de fazer sempre a obra toda –, vai sair dali. Em especial se depois se lembrar de acender um charuto e lhe quiser oferecer um Macallan de 18 anos antes de ir para casa.
Ninguém gostaria de ver um almirante de bússola na mão à procura do Bugio. E sem saber da lista e dos convites para a posse. Que diria o Dr. Marques Mendes?
Pense nisso, homem. Cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém. Temo é que já vá tarde. E com demasiada água na casa das máquinas.