Adeus, crianças TikTok? O que aconteceu à primeira cidade que tentou proibir smartphones a menores de 14 anos
Há um ano, os diretores de escolas primárias em St Albans, em Inglaterra, lançaram uma campanha pedindo aos pais que evitassem dar smartphones aos filhos que tivessem menos de 14 anos. Estes são os resultados.


Há um ano, os diretores de escolas primárias em St Albans, em Inglaterra, lançaram uma campanha pedindo aos pais que evitassem dar smartphones aos filhos que tivessem menos de 14 anos. A proposta, liderada por Matthew Tavender e Justine Elbourne-Cload, diretores da escola Cunningham Hill, alertava para os efeitos nocivos dos dispositivos no desenvolvimento cerebral infantil, segundo relata o jornal The Guardian. A carta aberta enviada aos pais gerou atenção nacional e internacional, tornando St Albans um símbolo de resistência ao uso precoce da tecnologia pelas crianças.
Apesar de a cidade ainda estar longe de se tornar livre de smartphones para menores de 14 anos, os resultados já são visíveis. Em apenas um ano, a percentagem de alunos do sexto ano da Cunningham Hill com smartphones caiu de 75% para 12%. O movimento agora procura expandir essa mudança o ensino secundário. “Queremos que ao se ver uma criança com smartphone se sinta o mesmo choque que ver uma criança com cigarro”, disse Tavender.
O apoio ao movimento cresceu com a publicação do livro The Anxious Generation, do psicólogo Jonathan Haidt, que relaciona o uso precoce de smartphones a um aumento significativo de depressão e ansiedade entre jovens. Tavender relata casos de partilha de imagens inapropriadas, dificuldades de concentração e problemas de autoestima entre os alunos, muitas vezes ligados ao uso excessivo dos ecrãs. “É o cérebro TikTok”, afirma, em referência à atenção fragmentada causada por apps com recompensas instantâneas.
Em reuniões com pais, Tavender partilhou inclusive a sua própria dificuldade com o uso excessivo de ecrãs. “Estou viciado no meu telemóvel”, admite. Um dos seus argumentos mais impactantes em reuniões com pais é: “Quando estiver pronto para que seu filho deixe de ser criança, dê-lhe um smartphone.” A resposta tem sido positiva: muitos pais juntaram-se ao movimento, comprometendo-se a adiar o uso dos dispositivos pelos filhos.
A campanha ganhou apoio de figuras como Will Ashton, especialista em marketing digital, e Matt Adams, editor do St Albans Times, que ajudou a divulgar a causa. O movimento expandiu-se para outras regiões do Reino Unido: escolas em Southwark, Eton, Barnet e até 103 escolas primárias adotaram restrições semelhantes. Em algumas instituições, como a City of London Academy, os alunos agora devem manter seus smartphones em estojos lacrados durante todo o dia – e enfrentam punições severas se desrespeitarem as regras.
Apesar de alguns protestos, inclusive de pais, a adesão ao movimento é ampla. Um ano depois, a decisão tem dado frutos, sendo que, para estes, trata-se de recuperar a infância das crianças com menos notificações e mais tempo longe dos ecrãs.