Como lidar com o luto no Dia das Mães? Psicóloga explica

Enquanto muitos celebram, outras enfrentam a dor da ausência — de mães, filhos ou da maternidade que não se concretizou

Mai 10, 2025 - 14:33
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Como lidar com o luto no Dia das Mães? Psicóloga explica

Ana Luisa Bibini perdeu duas filhas: Natália faleceu logo após o nascimento e Marina, aos vinte anos. Apesar de muito tempo ter se passado e Ana Luisa ter conseguido atravessar os piores momentos, o Dia das Mães ainda é uma data delicada. “Perder um filho é uma dor que nunca passa, você sempre tem uma lembrança – às vezes por alguma situação alegre que seu filho também ficaria feliz, e outras alguma memória ruim chega à mente”, comenta. 

O luto pela mãe que partiu, pelo filho que não chegou ou se foi cedo demais, ou mesmo pelo sonho da maternidade que não se realizou, pode tornar esse domingo um dos mais difíceis do ano. Enquanto a sociedade celebra, há quem precise encontrar espaço e coragem para lidar com a ausência.

“Quando alguém parte, há quem sinta uma raiva irracional, mas o sentimento de cada um é único. Em comemorações, tudo pode retornar e se tornar tão intenso como foi no primeiro dia”, explica a psicóloga Magda Tartarotti. Além disso, a celebração carrega uma carga emocional muito forte, pois exalta um ideal de felicidade, vínculo e completude. Em vez de acolher todas as experiências, a homenagem costuma reforçar o que falta, e não o que permanece.

“No meu olhar, não existe um sofrimento maior do que a perda de um filho. Parece que o mundo se esvazia e a vida parece um castigo. A mãe não deixa de ser mãe e o núcleo familiar desmorona porque é difícil seguir bem”, diz a especialista. “A pessoa que fica costuma não querer se divertir, já que fazer isso pode parecer uma traição com quem partiu. Há quem diga que não pode estar feliz se perdeu alguém que ama, então pode surgir também o sentimento de culpa.”

Mulher negra sorrindo com melancolia junto ao mar, sugerindo emoções de resiliência
Getty Images/Getty Images

Segundo ela, os pais que perderam filhos enfrentam diariamente o desafio de juntar os cacos e seguir com suas responsabilidades, seja com outras crianças ou com a rotina cotidiana. Já os filhos que perderam pais ficam sem uma referência daqueles que testemunharam seu crescimento e desenvolvimento. Por isso, é fundamental validar todas essas emoções, permitindo que cada estágio do luto seja reconhecido e acolhido.

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Além da perda pela morte, há outros lutos menos visíveis, mas igualmente potentes: a mulher que sofreu abortos espontâneos, a que passou por tentativas frustradas de engravidar, ou mesmo quem, por diferentes motivos, não se tornou mãe e sente a ausência dessa experiência.

“É um sofrimento de perda daquilo que não tive, de não poder desenvolver o amor e o cuidado. Geralmente ele é invisível, escondido e solitário”, comenta Magda.

Diante desse cenário, é importante que cada mulher se sinta autorizada a viver o dia à sua maneira. Algumas vão preferir se recolher, outras vão buscar companhia, criar rituais de memória ou simplesmente tentar passar o tempo de forma leve. E, para as pessoas próximas, o melhor apoio é a escuta empática, sem cobranças nem frases prontas.

“Nesse momento, fico mais reservada. Posso fazer um comentário sobre a Marina ou a Natália, mas fico em silêncio. No tradicional almoço, gosto de reunir a família toda e meu filho, Rafael. É o que me faz bem. Ainda assim, me permito não sorrir o tempo todo”, relata Ana Luisa.

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Para Magda, não existe forma certa ou errada de passar pelo Dia das Mães — o importante é respeitar os próprios limites. E, para as pessoas próximas, o melhor caminho é evitar cobranças e frases prontas.

“É muito difícil ter receitas ou estratégias para lidar com isso. Mas é preciso lembrar que quem partiu certamente gostaria que você usufruísse da vida. Lembre-se de que se a dor complica seu viver, é preciso buscar ajuda em psicoterapia ou grupos de apoio”, finaliza.

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