Warren Buffett se aposenta. No auge

Depois de seis décadas em que transformou o mundo dos investimentos e surrou o S&P500 com classe e consistência, Warren Buffett anunciou que vai deixar o cargo de CEO da Berkshire Hathaway.

Buffett disse que o comando da empresa passará a Greg Abel – um executivo do setor de energia que está na Berkshire desde 2000 e já era tido como seu provável sucessor.

“Eu ainda estarei por perto e, em alguns casos, até poderei ser útil,” Buffett disse com seu habitual tom autodepreciativo. “Mas a palavra final será de Greg.”

O investidor afirmou ainda que só seus dois filhos, Howard e Susan, que também são membros do conselho da Berkshire, sabiam da decisão.

Os demais executivos e conselheiros receberam a notícia junto com os 40 mil acionistas da empresa reunidos em Omaha – e as centenas de milhares de pessoas que assistiram à conferência pelo Youtube.

Não há motivos para duvidar que Abel seja um executivo e investidor altamente qualificado. Mas ao longo das décadas, Buffett se tornou mais do que isso para uma legião de investidores.

“Ele sempre foi uma inspiração em investimentos, mas principalmente no lado pessoal de ética, estudo e elevadíssimo caráter,” disse Florian Bartunek, o fundador da Constellation. “Acho que ele toca até mais como pessoa do que como investidor.”

Até eu mesma assistir a uma conferência da Berkshire em 2009 – presencialmente, porque era a única maneira naquela época – nunca imaginei que dezenas de milhares de pessoas reunidas num estádio pudessem fazer tanto silêncio para ouvir durante horas o que Buffett e seu sócio Charlie Munger tinham a dizer sobre assuntos tão diversos quanto value investing, gerenciamento de empresas e psicologia financeira.

Naquele ano, Buffett teve de explicar por que havia perdido dinheiro na crise de 2008. Em seguida, porém, ganhou muito aproveitando as oportunidades que surgiram com a crise.

Ao longo dos anos, ele e Munger se tornaram expoentes da estratégia de não olhar apenas preço, mas buscar ótimos negócios a preços razoáveis.

Abel, que tem 62 anos e nasceu no Canadá, entrou na Berkshire quando a empresa comprou a companhia de energia MidAmerican Energy.

Ao longo dos anos, ele passou a comandar a área de energia da Berkshire e, depois, todos os negócios fora do setor de seguros.

Seus múltiplos desafios incluem gerenciar um portfólio de cerca de 200 empresas – de segmentos variados na indústria, no varejo e no setor financeiro – um incrível caixa de US$ 350 bilhões e a expectativa de investidores em relação a uma ação que chegou ao recorde histórico na última sexta.

Buffett, afinal, decidiu se aposentar no auge.

Após se valorizar 19% neste ano – enquanto o S&P 500 caiu 3% – a Berkshire vale em Bolsa US$ 1,2 trilhão.

Mas, para entender o tamanho do problema de Abel talvez seja melhor olhar o histórico.

Desde 1965, quando Buffett comprou o que era a empresa têxtil Berkshire Hathaway e a transformou em seu conglomerado de investimentos, a ação subiu 19,9% ao ano, em média – quase o dobro do S&P.

Acumulando, isso equivale a um retorno de 5.502.284%.

Sobre a aposentadoria, Buffett já disse: “Se você não encontrar uma maneira de ganhar dinheiro enquanto dorme, trabalhará até morrer.”

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