Warren Buffett critica Donald Trump na reunião de acionistas da Berkshire Hathaway: ‘Tarifas não deveriam ser armas’
Warren Buffett criticou Donald Trump, anunciou que pretende deixar o cargo de CEO da Berkshire e apontou sucessor durante encontro entre investidores da holding. O post Warren Buffett critica Donald Trump na reunião de acionistas da Berkshire Hathaway: ‘Tarifas não deveriam ser armas’ apareceu primeiro em Empiricus.

No último final de semana milhares de pessoas se reuniram em Omaha, no estado do Nebraska, para participar da reunião de acionistas da Berkshire Hathaway (BERK34) e ter a oportunidade de presenciar um dos maiores investidores de todos os tempos destilar seus conhecimentos a respeito dos mais diversos temas — se engana quem acha que Warren Buffett trata apenas de assuntos como investimentos e economia nas suas interações com o público.
Como foi a Berkshire Hathaway no 1T25?
Mas antes disso, o megainvestidor aproveita para reportar os resultados da sua holding de investimentos. Os números referentes ao primeiro trimestre vieram abaixo das expectativas dos analistas, mas entendo que isso acabou ficando em segundo plano com o anúncio de que ele se aposentaria do cargo de CEO, abrindo caminho para que a companhia seja comandada por Greg Abel.
Nos três meses encerrados em março a companhia apresentou um resultado operacional de US$9,641 bilhões, valor 14,1% menor do que o reportado no mesmo período do ano anterior.
O grande detrator no período foi a parte de subscrição de Seguros, com lucro operacional de US$1,336 bilhão (-48,6% vs. 1T24), por conta das perdas de mais de US$1 bilhão que as empresas do segmento tiveram que reconhecer por conta dos incêndios no sul da Califórnia no começo do ano.
Por outro lado, a BH Energy reportou um resultado de US$1,097 bilhão, valor 53% superior ao divulgado no mesmo trimestre de 2024, devido aos melhores números dos negócios de Utilities e de Energia.
Considerando as variações do book de Ações — com a desvalorização dos ativos de risco no 1T25, a companhia reconheceu perdas não -realizadas de US$5,038 bilhões, ante um ganho de US$1,480 bilhão no 1T24 —, o resultado da Berkshire foi de US$4,603 bilhões, valor 63,8% menor comparado com um ano atrás.
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Resultado operacional da Berkshire é o que importa para Buffett
Contudo, como Buffett sempre gosta de lembrar, o acionista deve se preocupar com o resultado operacional da holding, uma vez que a variação dos investimentos é devido a uma obrigatoriedade do reconhecimento a valor de mercado por questões contábeis.
Como não poderia ser diferente, a Berkshire também pontuou no seu relatório que os resultados futuros poderiam ser impactados pelos eventos macroeconômicos e geopolíticos que estão acontecendo no mundo. E as tarifas são um desses pontos de preocupação para as companhias do grupo.
De acordo com a holding, o cenário se tornou mais incerto dado os possíveis cenários para esse eventos, sendo a mesma incapaz de mensurar quais seriam os reais impactos nos seus negócios — seja pelo aumento nos custos dos produtos, na cadeia de suprimentos, eficiência e demanda dos consumidores finais —, independentemente do seu ramo de atuação.
Sem falar no book de Ações. Afinal de contas, como Buffett também sempre gosta de lembrar os investidores, esses títulos nada mais são do que pedaços de empresas, o que também impactaria o resultado da BERK34.
Buffet critica as ações Trump sobre as tarifas
Na seção de perguntas e respostas, aliás, o Oráculo de Omaha criticou a posição do presidente Donald Trump no quesito tarifas (ainda que não o citado nominalmente), afirmando ser um grande erro implementar tarifas punitivas nos outros países do mundo.
Nas palavras do megainvestidor, “tarifas não deveriam ser armas”, e que “se o mundo se torna mais próspero, não necessariamente seria às custas dos Estados Unidos, e sim juntamente com eles”.
Outra questão que tem incomodado Buffett nos últimos anos é a situação fiscal dos EUA. Com um déficit “insustentável já há algum tempo”, a dívida americana poderia ser incontrolável em um determinado momento.
Ainda que tenha deixado claro que esse problema não é uma exclusividade da Terra do Tio Sam, o fato é que esse risco pode criar dificuldades para o dólar, abrindo a possibilidade da holding possuir ativos em diversas outras moedas — recentemente, o megainvestidor aumentou sua posição em empresas japonesas (financiadas com iene japonês), e afirmou que a Berkshire pretende manter essa posição por muito tempo.
Já em relação à volatilidade dos mercados por conta das questões tarifárias, Buffett afirmou que não se trata de nada especial, tendo já vivenciado momentos parecidos (ou até mesmo piores) ao longo dos seus anos no comando da companhia.
O caixa volumoso da Berkshire
Fato é que o Oráculo tem se mantido na defensiva nos últimos trimestres, reduzindo a sua posição em ações por dez trimestres consecutivos e fazendo com que a Berkshire acumulasse quase US$350 bilhões em caixa e equivalente ao final de março (quase um terço do total de ativos da companhia, comparado com uma média próxima dos 10% dos últimos vinte e cinco anos).
Durante a reunião, Buffett afirmou que a empresa esteve perto de utilizar cerca de US$10 bilhões no passado recente. Ainda que o valor seja pequeno em relação ao todo — o megainvestidor falou que gastaria US$100 bilhões, se necessário—, o importante é que a oportunidade que se apresenta faça sentido e demonstre ser atrativa.
Mas é sempre bom lembrar que, dado o tamanho da sua posição em Treasuries, a Berkshire pode ganhar algo superior a US$10 bilhões investindo nesses títulos sem grandes preocupações. Então as oportunidades devem ser realmente interessantes para que a companhia esteja disposta a assumir mais riscos.
A grande notícia: um novo comando na holding
Só que Buffett deixou para o final da reunião a notícia mais importante do dia: de que sugeriria aos conselheiros da Berkshire a sua saída do posto de CEO, alçando Greg Abel ao cargo, permanecendo como Presidente do Conselho da holding. Com os presentes pegos de surpresa (Abel, inclusive), restou aos mesmos ovacionar o Oráculo com uma salva de palmas.
Ainda que seja um fator de preocupação da tese de investimentos nos últimos anos, a verdade é que essa troca já vem sendo debatida pelo menos desde 2021 — quando Charlie Munger já havia deixado escapar que Abel era o principal candidato no processo sucessório.
Responsável pelas operações das empresas da Berkshire (excluindo a parte de Seguros), Abel, canadense de 62 anos, está na companhia desde 1999 e vem assumindo cada vez mais protagonismo nos últimos anos (como o investimento nas holdings japonesas).
É claro que sempre paira a dúvida de como será a vida de uma companhia que está inteiramente ligada aos seus principais executivos.
Além disso, o retorno obtido durante a gestão Buffett será impossível de ser repetido por qualquer um que assumisse o posto ocupado pelo megainvestidor — afinal de contas, foram mais de 5.000.000% de ganhos desde 1965, contra pouco menos de 40.000% do S&P 500 (incluindo dividendos).
O efeito da “Berkshire pós-Buffett” nas ações
Essa preocupação da “Berkshire pós-Buffett” acabou pesando na ação, que caiu mais de 5% na segunda (5). Contudo, não acho que seja para tanto.
Primeiro porque, mesmo com a queda, o papel ainda apresenta uma valorização de mais de 13%, ante um recuo de quase 5% no S&P 500.
Segundo que é difícil enxergar uma mudança drástica no curto e médio prazo na atuação da companhia. Com Buffett ainda no Conselho, mesmo que as oportunidades para alocação apareçam para a Berkshire, o Oráculo ainda terá participação nas decisões.
Além disso, Abel reforçou que a cultura da Berkshire é algo que será mantida no longo prazo, mesmo quando Buffett já não estiver entre nós.
Um executivo com mais de 25 anos de casa, que chegou ao posto em que muitos gostariam de estar, não deve ser alguém com princípios e valores muito diferentes do seu líder.
Um ponto que alguns analistas apontam é que Abel, por ter sido responsável por diversas empresas do grupo, teve que gastar muito tempo conhecendo essas operações. E muitos entendem que ele tem um conhecimento até superior ao de Buffett nesse quesito — o que pode gerar mais oportunidades de alocação de capital.
Um futuro promissor para Berkshire
Considerando o valor de mercado da companhia atualmente, descontando o montante que a mesma tem em caixa líquido e no seu book de Ações e assumindo o resultado do 1T25 anualizando, estamos falando que a Berkshire Hathaway está negociando por menos de 20 vezes seus lucros operacionais.
Valor interessante, na minha opinião, mesmo se Buffett estiver “apenas” no Conselho da companhia…
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