Unida na crítica ao Governo, esquerda apela ao povo que saia à rua para celebrar o 25 de Abril

São várias as vozes a criticar a decisão do Governo de cancelar "toda a agenda festiva" do dia 25 de Abril por entender que o luto nacional deve levar a uma "reserva" nas comemorações.

Abr 24, 2025 - 13:46
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Unida na crítica ao Governo, esquerda apela ao povo que saia à rua para celebrar o 25 de Abril

“Um erro grosseiro de avaliação do sentimento dos portugueses”; “absolutamente chocante” e “celebrar a liberdade no dia certo respeitamos quem fez bem ao mundo”. Foi assim que Pedro Nuno Santos, secretário-geral do PS, e Rui Tavares, porta-voz do Livre, e Mariana Mortágua, coordenadora do Bloco de Esquerda, comentaram a decisão do Governo de cancelar a agenda festiva do 25 de Abril por causa do luto nacional pela morte do Papa Francisco.

Para o líder socialista, o Executivo da coligação que junta PSD e CDS “desvalorizou aquilo que é uma data muito importante para os portugueses e não percebeu que comemorar o 25 de Abril não é desrespeitar a memória do Papa Francisco. O Papa Francisco era um amante da liberdade e da igualdade, os valores que celebramos em Abril”, disse Pedro Nuno Santos, deixando um apelo:  “A melhor resposta que se pode dar a um Governo que desvaloriza o 25 de Abril é o povo português participar, de forma entusiasmada e massiva nas celebrações, nomeadamente a descer a Avenida da Liberdade, em Lisboa, na sexta-feira à tarde”.

Na mesma linha, a ainda líder da bancada parlamentar e candidata à Câmara de Lisboa, Alexandra Leitão, classificou como “inaceitável” a decisão do Governo de se demitir “simbolicamente da celebração da democracia”.

“Merece a crítica veemente de todos os democratas — e, certamente, teria merecido a crítica do próprio Papa Francisco. Celebrar o 25 de Abril é celebrar os valores que devolveram a democracia, a liberdade, a igualdade e a esperança a Portugal. É celebrar a paz, a solidariedade e a tolerância”, notou a candidata autárquica e ex-ministra, deixando uma reflexão: “Como disse Francisco, a democracia é ‘resolver juntos os problemas de todos’. Que maior homenagem lhe poderíamos prestar do que celebrar justamente isso?”

Para o porta-voz do Livre, a decisão do Governo de  adiar as celebrações relativas ao 25 de Abril anunciada pelo ministro da Presidência no briefing de Conselho de Ministros revela “uma singular falta de respeito pela democracia e pelo 25 de Abril”, sobretudo no ano em que se assinalam os 50 anos das primeiras eleições livres em Portugal.

“Agora, temos um Governo que acha que deve autolimitar-se na comemoração daquilo que é a sua razão de ser. É absolutamente chocante, é deplorável, é lamentável”, assinalou Tavares, juntando um outro argumento: adiar as celebrações da Revolução dos Cravos desrespeita o próprio Papa Francisco que, recordou o historiador, “foi cidadão de um país que viveu em ditadura, (…) alguém que saberia do papel pioneiro do 25 de Abril”. “Se imaginasse que algum governo iria deixar de celebrar a democracia sem a qual o governo não tem legitimidade, usando o Papa Francisco como desculpa, acho que ficaria muito triste”, rematou, em declarações à agência Lusa.

Mariana Mortágua, coordenadora do Bloco de Esquerda, juntou-se nas críticas à decisão do Governo liderado por Luís Montenegro, assinalando nas redes sociais que é no dia 25, e não noutro, que se assinala os 51 anos da Revolução e os 50 anos do voto universal. “Não atrasamos o fim da ditadura e não adiamos o primeiro dia da democracia. A celebrar a liberdade no dia certo respeitamos quem fez bem ao mundo”, escreveu a bloquista, deixando também um apelo: “Pela liberdade toda, sai à rua no 25 de Abril.”

Fora do espetro partidário, Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de Abril, também se insurgiu contra a decisão da Aliança Democrática (AD). “Eu respeito muito o Papa Francisco. Considero que era um homem de Abril. Cancelar uma festa [que é] a favor da Liberdade, dos direitos humanos, é ofender o Papa Francisco, não é homenagear”, afirmou o capitão de Abril em declarações à Antena 1. 

O Conselho de Ministros aprovou na quarta-feira o decreto do luto nacional de três dias pela morte do Papa Francisco, na sequência do qual o Governo decidiu cancelar toda a “agenda festiva” e adiar as celebrações relativas ao 25 de Abril, alegando que o luto nacional implica “reserva” nas comemorações.